Saúde

Número de internações de casos graves de Aids cresce no estado de Alagoas

Diagnósticos têm interferência na pandemia por sintomas serem confundidos com Covid-19

Por Texto: Ana Paula Omena com assessoria com Tribuna Independente 25/12/2021 08h33
Número de internações de casos graves de Aids cresce no estado de Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria

Depois de mais de 30 anos desde o primeiro caso relatado no Brasil, a Aids ainda é uma doença grave, sem cura, controlada com medicamentos que trazem muitos efeitos colaterais aos portadores. No início dos anos de 1980, a doença assustou a população mundial ao infectar milhões de pessoas e ver muitas delas perderem a vida, sendo classificada como epidemia mundial.

Nos últimos meses, profissionais do Hospital Escola Dr. Helvio Auto (HEHA), unidade da Uncisal (Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas), localizado no Trapiche da Barra, em Maceió, estão identificando a chegada de pacientes com Aids graves às internações, o que pode ter se agravado após o pico da pandemia de Covid-19, uma vez que muitas pessoas procuraram os serviços básicos de saúde com sintomas que podem ser facilmente confundidos com Covid-19, mas não foram corretamente diagnosticados como HIV/Aids.

Informações estatísticas do hospital, que é referência no tratamento da doença no estado, mostram que o número de notificações por HIV/Aids reduziu de 2019 até novembro passado. Foram 340 em 2019, 317 em 2020 e de janeiro a novembro deste ano 303, que dependendo da gravidade, são encaminhados para tratamento ambulatorial ou internação.

“Pacientes estão chegando ao HEHA com diagnóstico recente e já com sintomas graves de Aids, não só com a infecção do HIV, mas com a Aids já instalada. Muita gente não procurou os serviços de saúde para realizar o teste durante a pandemia”, ressaltou Lygia Antas, coordenadora do ambulatório de HIV/Aids do Hospital Helvio Auto.

“Os que procuraram apresentavam fraqueza, dores no corpo, tosse, febre e tudo isso pode ser confundido com sintomas da Covid-19, o que dificultou o diagnóstico, uma vez que a pandemia alterou a triagem de rotina para o HIV nos serviços básicos de saúde”, explicou.

Além do tratamento ambulatorial, no HEHA é realizada a Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP) para quem teve contato direto com o vírus ou passou por alguma situação de risco.

Notificação de novas ocorrências acontece diariamente no Estado

Em Alagoas, a doença não está controlada e os casos seguem crescendo ano após ano. “Praticamente, temos novas notificações todos os dias no Hospital Escola Dr. Helvio Auto (HEHA), e o que percebemos é que tem muita gente, que não sabia que estava infectada e acaba descobrindo já com a doença manifestada ou pelas testagens rápidas no serviço de saúde pública. mas infelizmente alguns com a enfermidade em estágio avançado”, destacou o infectologista Fernando Maia.

De acordo com o médico, embora não haja cura para a doença Aids, é possível controlar pelo tratamento com remédios, e que este paciente terá uma expectativa de vida igual a qualquer pessoa sem o problema. “Há pessoas que têm o vírus, mas com o remédio consegue controlar ao ponto de não evoluir para a Aids. O medicamento é fornecido pelo Ministério da Saúde e não falta, é bastante efetivo se tomado corretamente”, frisou.

Sem transmissão

O infectologista Fernando Maia reforçou que inclusive pessoas que têm o vírus e que estão tomando remédio e estão com carga viral indetectável não transmitem a doença. “Então se tem um parceiro sexual fixo, por exemplo, pode ter relação sexual sem preservativo, porque não a transmissão da doença, assim como um uma grávida que descobre que tem HIV e toma remédio, chegando na hora do parto com carga viral indetectável, não transmite a doença para criança, o risco é menos de 1% se tomar o remédio direitinho” explicou.

[caption id="attachment_488636" align="aligncenter" width="800"] Hospital Helvio Auto oferece ações educativas e orientações pré e pós-testes para detectar a Aids (Foto: Divulgação)[/caption]

Ele destacou que o tratamento é altamente efetivo, porém não cura a doença, “controla, melhora, mas não cura; consegue controlar bem a doença e a pessoa tem uma vida normal”, revelou.

Muitas pessoas perderam o medo da doença

O infectologista observou que por conta do sucesso do tratamento, a doença saiu da mídia e ao que parece não existe mais e muitas pessoas perderam medo.

Desprotegidos

“Daí passaram a se arriscar mais, então tem pessoas que estão tendo mais relação sexual desprotegida, achando que é só tomar um remedinho depois e tá tudo bem em não é bem assim. O importante é que as pessoas continuem a se cuidar, continuem usando preservativo, reduza o número de parceiros porque a doença continua acontecendo e nenhum desses métodos é infalível”, salientou.

Ressaltou também que há situações em que o tratamento pode não funcionar adequadamente, por isso afirma sobre a importância de não correr riscos desnecessários, sendo fundamental se cuidar, reduzir o número de parceiros sexuais, usar preservativo nas relações sexuais com pessoas desconhecidas haja vista não saber se estão contaminadas ou não.

“Na relação sexual com pessoas com quem você não sabe se estão contaminadas ou não é importantíssimo usar preservativo, não apenas por causa de HIV, mas por causa de várias outras doenças que podem ser transmitidas nesse contexto simples, por exemplo, a sífilis que casos muito alto na população, assim como pode haver transmissão de gonorreia, cancro mole, hepatites A, B e C, enfim tem várias outras doenças que também são transmitidas por relação sexual, não é só o HIV”, explicou.

Testes são disponibilizados à população para detectar o vírus HIV

Diante do atual quadro, para alertar a população, o Hospital Escola Dr. Helvio Auto (HEHA), unidade da Uncisal, localizado no Trapiche da Barra, em Maceió, passou a oferecer testes abertos à população para detectar o vírus HIV, além de ações educativas e orientações pré e pós-testes. A iniciativa faz parte das ações do Dezembro Vermelho, mês dedicado à luta contra a Aids.

No Dia Mundial de Luta Contra a Aids, comemorado no dia 1º de dezembro, a equipe do Hospital Helvio Auto distribuiu laços vermelhos da solidariedade e preservativos (masculinos e femininos) a usuários e servidores, além de prestação de informações, distribuição de panfletos educativos e orientações sobre uso correto do preservativo e maneiras de evitar o contágio.

[caption id="attachment_488635" align="aligncenter" width="800"] Laço vermelho da solidariedade é símbolo da luta contra preconceito (Imagem: Divulgação)[/caption]

Como participar da testagem - Para realizar os testes, o cidadão deve trazer um documento de identificação, cartão do SUS e comprovante de residência. A equipe do HEHA está preparada para fazer as orientações pré e pós-testes e efetuar o procedimento.

Testes

Os resultados dos testes rápidos saem em torno de 30 minutos. Após a testagem, o cidadão será encaminhado para sala de espera para acolhimento e aconselhamento individual com a equipe de Psicologia. Aos que forem diagnosticados, a primeira consulta médica já é realizada em seguida.

Atualmente, mais de 2.700 pacientes provenientes de todo o estado de Alagoas com HIV/Aids são acompanhados ambulatorialmente pelo Serviço de Assistência Especializada (SAE) do Hospital Helvio Auto.