Política

Fim de um bairro: Mutange começa a ser demolido

Segundo a Braskem, 2 mil imóveis serão derrubados; trabalhos incluem terraplanagem, drenagem e plantio de vegetação

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 06/01/2022 06h51
Fim de um bairro: Mutange começa a ser demolido
Reprodução - Foto: Assessoria
O bairro do Mutange, em Maceió, começa a ser demolido nesta quinta-feira (6) pela Braskem. Ao todo, dois mil imóveis passarão pelos trabalhos de demolição. A região começou a ser desocupada ainda em 2019 devido ao afundamento de solo que atinge cinco bairros da capital alagoana causado pela extração de sal-gema operada pela Braskem. Além das demolições, a empresa informou que vai fazer o nivelamento do solo (terraplenagem), construir um sistema de drenagem das águas pluviais e por fim o plantio de vegetação. A previsão é de que as obras sejam finalizadas no fim do ano numa área de 200 mil metros quadrados (m²). “Cada uma dessas etapas é licenciada e autorizada pelos órgãos competentes, que acompanharão a realização dos trabalhos. A demolição será iniciada na parte mais plana, indicada com a cor vermelha no mapa. Com aproximadamente 74 mil m², essa região tem cerca de 227 imóveis, que estão localizados ao longo da Avenida Major Cícero, na base da Encosta do Mutange. Na sequência, será realizada a demolição das edificações localizadas nas áreas íngremes. Para a demolição dos imóveis está prevista a contratação de cerca de 70 operários, número que pode chegar a mais de duzentos profissionais no pico do trabalho. Toda a área está cercada com tapumes e tem placas de sinalização indicando que apenas pessoas autorizadas podem circular no local”, explicou a Braskem. O projeto de estabilização e drenagem está previsto no Termo de Acordo Socioambiental firmado entre o Ministério Público Federal (MPF) e a Braskem no fim de 2020 após o órgão federal mover uma ação cobrando a reparação ambiental pelos danos causados pela mineração que destruiu o subsolo e prejudicou os bairros do Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e Farol. As atividades que se iniciam no Mutange devem se estender, segundo o acordo, para todos os bairros. Entretanto a Braskem não informou se e quando as demais áreas passarão pela revitalização. Ainda de acordo com a Braskem as obras serão monitoradas por equipamentos para acompanhar a estabilidade da região, que no ano passado sofreu um abalo sísmico após atividades de sonda no preenchimento de cavidades. “Um sistema de monitoramento da encosta será instalado, ao longo dos trabalhos, para garantir a segurança na execução do projeto e atestar a eficácia das obras de engenharia. Esse sistema será composto por 35 piezômetros, 15 inclinômetros, e um conjunto de marcos topográficos superficiais e de profundidade e, ainda, uma Estação Meteorológica para fazer o monitoramento climático. Esses dados, juntamente com as outras medições, serão usados para acompanhar a estabilidade da região”, disse a empresa. Bairro é uma das regiões mais afetadas pelo afundamento   O bairro do Mutange é uma das regiões mais afetadas pelo afundamento de solo. Segundo estudos realizados desde 2018 até agora, em alguns pontos a subsidência ultrapassou 70cm por ano. Segundo pesquisadores, não há como prever quando a movimentação do solo cessará. Além disso, a região sofre com a influência da Lagoa Mundaú que avançou cerca de 2 metros ao longo de duas décadas, segundo o pesquisador Abel Galindo. Uma das vias mais importantes da capital, a Avenida Major Cícero de Góes Monteiro, no Mutange, foi interditada em 2019 e não há pelo menos por enquanto projetos que viabilizem o trânsito de veículos. Conforme adiantou a Tribuna Independente em novembro do ano passado, a via pode “desaparecer” na próxima década. “O que acontece ali não é o avanço da Lagoa Mundaú e sim o afundamento. Está previsto nos próximos dez, vinte anos, que aquilo ali pode afundar mais de 2 metros, tem relatório que fala em 4 metros. Afundando isso e, se não aterrarem, se afunda, a Lagoa ocupa o espaço. Se não for feito nada nos próximos anos, a Avenida Major Cícero de Góes Monteiro, principalmente naquela área entre o campo do CSA e o Colégio Bom Conselho, ali vai ficar submerso”, expõe o engenheiro. Na prática, isto significa que apenas o preenchimento de quatro minas - recomendado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e Institutos de Geologia contratados pela Braskem - não é suficiente para parar o processo, e sim desacelerar. Vale lembrar, que após a constatação de que a atividade de mineração executada pela Braskem foi a causadora do fenômeno, houve a recomendação para preenchimento das cavidades com areia para minimizar os danos causados no subsolo e nas camadas salinas. “Mesmo com o preenchimento das minas o processo não vai parar. Vai continuar. O que pode acontecer é de afundar menos nos próximos anos, mas tudo isso é uma conta estimada. Mesmo preenchendo com areia vai continuar afundando”, afirma Galindo.