Cidades

Denúncias contra a Braskem viram caso de polícia

Ameaças de morte e perfis falsos contra Alexandre Sampaio e Ricardo Melro estão sendo investigados

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 23/04/2024 09h13 - Atualizado em 23/04/2024 15h07
Denúncias contra a Braskem viram caso de polícia
Dois militantes da causa das vítimas da mineração estão ameaçados de morte e com seus perfis adulterados nas mídias sociais - Foto: Reprodução

O Caso Braskem está saindo da esfera política, ambiental e social para se transformar em caso de polícia. Pelo menos dois militantes da causa das vítimas da mineração estão ameaçados de morte e com seus perfis adulterados nas mídias sociais: o empresário Alexandre Sampaio e o defensor público estadual Ricardo Melro. Segundo eles, as ameaças são anônimas, mas parte sempre das mesmas pessoas, que postam mensagens falsas para querer intimidá-los, mas se escondem no anonimato, aproveitando-se da cumplicidade da internet.

“Colegas jornalistas, peço a ajuda de vocês para denunciar esse perfil fake criado exclusivamente para atacar o meu irmão Alexandre Sampaio – presidente da Associação dos Empreendedores Vítimas da Mineração em Maceió. A maioria aqui conhece bem a história dele de luta em busca de justiça para os danos causados pela Braskem. Peço que ajudem a denunciar o perfil e a publicar conteúdos nos sites de checagem de informação alertando sobre as mensagens de calúnia e difamação”.

O apelo feito pela jornalista Cristina Sampaio, nas redes sociais, denunciando as ameaças de morte e o perfil falso criado para prejudicar o seu irmão, Alexandre Sampaio, mostra que a luta por justiça no Caso Braskem se transformou num caso de polícia. As ameaças de morte, contra Alexandre Sampaio, já chegaram ao conhecimento da CPI da Braskem, que ficou de tomar providências, mas não pararam por aí. Estão criando perfis falsos para difamá-lo. O último foi compartilhado no início do mês.

“Essa conta fake foi criada no dia 2 de abril, uma semana antes do meu depoimento na CPI. Tem a exclusiva finalidade de me atacar, de lançar falsas notícias exclusivamente para ‘assassinar minha reputação’ e reduzir o impacto das denúncias que fiz na CPI contra a Braskem e todos os seus aliados nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário”, explicou Alexandre Sampaio.

“Também tem o objetivo de atacar não somente a Associação dos Empreendedores, mas também minha família, minha esposa, meu filho e meu negócio de modo covarde, insidioso, com as mais absurdas insinuações de enriquecimento, desvio de dinheiro etc., distorcendo todos os fatos para me prejudicar e reduzir o alcance das minhas denúncias”, acrescentou empresário.

Segundo ele, apesar de ter apenas 104 seguidores e ter sido criada em Contagem, Minas Gerais, essa conta fake recebeu milhares de reais em impulsionamentos para atingir o público de Maceió. “Ou seja, é uma conta usada por pessoas que querem me desacreditar publicamente, diante das graves denúncias que eu fiz contra a Braskem e seus comparsas nos poderes constituídos”, completou o empresário. Ele espera que a polícia investigue de onde partiram as ameaças.

Alexandre Sampaio garante que essa conta fake não é ligada a nenhum veículo sério de comunicação. Seria um ataque típico do mundo político e corporativo, à serviço do poderosa Braskem ou do crime organizado. “Não precisa ser muito inteligente para ver que o perfil foi feito só para isso, só para tentar ne intimidar. Mas as pessoas não pesquisam [para saber se é verdade ou não] e reproduzem e lançam a desconfiança. Ouvi comentários maldosos dentro do próprio movimento das vítimas da Braskem, sobre essas fake news”, sustentou o empresário ameaçado.

