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Documentário sobre transexualidade "TRANSVERSAIS" tem pré-estreia em Maceió

Dirigido pelo alagoano Émerson Maranhão, o longa foi exibido na Mostra Internacional de São Paulo, Cine Ceará, Mix Brasil, For Rainbow e Fest Aruanda

Por Assessoria 17/02/2022 11h52
Documentário sobre transexualidade 'TRANSVERSAIS' tem pré-estreia em Maceió
O longa fez parte da seção Programa Queer.doc do 29o Festival Mix Brasil - Foto: Divulgação

Primeiro longa do roteirista e diretor Émerson Maranhão, TRANSVERSAIS terá pré-estreia em Maceió no próximo sábado, 19/2, às 20h15min. A exibição ocorrerá no Centro Cultural Arte Pajuçara e será seguida de debate com o realizador. O documentário entra em circuito comercial no dia 24 de fevereiro, em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Fortaleza e Maceió. A exibição em outras praças está para ser confirmada.

O longa fez parte da seção Programa Queer.doc do 29o Festival Mix Brasil, e também esteve em outros Festivais brasileiros como a 45a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e o Cine Ceará. Foi premiado como o Melhor Longa Brasileiro e Melhor Roteiro do 15º For Rainbow e recebeu Menção Honrosa no 16º Fest Aruanda.

Produzido por Allan Deberton (“Pacarrete”), o documentário apresenta os depoimentos de quatro pessoas trans que resgatam suas histórias, seus processos de autodescoberta e de trânsitos e jornadas, além de também de uma mulher cisgênero, mãe de uma adolescente trans. Mesmo sofrendo censura do governo federal, que publicamente anunciou que “não tinha cabimento fazer um filme com este tema” e declarou que ele seria “abortado” do edital da Ancine em que era finalista, o filme está circulando em festivais antes de fazer sua estreia em circuito comercial.

As quatro pessoas que participam do filme são: Samilla Marques, uma funcionária pública; Érikah Alcântara, uma professora; Caio José, um enfermeiro; e o acadêmico Kaio Lemos. Eles e elas passaram por um delicado processo de auto-aceitação até compreenderem a sua subjetividade. Hoje vivenciam tecnologias de gênero, como hormônios e cirurgias, que lhe asseguram uma aparência condizente com a maneira como se veem, mas ainda sofrem com a incompreensão, o estranhamento e o preconceito.

Já a jornalista Mara Beatriz, mulher cisgênero, enfrentou a transfobia de perto e refez sua vida ao tomar conhecimento que era mãe de uma adolescente transgênero. Hoje, é uma das mais ativas militantes do grupo Mães pela Diversidade no Ceará.

TRANSVERSAIS é um o documentário é de extrema importância tanto pelo momento político atual quanto pela visibilidade que dá à causa da transgeneridade. “Eu gostaria muito que esse documentário pudesse contribuir para mudar esse cenário tão pavoroso em que vivemos hoje no País. Acho difícil, mas não impossível. É um trabalho de formiguinha. No entanto, se cada espectador que assistir ao filme despir seu olhar dos preconceitos costumeiros para se permitir conhecer esses personagens tão especiais, sentir suas dores e alegrias, e deixar que essas trajetórias tão bonitas e únicas toquem seu corações e mentes, acho que teremos um excelente começo”, comenta o diretor.

O longa, que parte de dois projetos anteriores do diretor, uma websérie e um curta-metragem, foi muito bem recebido em sua estreia na 45a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O crítico Chico Fireman recomendou o longa e escreveu que “[o] radicalismo de TRANSVERSAIS está em como seu tom é de entendimento numa época de intolerância. [E o filme] deveria ser matéria obrigatória em qualquer escola.” Matheus Mans, do site Esquina da Cultura, publicou que “[o] filme, afinal, é uma amostra de como a resistência funciona. Bolsonaro reclamou, o filme existe. Histórias como a da mãe que ficou ao lado da filha quando essa se entendeu e se assumiu como transgênero é um Brasil avesso ao de Bolsonaro e que Émerson Maranhão tão bem consegue colocar na tela. Sentimos a esperança, o alívio e a emoção versus a barbárie.”

Denis Le Senechal Klimiuc, do Cinema com Rapadura, deu a nota máxima ao documentário, e declarou que “muito mais do que colher depoimentos e apresentá-los em uma montagem fluida e leve, Maranhão é hábil ao criar um aspecto enorme para o seu trabalho. O filme inteiro é pautado na vida daquelas pessoas e, portanto, na luz que emanam porque enxergam a metade cheia do copo.”

Já para o crítico Rodrigo Fonseca, do Estadão, que assistiu ao filme durante o Fest Aruanda, o filme é arrebatador. “A projeção de TRANSVERSAIS no Aruanda foi de um arrebatamento dos mais comoventes. Mas não é um .doc que contagia só pela urgência de sua causa ou pela beleza de sua peleja ética. Émerson construiu o que se chama de ‘filme de cinema’, com uma potência plástica singular em seu arranjo de montagem”. E ele completa: “Mas há mais do que delicadeza em TRANSVERSAIS: há uma mirada investigativa capaz de envolver a plateia a partir da triagem das micro violências que cerca o cotidiano de quem está transicionando. TRANSVERSAIS é distribuído pela Deberton Filmes.

