Política

Novo reitor da Ufal aposta em inovação de gestão

Joealdo Tonholo acredita que Jair Bolsonaro vai respeitar consulta à comunidade acadêmica

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 17/08/2019 08h16
Novo reitor da Ufal aposta em inovação de gestão
Reprodução - Foto: Assessoria
Eleito em primeiro turno na consulta para a Reitoria da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) no último dia 9 de agosto, o professor do curso de Química, Josealdo Tonholo, fala à Tribuna um pouco de suas expectativas em relação ao que vem pela frente, desde o fim do rito de indicação e nomeação para o cargo, até as mudanças que pretende fazer na maior instituição de ensino do estado. Para ele, a Ufal sempre passou por momentos de dificuldades, mas sempre consegue se manter e até avançar em suas ações. Tribuna Independente – O senhor assume a Reitoria em janeiro de 2020 e pega um cenário de corte de recursos. Qual a sua expectativa de assumir o comando da Ufal diante dessa realidade? Josealdo Tonholo – Tem uma fala que precede que é a forma de indicação do reitor, já que nesse momento o que foi feito foi a consulta à comunidade acadêmica, e não se trata de um processo oficial. Supondo que essa consulta seja respeitada pelo Conselho Universitário [Consuni] e depois acatada pelo presidente da República, aí a gente assume em janeiro. Esse cenário de desabastecimento financeiro é algo que já tem acontecido há vários anos. Praticamente, desde que estou na Ufal – desde 1993 –todos os anos têm notícias sobre contingenciamento ou corte de recursos. A gente nota, muito claramente, é que, apesar disso, a Universidade sobrevive. Então, uma preocupação que a gente tem, nesse momento em que vamos entrar nas ‘vacas magras’ com corte de recursos, é que a gente use toda a competência de gestão possível e de muita inovação, do ponto de vista administrativo, para conseguir sobreviver a esse período. A gestão terá de ser exercitada ao extremo. Tribuna Independente – Essa questão tem um peso diferente agora porque a Ufal cresceu muito nos últimos anos, com campi no interior e mais projetos de extensão e pesquisas... Josealdo Tonholo – Nos anos 2000, a Ufal tinha cerca de 3.800 estudantes, 600 professores e 600 técnicos. Hoje, ela tem três vezes mais técnicos e docentes, com 1.800 cada, mais ou menos; e chega a ter 23 mil estudantes. Então, a Ufal é quatro ou cinco vezes maior do que era na virada do milênio. Mas as práticas de gestão que a gente adota, por exemplo, a orçamentária-financeira, é a mesma dos anos 2000. Então, nós temos muito que evoluir e inovar para conseguir fazer uma atualização de gestão. Tribuna Independente – Como o senhor vê essa discussão de buscar parcerias com setores de fora dos muros da Universidade? Josealdo Tonholo – Isso é fundamental. Na verdade, a Ufal já faz isso. Temos alguns setores aqui têm parcerias com empresas privadas. Aqui já há essa tradição de fazer isso. Nossa preocupação é que isso – parcerias com a iniciativa privada ou mesmo com o Governo do Estado ou prefeituras – é que isso funciona muito bem para resolver problemas específicos dos parceiros e há muito foco em projetos de pesquisa ou extensão, mas a gente não pode pensar nesse tipo de parceria como substitutivo ao orçamento obrigatório por lei, constitucional, para sustentação da Universidade. O montante total desses recursos das parcerias é muito pequeno, não chega a 2% do orçamento total da Ufal. Então, seria absolutamente impossível no estado de Alagoas nós termos empresas que quisessem bancar a Universidade Federal porque nosso orçamento é muito maior do que o PIB dessas empresas. Tribuna Independente – No início da entrevista o senhor enfatizou o trâmite para a nomeação do reitor e o presidente Jair Bolsonaro já ignorou três processos de consulta e suas listas tríplices para nomear reitores. Há alguma preocupação de que a Ufal seja mais um caso? Josealdo Tonholo – A prelazia da indicação é do presidente da República. Então, essa é uma das regras, não é? Agora, eu prefiro acreditar que a Presidência da República vai entender a situação específica da Ufal e vai entender, claramente, a nossa proposta. A gente tem uma proposta de uma gestão com eficiência, que preza os princípios públicos. A gente tem uma proposta que foi corroborada por mais da metade de toda a comunidade universitária, em primeiro turno e nas três categorias. E, tradicionalmente na Ufal, o nome indicado pela comunidade tem sido acatado pelo Conselho Universitário e encabeça a lista desde a época da professora Delza Gitaí – que era lista sêxtupla – até mais recentemente com a lista tríplice. Todos os reitores da Ufal, desde então, têm sido escolhidos com base nessa premissa: consulta, Consuni, Presidência da República. Tribuna Independente – O Ministério da Educação (MEC) do atual governo tem sido muito criticado pela comunidade acadêmica do país e, devido a esses problemas, já passou por troca de ministro em poucos meses. Qual a sua avaliação desse novo MEC até agora, que até falas de ataque às universidades têm sido feitas, a exemplo da “balbúrdia”? Josealdo Tonholo – Essa é uma visão distorcida do ministro, mas acho que temos de olhar por outro aspecto. É um governo que está chegando agora e começando a entender como funciona a máquina pública. Todo governo, logo que chega, tem que se assentar e se posicionar. Acredito que esse governo vai começar a enxergar a universidade com os olhos que ela merece. Em breve. E tem outro aspecto, que também é fundamental, que a universidade tem de ter toda essa diversidade. Agora, ela também tem de fazer o dever de casa. Da mesma forma que tem de estar aberta a todas as correntes de pensamento, senão ela não é universidade; ela tem de fazer o dever de casa bem feito. Talvez o MEC esteja, digamos, pegando no pé das universidades, porque alguns deveres de casa não estão sendo feitos. Por exemplo, a eficiência de gestão. É inadmissível num momento em que falta dinheiro, em que há corte de recursos, que a universidade não consiga executar na plenitude seu orçamento.