Economia

Greve dos caminhoneiros chega ao fim após nove dias de manifestações

Para presidente do sindicato, Valdir Kummer, manifestação “perdeu sentido”

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 31/05/2018 10h23
Greve dos caminhoneiros chega ao fim após nove dias de manifestações
Reprodução - Foto: Assessoria
Após nove dias de manifestações, a greve dos caminhoneiros chegou ao fim em Alagoas, de acordo com o presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens de Alagoas (Sindicam), Valdir Kummer. “Já acabou. Tem uns caminhões lá, mas todo mundo deve sair de hoje para amanhã de lá”. Kummer avalia que o movimento não conseguiu alcançar o objetivo. “Eu acredito que não. Na verdade o combustível continua alto, mesmo com os R$ 0,46 de desconto, não foi exatamente o que a gente queria porque na verdade se misturou muita coisa. Faixa de intervenção militar, outros querendo derrubar presidente, um pessoal muito radical. Para mim ficou difícil até ficar lá por último. Ninguém aceita decisão de ninguém, ficou muito perturbado o negócio”, lamenta. Ele criticou os posicionamentos políticos no movimento, o que segundo ele fez com que o protesto perdesse o foco. “Perdeu o foco, perdeu o sentido. O que faixa de intervenção militar tem a ver com o nosso protesto? Não tem nada a ver! Nosso objetivo é a situação financeira da categoria que está com o rendimento abaixo da condição de trabalho, o foco era esse, o problema era esse”, afirma. O sindicalista diz ainda que a mobilização popular foi fundamental para a manutenção do movimento durante tantos dias. “Graças ao apoio da população principalmente ajudando em mantimentos. Para se ter uma ideia, teve dias que no Posto Reforço a gente serviu em torno de 400, 500 almoços por dia, tinha café da manhã, janta. Em torno de oito pessoas trabalhando na cozinha, um trabalho contínuo o dia inteiro. E isso graças a população que deu suporte em gêneros alimentícios. E a gente não tinha condições de manter isso, caminhoneiros parados tendo que pagar refeição todo dia, sem dinheiro, sem recurso, é complicado. O apoio da população foi essencial. As manifestações nas ruas também foram uma forma de apoio, mas não interfere muito naquilo que a gente estava fazendo lá”. Dentre as propostas do acordo com o Governo Federal, o caminhoneiro acredita que a pauta mínima do frete é a única que pode gerar impactos positivos para as condições de trabalho da categoria. “A pauta mínima de frete sobre eixos na verdade não é uma tabela, e se o caminhoneiro exigir que se cumpra e lei e carrega em cima do valor acho que foi uma conquista grande. Essa realmente vai ser importante, porque evita que se pegue um frete daqui para São Paulo só pelo combustível, que acontece direto. Então fica difícil”, acrescenta. Impactos podem durar até dois meses Com o encerramento da greve dos caminhoneiros em Alagoas, que durou nove dias, é o momento de calcular os impactos. Para as prefeituras é preciso o “retorno à normalidade”. Segundo o assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de Alagoas (Fecomércio-AL), Felippe Rocha pode levar até dois meses para que o mercado alagoano se estabilize. “A volta da normalidade vai depender muito do tipo de produto que está sendo comercializado. Por exemplo, os postos de combustíveis, produtos industrializados, aqueles que vão para as gôndolas dos supermercados, os preços deverão se normalizar dentro de duas semanas. Agora outros tipos de produtos como os agrícolas, por conta da safra e sazonalidade, hortifrutigranjeiros, as granjas... Aí vai demorar uns dois meses para que o produtos volte a custar aquilo que era antes da greve e a oferta se normalizar”. O economista afirma que o prejuízo efetivo em Alagoas chega a R$ 230 milhões. A Fecomércio havia divulgado que o prejuízo poderia chegar a R$ 640 milhões, mas esse valor é uma estimativa baseada na paralisação de toda a cadeia produtiva local, garante Rocha. “R$ 640 milhões seria o valor se todos os setores produtivos estivessem parados. Então o prejuízo estimada, efetivo, é