Política

PSDB está abalado após o primeiro turno

Para cientista político Ranulfo Paranhos, legenda tucana não soube transformar dinheiro, apoio político e tempo de televisão em votos

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 12/10/2018 10h46
PSDB está abalado após o primeiro turno
Reprodução - Foto: Assessoria
PT e PSDB rivalizaram por duas décadas o centro da luta política no Brasil. Ambos os partidos presidiram o país tendo o outro como principal opositor, mas nas eleições deste ano, isso mudou. O PSDB perdeu força e teve sua bancada na Câmara dos Deputados reduzida a quase a metade da eleita em 2014. Fora que Geraldo Alckmin não atingiu 5% dos votos na disputa pelo Palácio do Planalto. O PT, com Fernando Haddad, disputa o segundo turno presidencial contra Jair Bolsonaro (PSL) e também teve redução de bancada na Câmara, mas ainda elegeu a maior entre os partidos, seguido, justamente, da bancada do PSL. Segundo o cientista político Ranulfo Paranhos, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o péssimo resultado eleitoral dos tucanos é culpa deles próprios e da “onda Bolsonaro”.   Tribuna Independente – Dos grandes partidos, o PSDB foi o que mais reduziu de tamanho na Câmara dos Deputados. Em 2014 foram 54 deputados federais eleitos, mas neste ano foram somente 29, além do fraco desempenho de Geraldo Alckmin na disputa presidencial. Em sua avaliação, a que se deve essa queda, os votos do partido foram sugados pela “onda Bolsonaro”? Ranulfo Paranhos – Essencialmente, o PSDB não soube transformar dinheiro, apoio político e tempo de TV em votos. Além disso, o desempenho de Geraldo Alckmin nos debates não compensou essa falha estratégica de campanha. E o baixo desempenho do candidato a presidente pode ter comprometido os candidatos tucanos ao parlamento. Some isso tudo à “onda Bolsonaro” que, na reta de final de campanha, parece ter conquistado o voto útil, já que eleitores do PSDB têm muita rejeição ao PT. Tem também um quarto fator, que pode ter jogado uma pá de cal: petistas e “bolsonaristas” fizeram campanhas como torcidas futebol. O PSDB, em boa medida, não tem esse perfil de eleitor. Tribuna Independente – O partido decidiu não apoiar nem Jair Bolsonaro (PSL) nem Fernando Haddad (PT) no segundo turno presidencial e liberou suas lideranças a votar como quiserem. Postura distinta da eleição de 1989, quando a legenda – impulsionada por Mário Covas – apoiou Lula contra Fernando Collor. Essa “neutralidade” tucana é boa para o partido? Ranulfo Paranhos – FHC deu uma resposta bastante convincente sobre não apoiar nenhum dos lados: “Nem PT, nem Bolsonaro explicitaram compromisso com o que creio”. Assim, ele, que é um porta-voz do PSDB, ainda chegou a criticar a postura do Bolsonaro e fez duras críticas ao PT por apoiar a Venezuela de [Hugo] Chávez e [Nicolás] Maduro, que hoje é claramente uma ditadura. De qualquer forma, foi um partido que perdeu muito. Apoiar um ou outro lado pode se transformar numa escolha desastrosa para o PSDB no futuro. O mais provável é que tenhamos mais quatro anos de crise política no Brasil, independente de quem vença. Daí, penso que o PSDB deve ter racionalizado uma postura neutra pensando em não ser cúmplice das incertezas que o Bolsonaro representa ou do modelo de economia desastroso em que se afundou o país depois dos anos do PT. Tribuna Independente – Diante da postura nacional de neutralidade do partido, no estado apenas Tereza Nelma – até aqui – declarou voto no segundo turno a Fernando Haddad. No caso específico de Alagoas, ficar em cima do muro é bom politicamente para o partido? Ranulfo Paranhos – É muito difícil que partidos políticos grandes e médios entrem em consensos sobre quem apoiar em segundo turno. Primeiro porque esses partidos possuem muitas lideranças e que sempre pensam em conjunturas locais, se será bom ou ruim essa ou aquela postura. Veja o exemplo do PDT, que disse apoiar Haddad de forma crítica, sem subir em palanque e sem pedir votos abertamente, além de não penalizar pedetistas que decidirem por Bolsonaro. Depois, o primeiro turno sempre deixa mágoas e, no caso do PT e PSDB, elas vêm sendo construídas há décadas. Tribuna Independente – Do ponto de vista de busca por retomada de espaço, qual cenário – analisando com o quadro atual – seria melhor para o PSDB, ser oposição num governo Bolsonaro ou oposição num governo Haddad? Ranulfo Paranhos – Um governo petista pode ser bem mais prejudicial para uma possível reestruturação do PSDB porque PT aprendeu, ao longo dos anos, a usar a máquina pública em seu favor e isso deu ao partido mais força a cada eleição. Agora temos mais partidos no jogo e o PSDB não perdeu cadeiras de deputados federais e senadores para o PT, mas para novos partidos. Isso quer dizer que a disputa está mais acirrada e ter que enfrentar nas próximas eleições um PT com a máquina e fortalecido, pode ser bem mais difícil. Fazer oposição ao Governo Bolsonaro pode ser bem mais fácil, do ponto de vista eleitoral. Sem contar que o PSL cresceu e tem mais chances de conquistar a Presidência da República porque se apresentou como o “verdadeiro” antipetismo. Talvez essa seja uma agenda do PSL, de tentar minar as bases políticas do PT, o que pode até beneficiar o PSDB. Tribuna Independente – A hipótese de o PSDB ser situação nos dois cenários que se avizinham – governo Bolsonaro ou governo Haddad – pode ser descartada? Ranulfo Paranhos – Em um cenário onde o PT tenha a Presidência, é mais provável que o PSDB já inicie o ano de 2019, declaradamente, como oposição. Os partidos divergem claramente nas agendas política e econômica. No canário mais provável, que é com Bolsonaro presidente, o PSDB e a maioria dos partidos podem optar por dar um tempo de acomodação. Assim eles sentirão como irá se comportar o novo mandatário em relação à implementação de sua agenda, distribuição de ministérios, ações iniciais e se o comportamento da economia for positivo, pode frear um pouco o ímpeto dos partidos em fazer oposição.