Líder: falta solidariedade no caso e repúdio aos ataques que o atingem

“Infelizmente, apesar de ser um claro ataque com o objetivo de me intimidar e reduzir a amplitude da nossa luta, nenhuma entidade de Alagoas, de Maceió, nenhum veículo ou mesmo de algum movimento, como o MUVB [Movimento Unificado das Vítimas da Braskem] que luta contra a mineração em Maceió, foi solidário ou repudiou esses ataques, o que mostra como é penoso, ingrato e solitário esse embate contra o poder da Braskem e seus tentáculos”, lamentou Alexandre Sampaio.

“Confesso que estou bem triste com tudo isso. O perfil falso mostra o poder destruidor das fake news e as ameaças que mais me preocupam são aquela direcionadas à minha família”, destacou Sampaio. Em uma das acusações falsas, tentam associar sua militância com grupo político liderado pelo senador Renan Calheiros (MDB), autor do requerimento para a criação da CPI da Braskem no Senado.
“O mais curioso: não tenho nenhuma relação pessoal, política ou partidária com Renan Calheiros ou com o Governo de Alagoas, de onde inclusive renunciei publicamente da participação de um Grupo de Trabalho contra a Braskem por entender que estava em desacordo com os objetivos das vítimas”, argumentou Sampaio.

Segundo ele, esse tipo de queimação, além de causar constrangimento indevido e injusto, “tem como objetivo solapar nossas forças, nos dividir e intimidar”.

Para a bióloga Neirevane Nunes, militante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), esse tipo de ameaça é mais uma tentativa de apagamento das vítimas, “atacando de forma covarde pessoas que lutam contra o crime da Braskem e que denunciam os abusos cometidos pela mineradora e por aqueles que são coniventes com sua prática nefasta”.

Questionada de onde teriam partido as ameaças, Neirevane disse que “é possível que a mineradora esteja por trás disso, como também pessoas ligadas ao grupo político do prefeito JHC (PL), porque os ataques além de serem direcionados para Alexandre Sampaio, também são direcionados à pessoa do senador Renan Calheiros. Além disso os ataques também são no sentindo de deslegitimar o MUVB, quando em um dos vídeos questiona a formação da Associação do Movimento”. 

Defensor público pede providências às forças policiais

O coordenador do MUVB, Cássio Araújo, disse que desconhece a ameaça de morte do Alexandre. “O que sei é que houve um mal-entendido no final do ano passado, que para mim foi esclarecido e que hoje não existe mais nada. Sobre fatos recentes, simplesmente não sei. Sobre o perfil fake nas mídias sociais difamando-o acho algo sério, que deve ser levado à polícia”, afirmou Araújo.

“Não sei de ameaça ao defensor público Ricardo Melro. O que sei é que criaram perfis falsos atacando-o. O MUVB ver esses ataques como algo para descredibilizar a luta das vítimas da Braskem por justiça. O que é muito sério. Sobre os responsáveis não podemos adiantar nada, só uma investigação policial para descobrir”, pontuou o coordenador do MUVB, acrescentando que o Movimento está se articulando para levar esses fatos à polícia.

DEFENSOR PÚBLICO

De acordo com Alexandre Sampaio, o defensor público estadual Ricardo Melro, também está sofrendo ameaças e teve um perfil falso postado nas mídias sociais, para tentar desvirtuar a sua atuação em defesa das vítimas da Braskem em Maceió.
“Fizeram com ele o mesmo que fizeram comigo”, afirmou o empresário.

A reportagem da Tribuna procurou o defensor público para saber se era verdade; e ele confirmou que realmente teria sofrido ameaças, pouco antes de prestar depoimento como testemunha na CPI da Braskem, em Brasília.

Ricardo Melro não quis dar detalhes das ameaças e do perfil fake que criaram sobre ele, mas confirmou ter sido vítima desse tipo de crime. Tanto é que se reuniu, na semana passada, com autoridades de Segurança Pública do Estado de Alagoas para pedir providencias com relação as ameaças sofridas por ele e pelo empresário Alexandre Sampaio.

No entanto, as investigações caminham em sigilo e um dos alvos é essa conta fake criada na cidade de Contagem (MG), com os dois perfis falsificados criminosamente.