Política

Sempre no poder, MDB sinaliza para Jair Bolsonaro

Presidente eleito dá aval para diálogo e aceno do MDB prevê independência e cargos

Por Texto: Carlos Victor Costa com Tribuna Independente 17/11/2018 12h04
Sempre no poder, MDB sinaliza para Jair Bolsonaro
Reprodução - Foto: Assessoria
Logo depois da extinção dos partidos imposta pelo Ato Institucional nº 2 (AI-2), o MDB, registrado em 24 de março de 1966, nasceu da tentativa do governo militar de imitar o bipartidarismo norte-americano. Por decreto, coube ao Movimento Democrático Brasileiro fazer oposição enquanto a Aliança Renovadora Nacional (Arena) ficou com o papel de ser governo. A fórmula, até então, deu certo por 16 anos. Em 1980, o fato de abrigar todas as correntes de oposição e a constante adesão de arenistas ao MDB levou o então presidente João Figueiredo a reinstalar o pluripartidarismo para enfraquecer os seus opositores. O MDB, então, virou o PMDB, tendo em 1985 a chapa Tancredo Neves/José Sarney, eleita e jogando fora o passado de oposicionista, se tornando o partido mais assíduo no governo federal desde a redemocratização do país, emplacando ministérios em todas as gestões entre os mandatos de José Sarney, até Dilma Rousseff. O governo de Fernando Collor (1990-1992) foi o que se manteve mais distante. Acabou sendo cassado, num processo por crime de responsabilidade, situação semelhante com a de Dilma Rousseff, que tinha como vice um membro do partido. SEMPRE NO PODER No entanto, foi no PSL, partido que se filiou em 2018, que Bolsonaro ascendeu com um discurso de representar o novo e o antissistema, aproveitando-se da crise que atingiu líderes políticos tradicionais em meio aos escândalos de operações da Polícia Federal. Durante a campanha, também se utilizou de falas que não se aliaria a políticos que tivessem envolvimento com corrupção, de investigados a condenados. O que não se cumpre, até o momento. Agora, enquanto presidente eleito, sinalizou interesse em fechar uma aliança com o MDB, que tem como um de seus líderes, o atual presidente da República, Michel Temer, denunciado formalmente por corrupção. Bolsonaro também já disse que espera a colaboração de Temer com o que for possível. O filho de Bolsonaro, senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), afirmou durante uma entrevista que há nomes dentro do MDB para comandar o Senado, mas o presidente da Casa precisa ter “algum” alinhamento com o próximo governo. É daí que surge o nome do senador alagoano Renan Calheiros, que não é bem visto por aliados do presidente eleito. Para Wanderley, partido precisa ser pacificado Outra cientista política consultada, Evelina Antunes, de forma direta ressalta que o MDB fará parte do próximo governo, por cargo ou adesão a projetos, principalmente pelo fato de diversas bandeiras defendidas por Bolsonaro serem compactuadas pelo partido emedebista. “Basta rever as mais importantes votações dos últimos tempos. Entretanto, por ser tradicionalmente um partido que abriga diversas tendências ou interesses, o MDB não faz este tipo de adesão por inteiro. Ou seja, sempre podemos falar em parte dos seus filiados que optou por isso ou aquilo”. A reportagem da Tribuna Independente procurou o senador Renan Calheiros (MDB) para que ele pudesse comentar sobre esse cenário, mas através de sua assessoria de comunicação, ele disse preferir não opinar no momento. Luciana Santana, no entanto, explica que o senador e ex-presidente do Senado, Renan Calheiros, é figura expressiva na condução do MDB ao governo de Jair Bolsonaro. BANDEIRA BRANCA A Tribuna consultou outra figura histórica do MDB de Alagoas, o cirurgião José Wanderley Neto, filiado ao partido. Ele já foi vice-governador de 2007 a 2011. Wanderley entende, inicialmente, o partido tem que ser pacificado para depois se posicionar politicamente. José Wanderley Neto comenta que o atual cenário é de apagar as arestas dentro do próprio MDB (Foto: Adailson Calheiros / Arquivo) “O MDB nunca foi problema. O momento é nebuloso para previsão. Sem a unificação do partido e construção de um projeto para o país, que não existe, torna-se irrelevante participar de qualquer governo”. Aprovações no Congresso têm peso político para apoio O MDB nacional realizou, no início de novembro, em Brasília, o seu primeiro encontro após as eleições. Além da apresentação do documento “Caminho para o futuro”, foi anunciada uma pretensa posição de independência da sigla em relação ao governo de Jair Bolsonaro. A ocupação de cargos na próxima gestão, contudo, não necessariamente será vetada. Para saber como se dará a relação entre o MDB e o presidente Jair Bolsonaro, a reportagem da Tribuna Independente consultou especialistas. De acordo com Luciana Santana, o MDB por ser um partido com muitas facções internas, há uma tendência muito grande que parte considerável da legenda acabe se aproximando do governo Bolsonaro ao longo do primeiro ano de mandato, como aconteceu no primeiro ano do governo Lula (PT) em 2003. “O MDB não entrou automaticamente no governo, só entrou no final, no segundo semestre de 2003. Isso pode vir acontecer novamente, a depender dos resultados que aparecerem no governo Bolsonaro. Se a economia realmente começar a dar sinais de melhora, o PIB ter perspectivas de melhoras, se a Reforma da Previdência for aprovada, todos esses fatores serão importantes para que o MDB decida-se mais rápido”. Luciana Santana acredita que por conta do histórico de participar de todos os governos desde a redemocratização, o mais esperado é que o MDB faça parte do governo. “É um partido de centro e que dialoga tanto com a esquerda quanto com a direita. Apesar de ter diminuído a sua bancada na última eleição, ainda continua sendo um partido importante nas negociações congressuais”.