Interior

Alagoanos resgatados em fazenda de café no Espírito Santo possuíam dívida superior a R$ 10 mil

Trabalhadores estavam em situação análoga à trabalho escravo no Sul do Brasil

Por Tribuna Hoje com agências 15/05/2024 14h37 - Atualizado em 15/05/2024 16h24
Alagoanos resgatados em fazenda de café no Espírito Santo possuíam dívida superior a R$ 10 mil
Grupo de trabalhadores resgatados em fazenda do Espírito Santo - Foto: Cortesia

Os 12 trabalhadores alagoanos que saíram de Penedo, no interior de Alagoas, para irem trabalhar em uma fazenda de café no interior do Espírito santo, em situação análogo a escravidão já possuíam uma dívida com o empregador de superior a R$ 10 mil.

O grupo passou 14 dias no estado em situação insalubre e sem nenhuma condição de trabalho. Wagna Silva, 43 anos, uma das alagoanas resgatadas disse que elas e os demais trabalhadores saíram de Penedo em busca de condições de trabalho, mas não foi o que aconteceu.

“A saímos de Penedo com a proposta de trabalho, que teria muito café para colher e que seria 30 R$ o saco. O empregador pegaria a gente com uma van em Alagoas, pagaria a nossa passagem e depois, e depois repassava o dinheiro do transporte para ele. Porém, toda vez que a gente precisava fazer alguma compra, o valor acrescentava no do transporte. E isso fez a conta ir aumentando” falou a trabalhadora.

Ainda segundo Wagna, porta voz do grupo que denunciou a situação via redes sociais, a informação dada a eles, era de que a passagem seria R$ 6 mil, mas depois passou a ser R$ 8 mil. “Isso fora o valor das compras, dos nosso alimentos. Além disso, se fosse preciso ir ao médico, a gente também iria pagar o transporte – que pertence a família do contratante. Ah, no valor de R$ 100, R$ 150. E foi por conta desses acréscimos que a nossa dívida chegou a o valor de R$ 10.380. Ele falou que se a gente não pagasse, não teria como sair da fazenda’’, relatou.

Ainda segundo a alagoana, não tinha o café prometido para colher. “Na verdade fomos enganados, não havia tanto café para colher, as nossas instalações de moradia era insalubre, mas tinham prometido que seriam boas. No local, havia uma cesta básica e alguns colchonetes, ou seja, a gente dormia no chão de início. Ai, depois nos levaram para um alojamento que tinha quartos, porém, a situação também não era boa para nenhum trabalhador”, denunciou.

De acordo com ela, um dos trabalhadores avisou ao fazendeiro que iria embora, e devido a isso todos foram ameaçados.

“Depois que um dos meninos falou que iria embora, o fazendeiro afirmou que não iria sair ninguém. E se caso acontecesse, ele iria chamar a polícia, pois não iria perder o dinheiro, que era esses R$ 10 mil. Vimos isso como uma ameaça. Mas, como iriamos pagar? Nem café para colher tinha, maioria seco já. Só dava para colher um saco, meio saco por dia’’ expôs Wagna Silva , informando que ela própria chegou a falar com o contratante. “Cheguei a falar e questionei como a gente iria pagar se não havia café para colher. A situação estava difícil e alguns dos meninos até choraram porque de fato tínhamos a dívida e não tínhamos como pagar, pois o trabalho prometido não aconteceu’’.

A mulher disse que foram resgatados e estão em segurança junto a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público do Trabalho (MPT). “No momento estamos em um hotel, até que sejamos levados de volta para Alagoas, mas estamos seguros e agora só queremos justiça. nenhum dinheiro paga a nossa dignidade, foram dias de aflição e medo. Queremos que isso não aconteça com ninguém. Essa fazenda deve ser fechada. Nosso desejo é voltar para nossa família’’, finalizou.