Saúde

Cirurgia bariátrica: em Alagoas, espera leva no mínimo um ano

120 pacientes aguardam a realização do procedimento, realizado exclusivamente no HU

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 18/07/2018 07h54
Cirurgia bariátrica: em Alagoas, espera leva no mínimo um ano
Reprodução - Foto: Assessoria
A espera por uma cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Alagoas pode levar até um ano.  Atualmente, 120 pacientes aguardam pelo procedimento que é realizado exclusivamente no Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA). Vinculado à Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), o cirurgião e gastroenterologista  Herbeth Toledo explica que há uma limitação no atendimento a pacientes obesos que precisam deste tipo de procedimento no estado. Segundo ele, os custos elevados dificultam o credenciamento de mais unidades hospitalares públicas o que prejudica a oferta à população. “O grande problema hoje é credenciar unidades no Sistema Único de Saúde para cobertura de cirurgias bariátricas. O que a gente sabe é que os custos dessa cirurgia são mais altos do que se percebe pelo Ministério da Saúde. Então em Alagoas, você só tem o HU fazendo as cirurgias bariátricas pelo SUS e acaba tendo uma fila que leva mais de um ano para suprir as cirurgias. Pelos planos de saúde, nos planos digamos ‘em alta’ isso é mais fácil, a legislação está mais clara, as pessoas que se enquadram acabam tendo mais facilidade. Em cinco anos, o Hospital Universitário realizou 146 cirurgias, mas o número poderia ser bem maior segundo o médico. Em todo o país houve crescimento de 46% no número de cirurgias, foram 105.642 mil cirurgias só no ano passado, destas, apenas 28 foram realizadas em Alagoas pelo SUS. O programa de cirurgia bariátrica do HU foi iniciado em 2002 e segundo informações do próprio Hospital realiza uma média de seis cirurgias por mês.  Enquanto isto, na rede particular a média de procedimentos mensais no estado passa de 30 nas três unidades hospitalares que oferecem o serviço. “Eu acredito que nos hospitais privados nós devemos fazer de 30 a 40 cirurgias por mês, é mais ou menos a média no estado, por ser um estado menor. O problema é que na rede pública só faz no HU, lá temos dois médicos fazendo esse procedimento e isto demanda certo tempo, a fila acaba ficando maior porque eles não têm como realizar vários procedimentos num dia, por exemplo. O ideal seria que outros hospitais se credenciassem neste tratamento, mas para que isto aconteça é necessário que o Ministério da Saúde invista, porque você não pode querer que um hospital que passa por dificuldades cotidianas enfrente mais essa responsabilidade levando prejuízo em 100% dos casos”, destaca o cirurgião. Mais de cem mil alagoanos se enquadram no perfil   Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica apontam que no estado 106.246 pessoas são consideradas “elegíveis” à cirurgia, isto é, reúnem condições que se enquadram no perfil, como obesidade associada ao diabetes. “A população elegível a cirurgia bariátrica no Brasil é de 4,9 milhões de pessoas. Pessoas com diabetes mellitus Tipo 2 (DM2), com Índice de Massa Corporal entre 30kg/m2 a 35kg/m2, e ausência de resposta ao tratamento clínico podem ter indicação para a cirurgia bariátrica. Já os pacientes com IMC maior que 35, com doenças associadas a obesidade ou acima de 40, considerada obesidade mórbida – também são elegíveis a cirurgia bariátrica”, diz a entidade. A indicação atualmente inclui pacientes com doenças associadas à obesidade que não estejam necessariamente em condições extremas. “A obesidade de uma forma geral vem aumentando, 40% da população já está obesa. Recentemente o Ministério da Saúde aprovou que além da cirurgia bariátrica servir para perda de peso, também serve para tratamento de doenças associadas como o diabetes, hipertensão, aumento de colesterol. Através dessa cirurgia metabólica, porque hoje não falamos apenas bariátrica e sim bariátrica e metabólica. A resposta frente