Política

Em entrevista à Tribuna, Renan Filho diz que AL superou desafios no bicentenário

Governador reconhece a necessidade de realizar mais investimentos à população

Por Fonte: Tribuna Independente 16/09/2017 12h07
Em entrevista à Tribuna, Renan Filho diz que AL superou desafios no bicentenário
Reprodução - Foto: Assessoria

Alagoas completa 200 anos de emancipação política neste sábado (16) e, ao longo de sua história, superou várias barreiras, mas também há aquelas que insistem em perdurar. Por causa dessa data simbólica, porém importante, o Governo do Estado tem realizado uma série de atividades para celebrá-la. Diante desse momento histórico, a Tribuna Independente conversou com o governador Renan Filho (PMDB). Ele reconhece as desigualdades que Alagoas possui, tanto de desenvolvimento econômico quanto de inclusão social, mas ressalta a importância da necessidade de o alagoano ter o sentimento de pertencimento com o estado “que cultive respeito e admiração pelo nosso passado para entender o que somos hoje, e que possa usar esse conhecimento para amar mais a terra em que nasceu e elevar a sua autoestima”.

Tribuna Independente – Nos últimos 200 anos muita coisa mudou em Alagoas, mas há uma série de problemas que precisam ser enfrentados. Em sua avaliação, quais são os principais desafios a serem superados no estado?

Renan Filho – Numa visão mais ampla, o desafio principal é de todo o Nordeste: superar a desigualdade regional histórica que prejudica os nove estados nordestinos em relação principalmente ao Sul-Sudeste. Infelizmente essa desigualdade, que havia recuado um pouco, voltou a se alargar em tempos recentes. Em Alagoas, parece evidente que o alvo mais desafiador no horizonte é a melhoria nos indicadores de educação e saúde, sobretudo das populações mais carentes, que dependem dos serviços públicos. Estamos obtendo resultados animadores, mas ainda há muita coisa para fazer, nessas duas áreas e em todas as demais.

"Numa visão mais ampla, o desafio principal é de todo o Nordeste: superar a desigualdade regional histórica que prejudica os nove estados nordestinos em relação principalmente ao Sul-Sudeste"

Tribuna Independente – Que marca o senhor quer deixar com sua passagem no Governo do Estado nesses 200 anos?

Renan Filho – Alagoas está mostrando que mesmo com o Brasil no meio da maior crise da história da República, aqui o Estado consegue se manter de pé, trabalhando com equilíbrio financeiro, investindo em obras e implantando políticas públicas com recursos próprios ou com parcerias federais e até internacionais. É assim que você enfrenta crises. A verdade – e isso está sendo constatado por muita gente – é que a crise que derrubou estados e municípios pelo Brasil afora, não abateu Alagoas. Estamos tocando a vida, fazendo o que precisa ser feito. Nós somos prudentes quando é necessário, e somos ousados quando dá para ser. Não é uma marca só minha, é uma marca do alagoano, e ele merece sentir orgulho por isso.

Tribuna Independente – Nesses dois séculos, Alagoas diversificou sua economia, mas ainda possui grande dependência do setor sucroalcooleiro. É possível superar isso e ampliar mais a gama de atividades econômicas no estado?

Renan Filho – A quantidade e variedade de empreendimentos que têm se instalado em Alagoas mostra que a economia está se diversificando, mesmo com as dificuldades conjunturais que o país vive e que são mais acentuadas aqui no Nordeste, inclusive atingindo severamente o próprio setor sucroenergético. Mas temos hoje em Alagoas, por exemplo, um setor de serviços em razoável expansão, com destaque, claro, para o turismo, que cresce ano a ano em quantidade e qualidade. O Estado tem atraído investimentos empresariais muito interessantes. Trabalhamos para criar um bom ambiente de negócios e os resultados estão chegando, o que nos anima a avançar mais.