Depoimentos das entrevistadas e entrevistados

Samilla Marques Aires -  “Transversais para mim é um rompimento de paradigmas. É desconstruir padrões da nossa sociedade cisheteronormartiva, mostrando nossos corpos e nossas corpas de pessoas trans. Mais que um filme, TRANSVERSAIS para mim é um ato político no momento que a gente vive no País.

“Para mim estar em Transversais é um motivo de orgulho. Fico muito feliz de compartilhar minha história, para que as pessoas conheçam nossas dificuldades e, mais que isso, nossas superações. Para mim, este filme é sobre superação. É claro que tem que ter muito coragem, nem todo mundo gosta de expor suas dores. Mas, de certa forma, me alivia fazê-lo no momento em que pode ajudar outras pessoas”.

Kaio Lemos - “Desde 2018, que a população LGBTQIAP+, e mais especificamente a população trans, está vivendo anos de perseguição e retrocesso em relação aos nossos direitos básicos. A gente vive uma situação muito preocupante em relação a essa população. Nós estamos vivendo uma pandemia de covid-19, mas também vivemos uma pandemia de discursos de ódio, de violência e de morte. É um cenário de pavor. E a população trans é uma das mais atacadas, numa violência legitimada por esse desgoverno atual. A nossa identidade é constantemente colocada em jogo. Acredito que TRANSVERSAIS tem essa potência de desconstrução, a partir das narrativas, das vivências e das práticas dessas pessoas trans que estão no filme. Tudo isso é muito importante. Acredito que Transversais tem a potência de estabelecer um diálogo com a sociedade, Seja uma forma de combater essa violência, que não é só discursiva, é de ações. Ao mostrar a nossa realidade, o filme se torna uma eficaz ferramenta de combate ao patriacardo, ao machismo e ao falocentrismo tão vigentes.

“Participar de Transversais, para mim, é muito importante. Especificamente nesse filme, eu me senti muito bem, eu me sinto em casa. Até porque a maior parte da equipe era de pessoas trans. Isso me permitiu ficar muito mais à vontade, me permitiu me entregar mais, ter liberdade com o meu corpo, ter liberdade com as coisas que eu queria falar e que eu falei. Não que as pessoas cis que estão na equipe não se interessassem, elas se esforçam. Há claramente um esforço de compreensão. As filmagens foram uma situação insider. Eu me senti nessa condição, dentro, participante dessa construção. Foi um diálogo compartilhado. Foi muito bom! Também porque eu acredito que minha experiência vai dialogar com muitas outras pessoas trans no Brasil. O compartilhamento de minha narrativa é uma forma de sensibilizar outras pessoas que estão passando por isso”.

Mara Beatriz -  “Nos dias de hoje, em que a gente está enfrentando tanto ódio, tanta LGBTfobia, o filme que vai mostrar como pessoas trans conseguem superar adversidades, conseguem combater essa LGBTfobia vai ajudar a muitas outras pessoas com essas questões em suas vidas”.

Participar de TRANSVERSAIS foi uma experiência única. A gente nunca tinha feito cinema antes, mas foi muito acolhida. A gente se sentiu muito honrado em ter a nossa história tão fielmente abordada, e de forma tão respeitosa. É um filme que eu tenho certeza que ajudará outras famílias a se relacionarem com pessoas trans”.

Caio José Batista -  “Eu acho que este filme é de fundamental importância para o momento em que estamos vivendo. Porque ele traz uma grande visibilidade para a causa trans”. Foi muito legal participar de TRANSVERSAIS. Foi muito desafiador também, porque é um longa! E eu tive medo de não suprir as expectativas. É um projeto grande e as expectativas são proporcionais, né? Mas no fundo, foi muito legal porque eu consegui rever coisas dentro da minha vida e ver quão importante elas são para a pessoa que eu sou hoje, e que essas minhas vivências podem ajudar a outras pessoas que passam por experiências similares”.

Érikah Alcântara -  “O filme traz a oportunidade de dar visibilidade a pessoas trans dentro de diversos contextos, para além da segregação social imposta, com que comumente somos representadas. O filme mostra que, diferentemente do que a sociedade costuma apontar, nós podemos ser o que quisermos, vivenciar rotinas familiares, rotinas de afeto, rotinas profissionais. Isso tudo de uma maneira muito natural.

“Para mim, participar de Transversais foi muito marcante, tanto porque eu pude relatar boa parte de minha vida, quanto porque uma pessoa muito querida minha, que inclusive participa do filme, partiu vítima da covid-19. Então, esse filme tem uma das últimas imagens dele e isso é muito forte. Sem falar, repito, na oportunidade de mostrar nosso dia a dia, que é um dia a dia comum, mas geralmente as pessoas não fazem ideia disso”.

