Saúde

No Agreste, mais de 100 podem amputar o pé

Programa quer ampliar adoção de 300 pacientes com diabetes na região

Por Davi Salsa com Tribuna Independente 03/03/2018 10h36
No Agreste, mais de 100 podem amputar o pé
Reprodução - Foto: Assessoria
O elevado número de pessoas que apresentam ferimentos provocados por conta do diabetes, ou de outras doenças que atingem o aparelho circulatório, está mobilizando autoridades e profissionais da área de saúde pública em Arapiraca e em outras cidades do Agreste alagoano. De acordo com levantamento feito pelo cirurgião-vascular Guilherme Pita, que também é professor do curso de Medicina no campus da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em Arapiraca, na segunda maior cidade de Alagoas existem 200 mil usuários cadastrados no Sistema Único de Saúde (SUS). Desse total, cerca de 10%, ou seja, 20 mil pessoas sofrem com problemas ligados à diabetes e somente 10 mil são cadastradas no SUS, enquanto as outras 10 mil pessoas ainda estão subnotificadas. Pita esclarece que cerca de mil usuários do sistema público de saúde têm algum tipo de ferida provocada pelo diabetes. O especialista também adianta que 300 pessoas apresentam feridas graves e mais de 100 pacientes correm o risco de amputação no pé diabético. Mutilação Os dados são preocupantes porque o estado de Alagoas, há mais de dez anos, lidera o número de pacientes mutilados por conta do agravamento das feridas e avanço da doença. O chamado pé diabético é umas das complicações crônicas do diabetes, que ocorre mais frequentemente em pacientes que não fazem um controle adequado dos níveis de glicemia (açúcar) no sangue, o que acaba causando úlceras, infecções; isquemia ou trombose, que, por sua vez, pode levar à amputação. O médico Guilherme Pita, que também integra o Instituto Caiafa em Alagoas, revela que mais de 80% das amputações em pés diabéticos poderiam ser evitadas, caso o sistema público de saúde fosse mais qualificado em sua atenção básica, para cuidar dos pacientes com diabetes. Segundo ele, o sistema SUS ainda não tem um modelo adequado e específico voltado para diagnosticar precocemente e tratar com propriedade o diabetes e suas complicações. Por ter uma cobertura de 90% das ações do Programa Saúde da Família (PSF), o município de Arapiraca foi escolhido para o desenvolvimento do projeto-piloto do Programa Fecha Feridas. A iniciativa conta com o apoio da Sociedade de Medicina de Alagoas, Conselho Regional de Medicina, Instituto Caiafa, Universidade Federal de Alagoas, Universidade de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), empresas parceiras e Secretaria Municipal de Saúde de Arapiraca, que cedeu o prédio do Centro de Referência Integrado (CRIA) para as instituições que fazem parte do programa. Amputações poderiam ser evitadas O cirurgião-vascular Guilherme Pita lembra que, no ano passado, o programa adotou 50 pacientes com pé diabético em Arapiraca, município de referência para a 2ª Macrorregião de Saúde de Alagoas. Para este ano, a meta do programa é ampliar o número para 300 usuários. Pita afirma que o diabetes é responsável por aproximadamente 50 mil amputações de membros inferiores por ano no Brasil. Em Alagoas, são feitas mais de mil amputações por ano, um recorde nacional. “A maior parte das amputações poderia ser evitada com uma maior orientação e capacitação dos profissionais de saúde”, afirma o médico. Pita revela que o programa já realizou 32 cursos e treinou mais de 600 médicos nos estados de Alagoas, Sergipe e Bahia, nos últimos anos. A dona de casa aposentada Terezinha Correia da Silva, 82 anos, residente no bairro Baixa Grande, na cidade de Arapiraca, descobriu por acaso que estava com diabetes, após sofrer um infarto do miocárdio. Antes de ser submetida à intervenção cirúrgica, a dona de casa passou por vários exames e acabou descobrindo a doença. Terezinha Correia conta que os primeiros sintomas do diabetes surgiram depois da cirurgia. “Minha perna começou a doer e passei a ter problemas na circulação. O médico fez muitas tentativas para evitar a amputação, mas não teve jeito e perdi uma parte da minha perna direita”, relata a dona de casa. Cidade sediará encontro entre quatro estados Dona Terezinha Correa está no perfil dos pacientes que engrossam as estatísticas dos diabéticos amputados no município e região. Por conta disso, a cidade de Arapiraca vai sediar, nos dias 9 e 10 deste mês de março, a segunda edição do Encontro de Angiologia, Cirurgia Vascular e Endovascular dos Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Durante o evento também acontecerá o 1º Encontro Alagoano de Enfermagem nos Cuidados das Feridas. O congresso reunirá gestores de saúde, profissionais e especialistas da área, com o objetivo de debater os temas e chamar atenção das autoridades municipais, estaduais e federais para um problema dos cuidados com as feridas na atenção básica de saúde. A programação do evento inclui o diagnóstico dos ferimentos, os tratamentos, as pesquisas e os recursos que podem adquiridos pelos governos federal, estaduais e municipais para tratar das feridas e dos pés diabéticos. Segundo site da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, Maceió sediará de 11 a 13 de outubro deste ano, o 12º encontro Norte-Nordeste de Angiologia, Cirurgia Vascular e endovascular. O evento será no Hotel Jatiúca.