Saúde

Sobe número de casos de síndrome em crianças em Alagoas

Médico relata que menores evoluíram para a enfermidade após infecção de Covid-19; Sesau investiga três registros

Por Ana Paula Omena com Tribuna Independente 12/08/2020 08h37
Sobe número de casos de síndrome em crianças em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria
A pandemia do novo coronavírus fez aumentar em crianças a síndrome inflamatória multissistêmica, que se manifesta e tem características clínicas similares ao choque séptico da doença de Kawasaki, que é uma inflamação também dos vasos do corpo e tem uma pré-direção para os vasos do coração. A informação é do médico intensivista pediatra João Lourenço Júnior. O médico disse que embora os registros de casos tenham aumentado nas redes públicas e privadas de Alagoas envolvendo crianças com anormalidade das artérias coronárias pela SIM-P, não há motivo para pânico. “São poucos os casos, se considerarmos o início da pandemia. É um paciente que se não soubéssemos que a Covid existe trataria como uma criança que teve uma infecção e que evoluiu de forma grave”, observou. Para João Lourenço, existe sim uma preocupação por parte dos pediatras, já que as crianças são pacientes que precisam de cuidados intensivos, do mesmo jeito que qualquer infecção grave, e que pode ser letal se não tiver um suporte de UTI adequado para o tratamento. “Já estamos tratando dessa síndrome desde o começo da pandemia. Para nós da área médica não é novidade, é sim para a mídia. No Reino Unido, nos Estados Unidos já tiveram casos, só que como é um número pequeno e não há óbitos em crianças não chama a atenção”, frisou. “A Síndrome inflamatória multissistêmica sempre existiu, mas a Covid precipitou mais casos, ela não é exclusiva do novo coronavírus. Muitas crianças evoluíram com essa síndrome semanas após terem sido infectadas pela Covid”, salientou. Ainda de acordo com João, o cuidado que os pediatras devem ter no momento é da sensibilização pedindo um ecocardiograma para saber se há anormalidade da artéria coronária nas crianças, porque é uma das características da Síndrome de Kawasaki. Ele explicou que os sinais mais comuns são taquicardia com o aumento da frequência do coração e da respiração, além do pulso fino. “É uma inflamação que, a depender de como o corpo reaja ao vírus, a criança pode precisar de suporte de UTI, porque simula um quadro de choque séptico, e lá elas recebem desde antibióticos até drogas comuns para a estabilização do quadro”, destacou. O médico reforçou que essa síndrome nada mais é do que uma reação inflamatória pós-Covid e que na prática do tempo surge em torno de duas ou três semanas, dado ser uma doença nova e que pode agir de forma diferente dependendo da criança. Para o tratamento as crianças se beneficiam com o uso de uma medicação especifica que é chamada de gamaglobulina, uma espécie de imunossupressor. O pediatra Marcos Gonçalves relatou que acompanhou duas crianças na UTI de um hospital particular e outras duas no Hospital Geral do Estado (HGE). E que no momento em que falava com a reportagem havia uma suspeita no HGE e que faria um ecocardiograma para confirmar ou não. “A síndrome geralmente está associada à febre e acometimento de dois ou mais órgãos, por exemplo, uma pneumonia junto com o comprometimento cardíaco; pneumonia com comprometimento gastrointestinal, dor abdominal, náusea, vômito”, assegurou. “Os exames laboratoriais vão indicar a inflamação que aparecem com alteração de D-Dímero,  Proteína-C-reativa (PCR) e Velocidade de Hemossedimentação (VHS). Para tratar são usados a Imunoglobulina endovenosa (IGEV) que demora de 6 a 12 horas e a infusão de corticoide endovenoso”, explicou. SESAU A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) esclareceu que, conforme determinação do Ministério da Saúde (MS), implantou, desde a semana passada, a notificação de casos de Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (sim-p) em crianças e adolescentes entre 7 meses a 16 anos. Salienta que a equipe técnica da Superintendência de Vigilância em Saúde (Suvisa), por meio do Núcleo de Doenças Imunopreveníveis, está em vigilância, mas ressalta que, até ontem (11), Alagoas ainda não confirmou nenhum caso da síndrome e que está concluindo a investigação de três casos suspeitos, conforme prevê o protocolo do MS. MS implanta notificação da doença no país   O Brasil monitora casos de Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) em crianças e adolescentes, entre sete meses e 16 anos. O objetivo é identificar se a síndrome pode estar relacionada à Covid-19. Trata-se de uma medida de vigilância em saúde. Por isso, na última semana, o Ministério da Saúde implantou a notificação destes casos nos sistemas de monitoramento, bem como mantém conversas com as secretarias de saúde dos estados e municípios para orientar o diagnóstico e atendimento de possíveis casos por profissionais de saúde através da identificação dos sinais e sintomas mais comuns. A maioria dos casos relatados apresentou exames laboratoriais que indicaram infecção atual ou recente pelo SARS-CoV-2 (por biologia molecular ou sorologia) ou vínculo epidemiológico com caso confirmado de Covid-19. Embora esses casos descritos apontem para uma possível relação de uma nova característica da Covid-19 em crianças e adolescentes, cabe ressaltar que estas ocorrências foram raras até o momento, frente ao grande número de casos com boa evolução da doença entre crianças e adolescentes. ALERTA MUNDIAL A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia emitido um alerta mundial aos pediatras relatando a identificação de uma nova condição clínica, possivelmente associada à Covid-19, caracterizada pela Síndrome Inflamatória Multissistêmica (SIM-P), com manifestações clínicas similares à síndrome de Kawasaki típica, Kawasaki incompleta e/ou síndrome do choque tóxico. Entre os sintomas mais frequentes estão febre persistente acompanhada de um conjunto de sintomas como pressão baixa, conjuntivite, manchas no corpo, diarreia, dor abdominal, náuseas, vômitos, comprometimento respiratório, entre outros. No Brasil, em 20 de maio, o Ministério da Saúde, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), já havia emitido um alerta chamando atenção da comunidade pediátrica para a identificação precoce da síndrome no país. Países como Espanha, França, Itália, Canadá e Estados Unidos também identificaram casos em crianças e adolescentes. No mundo, há relatos de mais de 300 casos.