Economia

Incertezas e economia com o “mais do mesmo”

Para Cid Olival, da Ufal, país chegou ao fundo do poço e não desce mais

Por Carlos Amaral 30/12/2017 07h52
Incertezas e economia com o “mais do mesmo”
Reprodução - Foto: Assessoria
O ano de 2018 promete ser repleto de novidades e, para além da Copa do Mundo da Rússia, incertezas na política e economia sem novidades. O ambiente tumultuado do país tende a se agravar devido à eleição presidencial, a primeira após o processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), cujo sucessor é recordista de impopularidade. O nível do emprego, apesar de alguma melhora estatística no final deste ano, é ruim. O dinheiro circulante nas ruas diminuiu e direitos sociais foram retirados. Como de praxe, as medidas adotadas que criaram esse quadro agradam ao mercado financeiro. No ambiente político propriamente dito, diversos atores tentam seu lugar ao Sol num agressivo vale-tudo de bastidor perceptível aos olhos mais sensíveis às nuances da política brasileira. Nessa seara vale também o uso do Judiciário como indutor da política e da econômica, por tabela. E vice-versa. Para o economista Cid Olival, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o cenário em 2018 segue sendo bastante difícil e a economia no país, ao contrário do discurso oficial, não está em recuperação. “Falácia”. “A gente meio que chegou ao fundo do poço e não tem mais o que descer. A expectativa para 2018 é que a gente tenha uma taxa de crescimento muito baixa, mas não negativa. O que já é um aspecto positivo. No entanto, as reformas feitas, como a trabalhista, e a aprovação da PEC do teto dos gastos tiram o Governo da economia e deixa o setor privado. O problema é que ele está na espreita por causa das incertezas políticas”, comenta o economista. Além dos números macroeconômicos, ele pontua o problema da distribuição de renda, em queda no país, de acordo com sua análise. “A distribuição de renda vai se agravar. A reforma trabalhista aumentou a precariedade dos empregos e se têm explodido notícias de demissões no setor privado para contratações de novas pessoas pelas novas regras e com salários mais baixos. Isso freia a economia. Sem falar no salário mínimo, que foi desvalorizado. Mesmo com taxa de inflação baixa, não há ganho real de renda por parte da população. Isso tem impacto direto no consumo. Fora a contenção dos programas de transferência de renda”, diz Cid Olival. É neste cenário econômico que os partidos políticos tentarão “vender seu peixe” nas eleições de 2018, tentando não se arranhar com as investigações e processos sobre casos de corrupção, cada vez mais midiáticos e dominantes nos noticiários. Partidos grandes são favoritos para eleições Se as incertezas políticas afetam diretamente o grau de investimento na economia, maus resultados nessa área afetam diretamente o jogo político. Essa relação de mão dupla dá o tom das disputas eleitorais e do ânimo e disposição do eleitorado. Contudo, é nesse “baile” que partidos e pretensos candidatos tentam se firmar e se pôr como alternativas para 2018. Para o cientista político Ranulfo Paranhos, da Ufal, a eleição presidencial do próximo ano deve girar em torno dos grandes partidos. “O Geraldo Alckmin passou a ocupar o espaço de destaque no PSDB com a crise do Aécio e também se livrou do João Dória [prefeito de São Paulo]. Além disso, ele sai do grande estado do país. O Bolsonaro deve desidratar na campanha. Seu discurso empolga agora, a analista de internet, mas na tevê ele não consegue competir com os grandes partidos. O grosso do eleitorado não aceitas extremismos, e o Bolsonaro tem discurso extremista para o conservadorismo”, pontua Ranulfo Paranhos. FATOR LULA Para o cientista político, em caso de Lula não ser candidato em 2018, o petista deve ser o centro da campanha eleitoral ao menos em seu início. Se sua presença não gerar resultados, o ex-presidente será deixado de lado. “Como o tempo de campanha diminuiu, é possível que na primeira rodada dos guias na tevê ele seja o grande alvo. Positiva ou negativamente. Mas se isso não surtir efeito, será colocado de lado. Ele será o eixo central da eleição, talvez, no início. Se assim será até o fim, vai depender disso. Particularmente, acredito que se perca o interesse”, comenta Ranulfo Paranhos. Contudo, o cientista político ressalta que se Lula for candidato será o centro da campanha eleitoral invariavelmente, ao menos até o 1º turno. “Se ele for candidato, é o alvo de todos”, enfatiza. ALAGOAS Já em relação à disputa pelo Governo do Estado, Ranulfo Paranhos entende que ela se dará em torno de Renan Filho (PMDB) – candidato à reeleição – e Rui Palmeira (PSDB), prefeito de Maceió. Segundo ele, o peemedebista poderia estar melhor junto ao eleitorado. “Tem pesquisas de bastidores que apontam uma distância menor do que se imagina entre Renan Filho e Rui Palmeira, principalmente diante das ações do Governo pelo estado. Acredito que isso seja rejeição ao fato de ele ser um Calheiros. Mas é claro que ainda está muito longe da eleição e teremos campanha nas ruas e na tevê”, pontua Ranulfo Paranhos. Para ele, Rui acerta em não tornar pública sua decisão sobre candidatura em 2018. “Acredito que está certo em esperar. E com a saída de cena do Teotonio Vilela Filho [PSDB], ele ganhou mais espaço. É difícil Rui não ser candidato porque o grupo que o apoia faz muita pressão e ele deverá ter apoio do Palácio do Planalto, que quer derrotar Renan Calheiros [PMDB] por ter se tornado o maior inimigo do Michel Temer [PMDB] no Senado”, analisa. Ranulfo Paranhos ressalta recentes informações de que o presidente Temer está investindo nas candidaturas dos ministros Marx Beltrão (PMDB) para o Senado e de Maurício Quintellla (PR), ou para o Senado ou para a Câmara dos Deputados. Além do senador Benedito de Lira e de seu filho, deputado federal Arthur Lira – ambos do PP.