Polícia

Médica que matou ex-marido é levada ao presídio Santa Luzia

Nádia Tamyres teve prisão decretada no final da tarde de ontem pelo assassinado do médico Alan Carlos de Lima

Por Valdete Calheiros - colaboradora / Tribuna Independente 18/11/2025 08h25 - Atualizado em 18/11/2025 08h43
Médica que matou ex-marido é levada ao presídio Santa Luzia
Nádia Tamyres assassinou o ex-marido alegando legítima defesa, versão descartada pela Polícia Civil - Foto: Reprodução

A médica Nádia Tamyres, 38 anos, acusada de ter assassinado o ex-marido, o também médico Alan Carlos de Lima Cavalcante, foi conduzida ao Presídio Feminino Santa Luzia.

Ela teve a prisão preventiva decretada pela juíza Bruna Saback, da 15ª Vara Criminal, na audiência de custódia realizada, no final da tarde de ontem, no Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes, em Maceió.

O crime ocorreu no último domingo em Arapiraca, em frente à Unidade Básica de Saúde (UBS). O advogado de defesa da médica, Luiz Lessa, sustentou que o homicídio foi um “grito de socorro”. Segundo a defesa, ela agiu para se proteger e proteger a filha.

A médica afirmou que “tinha muito medo de morrer”. Ela disse que atirou por acreditar que sofreria emboscada do ex-marido. A acusada disse que se preparava para ir a um salão de beleza quando viu o carro do ex-marido parado perto de uma árvore, na esquina de sua casa. Ela interpretou a cena como uma emboscada.

Ela admitiu que possui porte de arma desde 2020 e andava armada “por medo. Quando vi o carro parado daquele jeito, eu entrei em pânico. Achei que ele ia me matar”, detalhou.

Veículo em que estava médico Alan Carlos foi atingido por vários disparos de arma de fogo no domingo (Foto: Divulgação)

Depois de uma análise técnica nas imagens de segurança e demais elementos da investigação, a Polícia Civil de Alagoas descartou a versão de legítima defesa apresentada pela médica durante o interrogatório. Ela foi autuada em flagrante, no último domingo. Após ter tido a prisão formalizada a autuada, ela foi encaminhada ao Instituto Médico Legal (IML) para exame de corpo de delito.

Segundo o delegado, Daniel Scaramello, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), não houve legítima defesa. “A autora desceu do carro já portando uma arma de fogo e apontando para a vítima. Após uma breve discussão, ela efetuou diversos disparos, impedindo ou dificultando qualquer possibilidade de defesa”, afirmou.

A médica explicou que atirou no ex-esposo antes dele matá-la. “Não sei quantos tiros foram. Vi que ele fez um movimento brusco e fiquei com medo de morrer”, relatou. Ela questionou o fato de ter conseguido uma medida protetiva contra o ex-marido e, mesmo assim, ele estar na rota por onde ela passava.

Após os disparos, a médica deixou Arapiraca em direção a Maceió. Segundo ela, pretendia encontrar o advogado e temia a reação da população. No trajeto, foi abordada pela polícia.

O médico Alan Carlos era réu em um processo por violência física, moral e psicológica, movido pela ex-esposa. No processo, a médica relatou mais de duas décadas de agressões, violências e ameaças atribuindo-as ao ex-marido.

Nádia Tamyres afirmou que, há cerca de um ano e meio, denunciou o ex-marido por suspeita de estupro de vulnerável contra a filha do casal. Segundo ela, a escola, funcionárias e familiares perceberam sinais de sofrimento da menina. “Eu percebi que minha filha estava pedindo socorro”, relatou.

Ainda segundo ela, o inquérito feito pela delegada concluiu que havia indícios de abuso sexual contra a filha. O caso foi encaminhado para a 1ª Vara de Arapiraca.

Após registrar a denúncia, ela diz ter solicitado uma medida protetiva, que foi concedida. A médica afirmou que, mesmo assim, continuou sendo intimidada.

O médico foi denunciado formalmente pelo promotor Saulo Ventura de Holanda, da 2ª Promotoria de Justiça de Arapiraca, em junho de 2025. Em setembro, a Justiça aceitou a denúncia e o tornou réu.

Ela também declarou que continuava sendo ameaçada por Alan Carlos. “Ele ficou me ameaçando com um primo dele, um ex-presidiário, e a polícia também me concedeu medida protetiva contra esse primo”, afirmou.

Segundo Nádia, o primo mencionado teria voltado a rondar o bairro onde ela trabalha e ela precisou acionar a Patrulha Maria da Penha. “Na semana passada, no dia da audiência, o primo dele estava na esquina do posto de saúde. A comunidade me avisou. Eu chamei a Patrulha Maria da Penha. Ele apresentou um documento falso e ficou foragido”, contou.

De acordo com o processo, o casal manteve um relacionamento por 22 anos, que teria sido marcado por agressões físicas, morais e psicológicas. A médica procurou a Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh) para denunciar o caso e pedir ajuda em dezembro de 2024. A pasta, então, acionou o Ministério Público Estadual.

Por conta disso, ela conseguiu uma medida protetiva contra o ex-marido. O documento cita um boletim de ocorrência no qual o médico foi indiciado por suspeita de abuso sexual contra a filha do casal, cuja identidade é preservada por se tratar de uma criança. A médica afirmou ter flagrado o ex-marido “tocando nas partes íntimas da filha do casal”.

Ela contou que o relacionamento começou quando tinha apenas 14 anos e que, desde então, viveu sob “controle, humilhações e ameaças”.
Entre os episódios descritos no processo, a mulher afirma que o médico a impedia de estudar, controlar o dinheiro e decidir o que vestir, além de fazer ameaças para impedi-la de terminar o relacionamento.