Economia

Coronavírus diminui consumo em Alagoas

Economistas da Ufal e da Fecomércio comentam impactos da pandemia, apesar de ainda ser cedo para números concretos

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 19/03/2020 08h43
Coronavírus diminui consumo em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria
Ainda é cedo para cravar o impacto que o coronavírus (Covid-19) na economia, apesar de já haver previsões. No caso específico de Alagoas, alguns setores já sentem sinais de perdas. Para o economista Cid Olival, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o setor do turismo – e os que dialogam com ele – é o que mais sente. “Ainda é muito cedo para falar de impactos, de forma mais concreta. Contudo, algumas coisas a gente já pode perceber na economia de Alagoas como um todo. Por exemplo, a gente tem, de fato, um esvaziamento do consumo das pessoas. Aqueles que podem, estão realizando teletrabalho e consumindo menos, ficando mais reclusos”, diz. “As companhias áreas têm flexibilizado a remarcação de passagem e há o receio em viajar de avião, onde há aglomeração de pessoas e circulação de ar é restrita, portanto, isso tem impacto direto na economia alagoana porque uma parte dela vem do turismo, que envolve não só o setor aeroviário, mas o de transporte, o de alimentação, de hospedagem, ambulantes. Há uma série de setores que giram  em torno do turismo e já começam a sentir o impacto da redução de pessoas”, completa Cid Olival. FECOMÉRCIO Já a Federação do Comércio do Estado de Alagoas (Fecomércio) iniciou pesquisa para determinar os danos econômicos na capital alagoana. Segundo seu assessor econômico, Felippe Rocha, o que já se pode afirmar é que haverá impacto negativo. “Haverá sim impacto, mas estimar isso é um pouco impreciso porque cada região vai reagir de forma diferente. Como sabemos, universidades, públicas e privadas, já suspenderam suas atividades, assim como as escolas; e algumas empresas suspenderam atividades como viagens. Isso surte efeito econômico. Ao suspender viagens a trabalho, a empresa deixa de adquirir passagens, se deixa de consumir combustível, reservas em hotéis. Se arrefece atividade econômica”, explica. “Teletrabalho também gera redução da atividade econômica porque os trabalhadores que iam para a empresa, por exemplo, almoçavam num restaurante próximo, mas trabalhando em casa, ele almoça em casa. Se isso se prolongar por muitos meses, poderá gerar outro efeito negativo que é o desemprego”, completa Felippe Rocha. “Crise mostra importância do Estado na economia”, diz especialista   Em um período em que o Governo Federal sustenta a tese liberal de que o Estado deve deixar para o mercado os rumos da economia, a pandemia do coronavírus, na avaliação de Cid Olival, prova como a realidade vai em sentido oposto. [caption id="attachment_362253" align="alignleft" width="300"] Cid Olival ressalta que Alagoas teve redução de transferências de programas (Foto: Sandro Lima/arquivo)[/caption] “A pandemia mostrou a importância do Estado no desenvolvimento econômico. Ainda bem que a economia não depende só da economia e as pessoas precisam ser consideradas. O que o Governo Federal hoje pratica é a economia por ela mesma e isso não se sustenta. A crise demonstra que o mercado não resolve todos os problemas. Governo e Estado são fundamentais para um processo de desenvolvimento econômico. Sem esse agente econômico que é o Estado, a gente não consegue avançar enquanto sociedade. O caso do coronavírus vem nos mostrar – e provar aos incrédulos – que o Estado é fundamental no processo do desenvolvimento econômico”, afirma Cid Olival. O economista da Ufal destaca a situação da população alagoana. “Em Alagoas, o que mais preocupa é que a gente tem uma população que já teve reduzido os recursos de programas de transferência de renda federais, uma população que não tem acesso, muitas vezes, à água, de forma efetiva, e que tem como único meio de transporte o público. Essas pessoas serão mais atingidas. A gente parte para outros aspectos que não é o mais visível, mas também a saúde pública que tem um custo elevado e mostra a necessidade de o Estado investir”, diz Cid Olival. ESTATIZAÇÃO Já Felippe Rocha ressalta que alguns países analisam a possibilidade de estatizar empresas para contar o desemprego e defender setores estratégicos. “Para tentar evitar uma onda de desemprego, vários países já adotam politicas anticíclicas, tanto monetária quanto fiscal. A Itália já estuda estatizar companhia áreas, a França já pensa em estatização para poder defender as empresas internacionais que surgiram em seus países e são estratégicas”, aponta o assessor econômico da Fecomércio. Felippe Rocha também analisa as medidas anunciadas por Brasília como positivas, apesar de paliativas e que, no futuro, podem gerar problemas. “Vemos com bons olhos os pacotes anunciados pelo Banco Central e pelo Governo Federal, mas consideramos serem ainda insuficientes. Eles cobrem um santo e descobrem outro. Amplia o crédito, adia os pagamentos das empresas, mas a conta uma hora vai chegar e isso pode impactar negativamente para o endividamento das empresas num curto prazo. O pacote do Paulo Guedes adianta o 13º de aposentados e pensionistas e poderá criar uma onda de endividamento em função do consumo do fim do ano”, analisa Felippe Rocha.