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Júri simbólico de Calabar será realizado dia 22

Evento acontece no Fórum de Porto Calvo, na data em que completa 383 anos da morte do polêmico personagem da História brasileira

Por Claudio Bulgarelli com Tribuna Independente 19/07/2018 08h16
Júri simbólico de Calabar será realizado dia 22
Reprodução - Foto: Assessoria
Um julgamento inédito na História do Brasil está atraindo a atenção e os olhos de turistas, professores e historiadores para a cidade de Porto Calvo. Para uns, herói, para outros, traidor. Para muitos, vilão e oportunista. Para outros, patriota e grande guerreiro. Domingos Fernandes Calabar, ou simplesmente Calabar, um dos personagens mais polêmicos da história do Brasil, finalmente terá enfim seu julgamento, pós-morte. O personagem, que será julgado para sentenciar o seu papel de destaque do período holandês em Alagoas, vai a júri popular no próximo domingo (22), às 10h, no Fórum da cidade de Porto Calvo, região norte de Alagoas. O anúncio foi feito pela Secretaria Municipal de Cultura. O juri simulado acontecerá exatamente na data de 383 anos da morte por enforcamento do polêmico personagem em Porto Calvo. A apreciação será feita especificamente no Fórum Domingos Fernandes Calabar, no Tribunal de Júri Dr. Alfredo Alves. O julgamento pós-morte terá o banco dos réus vazio, mas contará com a presença de autoridades do judiciário alagoano, pesquisadores, estudiosos, jornalistas e outras pessoas que formarão o corpo de júri de 13 pessoas para selar o veredito de Calabar na história do Brasil, Holanda e Portugal. O primeiro a confirmar presença no julgamento foi o presidente da Associação Alagoana de Magistrados (Almagis), Ney Costa Alcântara de Oliveira, que será o juiz do caso. A acusação ficará por conta do promotor Geraldo Magela, sendo auxiliado pelo advogado e sociólogo Rodrigo Leite. Já a defesa de Calabar ficará sob a liderança do advogado José Ailton Tavares, sendo auxiliado pelo advogado Ney Pirauá. O corpo de jurados será formado por 13 pessoas, entre elas já estão confirmados os jornalistas Ênio Lins e Maurício Silva; o historiador Douglas Apratto; o escritor Severino Ramos Barbosa; o professor Valdomiro Rodrigues, entre outras personalidades que vão marcar presença no julgamento que já está conhecido como o “Julgamento da História”. A secretária municipal de Cultura, Maria Terezinha de Oliveira Silva, está muito otimista com a realização do evento. “Será um grande marco na história de Alagoas esse julgamento de Calabar aqui em Porto Calvo. O polêmico personagem será julgado e a expectativa para o resultado será enorme”, declarou. A figura polêmica de Domingos Fernandes Calabar é o personagem mais importante do período holandês em Alagoas. Ele foi taxado de traidor na época por ter desertado do lado português para o holandês. Calabar foi preso em uma emboscada em julho de 1635 e acabou sendo enforcado e teve o corpo esquartejado pelas ruas históricas de Porto Calvo. No século XX, alguns historiadores passaram a considerá-lo herói por ter tido a visão que o domínio holandês seria melhor para o Brasil. Herói ou traidor? O resultado é dia 22 de julho de 2018. De traidor a herói, uma história revisitada   Domingos Fernandes Calabar, morto por enforcamento em 22 de julho de 1635, foi um senhor de engenho na capitania de Pernambuco, aliado dos neerlandeses que invadiram o Nordeste do Brasil. Calabar, a exemplo de Benedict Arnold para os estadunidenses, é tido como o maior traidor da história brasileira. Pouco se sabe desse personagem controverso da História do Brasil: nasce em Alagoas, então parte integrante da Capitania de Pernambuco, por volta de 1600. Foi batizado na fé católica no dia 15 de março de 1610. Mulato, estudara com os jesuítas e, fazendo dinheiro com o contrabando, chega a tornar-se senhor de terras e engenhos. Vários cronistas qualificam, no entanto, Calabar de mameluco (mistura de índio e branco) e não de mulato. [caption id="attachment_118065" align="aligncenter" width="600"] Escultura de Calabar em Porto Calvo; personagem foi considerado um traidor (Foto: Maurício Silva/cortesia)[/caption] Em Porto Calvo, os holandeses prestaram-lhe honras fúnebres. O compositor Chico Buarque, junto a Ruy Guerra, fez em 1973 uma peça teatral intitulada: “Calabar: o Elogio da Traição” onde pela primeira vez a condição de traidor de Calabar era revisitada. Mas este posicionamento dava-se muito mais para denunciar a situação da época ditatorial, do que uma visão historiográfica sobre os fatos do século XVII. O autor, jornalista e historiador alagoano Romeu de Avelar (1893-1972) foi o primeiro a escrever um livro (“Calabar”), em 1938, contestando a ideia de que Calabar teria sido de fato, um traidor. Na época, foi considerado subversivo e teve seu livro apreendido pelas autoridades. Nele, o autor corajosamente argumenta que Domingos Calabar, por ter sido brasileiro e não português, tinha todo o direito de escolher de que lado lutar. Avelar mostra ainda um Domingos Calabar não apenas corajoso, mas também um patriota. Segundo o autor, Domingos Fernandes Calabar foi um insurreto e um clarividente que se antecipou à revolução histórica e liberal do Brasil. O livro foi editado novamente em 1973, após a morte do autor, no ano anterior.