a estas morbidades melhorou muito, hoje já se faz num paciente que não necessariamente tenha obesidade nível 3 ou 4. Obesidade mais leve associado a diabetes já se faz cirurgia com resultado muito bons. É claro que isto não substitui o tratamento clínico, é mais uma arma contra a doença”, explica Herbeth Toledo. Mas segundo o médico, a cirurgia não pode ser encarada como uma fórmula mágica, o paciente precisa de acompanhamento multidisciplinar, antes e depois do procedimento cirúrgico. “A cirurgia corrige a situação de 80% dos pacientes. No entanto, é necessário ser bem avaliado por uma equipe multidisciplinar, no pré e pós operatório. Isto é fundamental. Chega um paciente no consultório dizendo que alguém foi operado e engordou, mas não é bem assim, se for avaliar o porque o paciente engordou normalmente é falta de acompanhamento, aquele que não segue mais a orientação médica, não faz exercício. A cirurgia é mais uma arma para se combater, ela não é a cura dessas doenças, a cura se faz sob todo um aparato clínico, psicológico, profissional”, ressalta. Após dois anos aguardando, paciente realizou cirurgia e perdeu 67 quilos   A técnica de enfermagem, Elaine França, de 42 anos, foi submetida a uma cirurgia bariátrica pelo SUS. Ela conta que entre o início do acompanhamento e a cirurgia passou-se um ano e meio. “No começo, achei que estaria demorando muito, mas depois julguei necessário todo tempo. Passei por muitos exames, orientações para adaptação na nova forma de vida. Passei por assistente social, psicólogos, nutricionista, cardiologista, anestesista, equipe de cirurgiões”, diz. Elaine pesava 120 quilos quando iniciou a preparação para  a cirurgia, além de alguns problemas de saúde relacionados. “Eu tinha um IMC elevado, obesidade grau III/IV, pré-diabética, pré-hipertensa... Pesava 120kg. Quando procurei o serviço, já sabia que a indicação seria de cirurgia”, acrescenta. Mesmo ciente da necessidade, ela conta que a adaptação é difícil e requer muito esforço por parte do paciente. “Nos dois primeiros meses, fiquei mal, sem minha válvula de escape que era comer. Depois que fui vendo uma perda de peso mais efetiva, fui me adaptando, gostando mais de mim... No primeiro ano após a cirurgia já tinha perdido todo o sobrepeso que precisava, que eram 60 quilos. Fiquei mais ou menos um ano em acompanhamento, depois abandonei o programa, porque era muito difícil, acabava faltando muito ao trabalho”, enfatiza. Maria Creuza Rocha, de 49 anos, esperou um ano e seis meses até conseguir a cirurgia. Ela conta que acumulava vários problemas de saúde, chegando a pesar 117 quilos com 1,57m de altura. “Eu já fazia tratamento lá no HU de psoríase e foi a dermatologista na época que me orientou a procurar a equipe porque eu passei muitos anos tomando medicação forte (corticoides) e estava com gordura no fígado, intolerância a açúcar e estava pensando 117 quilos com um metro e cinquenta e sete de altura. Eu tinha muito problema de retenção de líquidos e  cansava sempre, tive depressão pelo problema da psoríase e estava a cada dia ficando pior pela obesidade”, detalha. Creuza perdeu 40 quilos e realiza o acompanhamento para manter os avanços. Já a assistente social, Ana Kátia Batista, de 49 anos, passou dois anos e três meses aguardando pela cirurgia bariátrica. Segundo ela, o acompanhamento detalhado é uma das causas do longo tempo. “Demorei dois anos e três meses no tratamento pré-bariátrica. A média de tempo de espera é essa. Tem que fazer vários exames, acompanhamento psicológico. Antes de começar eu pesava 136 quilos e tinha hipertensão severa e problemas nos joelhos”, conta. Depois do procedimento cirúrgico, a indicação é continuar com o acompanhamento até estabilizar a situação do paciente. Com a cirurgia, a assistente social perdeu 67 quilos, e recuperou dez. “As consultas com os profissionais continuam, com frequência, até um ano pós-operatório, depois fica só revisão anual. Se houver alguma intercorrência nesse período, se consulta mais vezes”, diz.