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Após incêndio que matou 41 crianças, milhares protestam na Rússia

Protesto pedia a demissão de Aman Tuleyev, governador da região onde ocorreu o incêndio em shopping

Por DW e G1 27/03/2018 15h43
Após incêndio que matou 41 crianças, milhares protestam na Rússia
Reprodução - Foto: Assessoria
Manifestantes acusam autoridades de negligência e de esconder real dimensão do desastre, ocorrido em shopping na Sibéria. Investigações apontam que alarme estava desativado, e saídas de emergência, bloqueadas.Em meio a rumores de que autoridades teriam ocultado o número real de vítimas fatais do incêndio um um shopping na cidade de Kemerovo, na Sibéria, o luto da população se mistura a protestos contra os responsáveis pelo centro comercial, o governo e os políticos. Milhares de russos protestaram nesta terça-feira (27) na praça central de Kemerovo, culpando as autoridades pela morte de ao menos 64 pessoas no incêndio, entre elas 41 crianças, segundo informou a agência russa Interfax. O incêndio, ocorrido no último domingo, destruiu o shopping Zimnyaya Vishnia (cereja de inverno). O lugar era um destino popular para famílias e estava cheio no momento em que foi atingido pelas chamas, no primeiro dia das férias escolares. A lista de acusações populares inclui negligência aos padrões de segurança, bloqueio das saídas de emergência e sobrecarga das equipes de resgate, falhas que teriam transformado o shopping em chamas numa armadilha, especialmente para as crianças que estavam num parquinho interno e no cinema no último andar do edifício. O presidente russo, Vladimir Putin, visitou Kemerovo, 3 mil quilômetros a leste de Moscou, e afirmou que as mortes foram causadas por "negligência criminosa e desleixo". Ele não compareceu à manifestação, que durou pelo menos seis horas. Outras cidades do país também foram palco de homenagens às vítimas do incêndio. Centenas de vítimas? O shopping tinha uma ampla área de entretenimento, incluindo, além de cinema, um zoo com animais de estimação e boliche. Muitas das crianças que estavam no local ainda não foram encontradas. Em meio a especulações nas redes sociais, usuários chegaram a dizer que o real número de mortos seria de 250 a 300 pessoas. Um manifestante, Igor Vostrikov, disse ao governo local que as famílias das vítimas acham que o número de mortes é maior do que o informado, porque o cinema inteiro pegou fogo. "Não estamos pedindo sangue. Precisamos de justiça", disse Vostrikov, que perdeu a esposa, a irmã e três filhas, de dois, cinco e sete anos de idade, no incêndio. "Elas morreram porque estavam trancadas no cinema", disse Vostrikov ao canal de televisão Dozhd. "Elas estavam gritando lá: ‘Estamos presas, estamos sufocando'. Ninguém ajudou porque, quando o incêndio começou, todo mundo saiu correndo", contou. População denuncia resposta defasada A agência russa Interfax informou que os manifestantes se reuniram durante várias horas no centro de Kemerovo para exigir a demissão de Aman Tuleyev, governador da região de mesmo nome. No cargo há mais de 20 anos, o governador não apareceu no protesto, que teve forte presença de policiais e integrantes da Guarda Nacional. Tuleyev também ainda não visitou o local da tragédia, nem encontrou os familiares das vítimas, de acordo com a agência AP. Porém, após encontro com Putin, Tuleyev acusou "a oposição" e "interferências locais" de fomentar o protesto, dizendo que os familiares das vítimas não estavam na manifestação. Putin também foi criticado por não se pronunciar imediatamente à nação ou logo declarar um período de luto. Aparentemente cedendo à pressão popular, ele assinou um decreto declarando luto nacional para esta quarta-feira. "Investigação minuciosa" Putin também visitou uma cerimônia espontânea em memória às vítimas no shopping, onde residentes locais vêm depositando flores, velas e brinquedos. O presidente colocou um buquê de rosas vermelhas no local e exigiu uma minuciosa investigação da tragédia. "Todas as autoridades serão investigadas, começando com aquelas que fizeram o registro do edifício", disse Putin, em declarações divulgadas pela agência estatal de notícias TASS. "Quem permitiu o uso desses materiais? São inflamáveis", afirmou o presidente russo, em alusão a materiais como plástico barato, usados na construção do edifício e que estão sendo apontados como a principal causa da rápida propagação das chamas. O que restou do shopping, construído há cinco anos, será agora derrubado. O prefeito de Kemerovo pediu aos manifestantes na praça central que nomeassem representantes para visitar o necrotério para verificarem que as autoridades não estão mentindo sobre o número de mortos. Alguns poucos manifestantes atenderam ao pedido e se encontraram depois com Putin, que lhes pediu para "não duvidarem" de que haverá investigações transparentes. Bloqueio das saídas Investigadores federais afirmaram que saídas de emergência foram bloqueadas e que um segurança desligou o alarme. Várias outras pessoas foram detidas para serem interrogadas, incluindo o diretor da administradora do shopping e o locatário das instalações onde se suspeita que o fogo tenha começado, próximo ao cinema no quarto andar. Alexander Bastrykin, líder do comitê investigativo, disse a Putin nesta terça que o alarme de incêndio não estava funcionando há duas semanas e que o segurança foi preso, mas que ele ainda não tinha obtido uma explicação para a sua atitude. Um vídeo registrado pelas câmeras de vigilância do shopping mostrou o incêndio começando numa área de entretenimento, com uma nuvem negra de fumaça dominando o amplo espaço em segundos. Adultos se apressaram em juntar as crianças que estavam no local e evacuar o prédio. Nesta terça-feira, autoridades russas anunciaram o fim das buscas por vítimas fatais das chamas.