SINOPSE

Érikah é professora, Samilla é funcionária pública. Caio José é paramédico, Kaio Lemos é pesquisador acadêmico. Mara é jornalista e mãe de uma adolescente. Os cinco têm origens, formações e classes sociais diferentes. Em comum, o fato de ter suas vidas atravessadas pela transexualidade

Ficha Técnica

Roteiro e direção: Émerson Maranhão

Produção: Allan Deberton

Entrevistados: Caio José Batista, Érikah Alcântara, Kaio Lemos, Mara Beatriz, Samilla Marques Aires, Clotilde Batista Da Silva, Edivane Barros, Jânio Torres, José Rogério Franklin, Lara Mendes, Pai Aluísio, Priscila Marques, Priscila Paula Pessoa, Rozelangia de Paula Pessoa

Consultora de Roteiro: Julia Katharine

Assistente de Direção: Breno Baptista

Produção Executiva: César Teixeira

Direção de Produção: Beijamim Aragão

Fotografia e Câmera: Juno Braga, Linga Acácio

Assistente de Câmera: Evye Alves

Som Direto: Guma Farias

Trilha Sonora Original: Clau Aniz

Edição de Som e Mixagem: Érico Paiva (Sapão)

Montagem: Natara Ney

Logger e Assistente de Montagem: Luis Ramon

Fotografia adicional: Irene Bandeira, Júlio Caesar

Colorista : Julia Bisilliat

Créditos e Identidade Visual: Miligrama

Produção: Deberton Filmes

Coprodução: A Sugestiva Filmes

Biografias do diretor e do produtor Émerson Maranhão


Roteirista e diretor de cinema. Nasceu em Arapiraca, no agreste alagoano, e há 23 anos mora e atua no mercado cearense. É graduado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), tem formação técnica em Realização Audiovisual pelo Instituto Dragão do Mar de Artes e Indústria Cinematográfica (CE) e em Narrativas Transmidiáticas, pela Baltic Film, Media, Arts and Communication School, da Universidade de Tallinn (Estônia). Em 2021, foi o único brasileiro indicado ao prêmio Freedom of Expression Award, disputando a categoria de Arte. A premiação é realizada desde 2000 pela organização Index on Censorship, sediada em Londres (Inglaterra), e “celebra aqueles que tiveram um impacto significativo no combate à censura em qualquer lugar do mundo”. É autor do livro “Cinema Falado” (Ed. Dummar), que reúne entrevistas exclusivas com 12 cineastas cearenses de projeção internacional, como Karim Aïnouz (“A Vida Invisível”), Allan Deberton (“Pacarrete”), Halder Gomes (“Cine Holiúdy”) e Guto Parente (“Inferninho”), entre outros. O documentário “Aqueles Dois”, seu curta de estreia, foi selecionado para mais de 60 festivais e mostras nacionais e internacionais e conquistou 20 prêmios. “Transversais” é sua estreia em longas-metragens.

FILMOGRAFIA DO DIRETOR

“Transversais” (2021)

“Aqueles Dois” (2018) – curta-metragem

Allan Deberton

Allan Deberton é formado em Cinema pela Universidade Federal Fluminense. Seus curtas-metragens participaram de mais de 150 festivais nacionais e internacionais conquistando 76 prêmios. Co-produziu a série de TV “Lana & Carol” para a EBC e o longa-metragem documentário “Do Outro Lado do Atlântico”, este último com estreia no 37º Festival de Cinema de Havana (Cuba). Em 2019, “Pacarrete”, seu primeiro longa como diretor, fez estreia mundial no 22º Festival Internacional de Cinema de Xangai, indicado ao Golden Goblet Awards. No Brasil, “Pacarrete” foi o grande vencedor do 47º Festival de Cinema de Gramado, conquistando 8 Kikitos, incluindo Melhor Filme, Melhor Filme Juri Popular, Melhor Roteiro e Melhor Direção. Fez parte da 43º Mostra de Cinema de São Paulo, 21º Festival do Rio, 23º Festival de Tiradentes, 29º Cine Ceará e 22º Florianópolis Audiovisual Mercosul. Internacionalmente, participou do Festin (Portugal), San Digo Festival de Cinema Latino (EUA), New Filmakers Los Angeles (EUA), Festival de Cinema Independente de San Francisco (EUA), Cinemaissí (Finlândia), Festival Internacional de Cinema de Glasgow (Reino Unido), 23º Festival de Cinema Brasileiro de Paris (França), entre outros. Foi o grande vencedor do 47º Festival Sesc Melhores Filmes e eleito Filme do Ano pelas Associações de Críticos do Rio Grande do Sul, do Rio Grande do Norte e do Rio de Janeiro. Entre outros prêmios importantes, recebeu o de Melhor Diretor do 24th International Film Festival of Kerala (Índia). Membro da Associação Brasileira de Autores Roteiristas, da Associação de Produtores Independentes e da Academia Brasileira de Cinema.