Política

Sérgio Moro absolve mulher de Eduardo Cunha em processo da Lava Jato

De acordo com decisão do juiz federal, não há provas suficientes contra a mulher de Cunha

Por R7, com agências 25/05/2017 18h49
Sérgio Moro absolve mulher de Eduardo Cunha em processo da Lava Jato
Reprodução - Foto: Assessoria

O juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), absolveu nesta quinta-feira (25) a jornalista Cláudia Cordeiro Cruz, mulher do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em processo da Lava Jato. Cláudia era acusada dos crimes de lavagem de dinheiro e de evasão fraudulenta de divisas. De acordo com a sentença, não havia provas suficientes de que a mulher de Cunha "agiu com dolo" (quando há intenção de cometer os crimes).

Em junho de 2016, Moro aceitou a denúncia do MPF (Ministério Público Federal) contra Cláudia Cruz. O principal argumento dos procuradores era de que Claudia Cruz pagou despesas pessoais com esses recursos, como indica a petição: "Com os valores de origem criminosa recebidos por Eduardo Cunha em conta, Claudia Cruz utilizou-os para compras de valores vultuosos, mediante a aquisição de bens de luxo em lojas de grife nos Estados Unidos e na Europa, além do pagamento de outras despesas pessoais da acusada e de seus familiares".

Na sentença, o juiz listou 13 compras em alguns dos endereços mais famosos do mundo: Prada, Chanel, Louis Vitton e Balenciaga. Segundo o magistrado, "gastos de consumo com produto do crime não configuram por si só lavagem de dinheiro".

"A acusada teve participação meramente acessória e é bastante plausível a sua alegação de que a gestão financeira da família era de responsabilidade do marido e de que, quanto à conta no exterior, ela tinha presente somente que era titular de um cartão de crédito internacional", anotou Moro.

Moro destacou que "não há nada de errado nos gastos em si mesmos mas são eles extravagantes e inconsistentes para ela e para sua família, considerando que o marido era agente público".

"Deveria, portanto, a acusada Cláudia Cordeiro Cruz ter percebido que o padrão de vida levado por ela e por seus familiares era inconsistente com as fontes de renda e o cargo público de seu marido", observou Moro. "Embora tal comportamento seja altamente reprovável, ele leva à conclusão de que a acusada Cláudia Cordeiro Cruz foi negligente quanto às fontes de rendimento do marido e quanto aos seus gastos pessoais e da família", advertiu o juiz da Lava Jato.

Segundo Moro, a negligência de Cláudia não é "suficiente para condená-la por lavagem dinheiro".

O magistrado alertou que "a absolvição da imputação criminal não impede, porém, eventual responsabilização cível para a devolução do produto do crime gasto de maneira negligente".

Esta ação teve origem em contrato de aquisição pela Petrobras dos direitos de participação na exploração de campo de petróleo na República do Benin, país africano, da Compagnie Beninoise des Hydrocarbures Sarl - CBH. O negócio teria envolvido o pagamento de propina a Cunha de cerca de 1,3 milhão de francos suíços, correspondentes a cerca de US$ 1,5 milhão.

Segundo o Ministério Público Federal, parcela da propina recebida por Eduardo Cunha no contrato de Benin teria sido repassada à conta secreta na Suíça denominada de Kopek, de titularizada por Cláudia.

Também eram réus da mesma ação Jorge Luiz Zelada, ex-diretor da Área Internacional da estatal petrolífera, João Augusto Rezende Henriques e Idalecio Oliveira, empresário português proprietário da CBH (Companie Beninoise des Hydrocarbures Sarl). Na mesma decisão, Moro condenou Jorge Luiz Zelada por corrupção passiva a seis anos de prisão. Zelada já está condenado em outra ação da Lava Jato.

Também foi condenado o suposto operador de propinas do PMDB João Augusto Henriques, que pegou sete ano por corrupção e lavagem de dinheiro. Henriques foi absolvido do crime de evasão fraudulenta de divisas.

O empresário português Idalecio de Castro Rodrigues de Oliveira, apontado como pagador de propina sobre o Campo de Benin, foi absolvido.

Segundo a denúncia, Cláudia Cruz era "a única controladora da conta em nome da offshore Köpek, na Suíça, por meio da qual pagou despesas de cartão de crédito no exterior em montante superior a US$ 1 milhão num prazo de sete anos (2008 a 2014)". O Ministério Público Federal apontou que o valor de US$ 1 milhão gasto por Cláudia é "totalmente incompatível com os salários e o patrimônio lícito de seu marido". Quase a totalidade do dinheiro depositado na Köpek (99,7%) teve origem nas contas Triumph SP (US$ 1.050.000,00), Netherton (US$ 165 mil) e Orion SP (US$ 60 mil), todas pertencentes a Eduardo Cunha.

Em nota, o criminalista Pierpaolo Bottini afirmou: "A decisão judicial reconhece que Cláudia Cruz não lavou dinheiro nem participou de qualquer ato criminoso. Com isso, fez-se Justiça."

Esse era o único processo criminal pelo qual Claudia Cruz respondia, mas ela ainda é acusada de improbidade administrativa em outra ação da Lava Jato que tramita na Vara Cível.