"A quantidade e variedade de empreendimentos que têm se instalado em Alagoas mostra que a economia está se diversificando, mesmo com as dificuldades conjunturais que o país vive e que são mais acentuadas aqui no Nordeste"

Tribuna Independente – Outra característica mantida em Alagoas nesses 200 anos é a disparidade socioeconômica da população negra diante da população branca, inclusive em relação à violência. Que ações podem e devem ser feitas, ou estão sendo realizadas para que nos próximos aniversários de nossa emancipação política o fim dessa situação seja enaltecido como uma conquista dos alagoanos?

Renan Filho – É uma das consequências perversas da desigualdade regional histórica que mencionei há pouco. Essa desigualdade social é tão antiga quanto cruel porque gera pobreza, preconceito, discriminação, racismo e violência. Nenhum país sai impune depois de 300 anos de escravidão, como ocorreu com o Brasil. É uma herança que marca as gerações. Mas foi aqui em Alagoas que se deu o primeiro grito de liberdade do país, na Serra da Barriga. Foi aqui que começou a luta contra a opressão do povo afro-brasileiro. Nós temos em Alagoas a cultura da resistência, e a forma mais eficiente de combater a desigualdade é a inclusão social, é dar cidadania a quem sempre foi excluído.  

Tribuna Independente – O que Alagoas tem a comemorar nesses 200 anos, em sua avaliação?

Renan Filho – As comemorações do Bicentenário foram pensadas e planejadas para que a população alagoana e as pessoas que nos visitam conheçam mais a nossa história, nossa formação cultural, as lutas que aqui foram travadas, os personagens que construíram Alagoas ao longo dos séculos, antes e depois da Emancipação em 1817. Para isso, nós organizamos uma programação, ao longo de todo o ano de 2017, que foi toda discutida em profundidade e com permanente participação da própria sociedade. O legado que o Bicentenário vai deixar é, acima de tudo, educativo e cultural. É mostrar de onde viemos e como chegamos aqui. É expor na plenitude a beleza das nossas artes, os ritmos, sons, palavreados, danças, cores e sabores, as tradições populares que resistem ao tempo, todo esse mosaico cultural que compõe a alagoanidade. Em setembro, além da Virada Cultural neste final de semana [16 e 17], com dezenas de artistas locais e alguns poucos convidados, teremos quatro eixos, ou focos, para, a partir de nossas raízes, não só valorizar a história, mas apontar para o dia seguinte.

"As comemorações do Bicentenário foram pensadas e planejadas para que a população alagoana e as pessoas que nos visitam conheçam mais a nossa história, nossa formação cultural, as lutas que aqui foram travadas"

Tribuna Independente – Quais eixos?

Renan Filho – O primeiro é o Rio São Francisco. Durante dois dias, 14 e 15, o percorremos de Piranhas a Penedo, num ato político em defesa da Revitalização do Velho Chico. Depois teremos a valorização das cidades principais que deram origem ao Estado. Penedo já está contemplada com a caravana ao Rio São Francisco, então destacaremos o papel de Porto Calvo e Marechal Deodoro como núcleos urbanos iniciais. O outro cenário histórico é a Serra da Barriga; ali celebraremos Zumbi e o Quilombo dos Palmares e nos posicionaremos pela liberdade e contra toda forma de discriminação. Como o quarto ponto, teremos a luta pela inclusão social e vamos visitar as grotas de Maceió, juntamente com a ONU [Organização das Nações Unidas], destacando esse processo de apoio à luta dos menos favorecidos economicamente. A ideia central é que o alagoano se conheça melhor, que cultive respeito e admiração pelo nosso passado para entender o que somos hoje, e que possa usar esse conhecimento para amar mais a terra em que nasceu e elevar a sua autoestima. Quem gosta da sua terra faz mais por ela.

Tribuna Independente – Num exercício de futurologia, que estado o senhor gostaria que Alagoas fosse daqui a 200 anos?

Renan Filho – Difícil imaginar uma realidade tão distante no tempo. Gostaria que Alagoas fosse um lugar de gente feliz, saudável e solidária, um estado com igualdade de oportunidades, justiça para todos e prosperidade. Pedir que Alagoas fosse um lugar ainda mais bonito do que é hoje, não sei se é possível. Mas é possível e necessário trabalhar para que todo esse sonho se realize e chegue mais cedo.