de pelo menos R$ 230 milhões em Alagoas, por adiamento de vendas ou por ter perdido o produto”. PREJUÍZOS Segundo Felippe Rocha, a agropecuária foi o setor mais prejudicado com o protesto dos caminhoneiros. “A gente tem uma estimativa, alguns dados de alguns setores, principalmente o de granjas, que demonstram que cerca de alguns milhões de frangos e pintinhos já morreram de fome, porque não tinha ração; suínos também foram prejudicados, bananas por exemplo. Um comprador perdeu 30 toneladas de banana que veio da Bahia, teve que jogar fora. Então é uma questão de tempo” De acordo com o presidente de Associação de Criadores de Alagoas (ACA), Domício Silva, dois tipos de efeitos foram percebidos: os diretos como morte de animais e perda de produção e os indiretos como dificuldade de escoamento e chegada de insumos. “Primeiro teve o impacto indireto que prejudica o escoamento de produção, chegada de insumos, produtos da industrialização. E o impacto direto, como na avicultura com mortandade de pintos e frangos em Alagoas por conta da falta de ração nas granjas. Outro setor muito prejudicado é o de suínos que é outro muito dependente de ração, as não se tem notícia de morte de animais, de frangos sim. A Associação de Avicultores relatou que estava sem ração e com aves morrendo”, diz. Domício explica ainda que outros impactos, de menor proporção são percebidos na atividade leiteira do estado. “Na questão da pecuária de leite há prejuízos porque algumas indústrias já estão sem embalagens sem insumos para a produção e você acaba tendo problemas na captação do leite. E alguma indústrias de outros estados que compram leite aqui acabaram suspendendo a captação. Você tem um prejuízo imediato seja porque o produtor teve que descartar o leite seja porque teve que vender mais barato. Fora o prejuízo que a gente não tem como dimensionar em valor, que é a falta de concentrado para a pecuária. Muitas indústrias estão sem o farelo de trigo e de soja necessários para o concentrado. Coringa está desde quinta-feira da semana passada sem produzir nada e sem produzir os produtos deles, eles param de produzir o subproduto que é o farelo. Retorno à normalidade é gradativo, diz Associação A Associação dos Municípios Alagoanos (AMA) informou que apenas os serviços essenciais têm sido mantidos na maioria dos municípios. No entanto, nos municípios de Campestre, Canapi, Estrela de Alagoas, Joaquim Gomes e Mata Grande há paralisação da oferta de serviços públicos por falta de combustíveis e insumos. “Com o início da desmobilização do movimento grevista, algumas cidades começam a receber combustível e normalizar a situação, como Água Branca, Japaratinga e São Sebastião. A Associação dos Municípios Alagoanos (AMA) emitiu ontem (30) uma nota para as prefeituras orientando a decretação de ponto facultativo na sexta-feira, dia 1, após o feriado de Corpus Christi, resguardando os serviços essenciais” Em Quebrangulo, por exemplo, a prefeitura estima que pode levar até quinze dias para normalizar a oferta dos serviços públicos. Já em Boca da Mata a prefeitura está buscando combustível em outros municípios. Em outras cidades, a maioria dos serviços foi afetada, apenas os essenciais como saúde e coleta do lixo continuam. União dos Palmares, Porto de Pedras, Olho d’Água das Flores, Passo de Camaragibe, Pindoba, Delmiro Gouveia, Campo Alegre, Batalha e Barra de Santo Antônio, enfrentam problemas no abastecimento de combustíveis e dificuldade em serviços. Em outros falta combustível, mas não há informações se os serviços continuam, como Minador do Negrão e Monteirópolis. O Sindicombustíveis-AL informou à reportagem da Tribuna Independente que não há estimativa de quanto tempo levará para que os 520 postos do estado tenham seus estoques abastecidos. Segundo a entidade, cabe às distribuidoras elaborar o cronograma de abastecimento. “O sindicato, juntamente aos órgãos e empresas distribuidoras está fazendo o maior esforço possível para que o abastecimento seja reestabelecido o mais breve possível”, afirma a entidade.