Cooperativas

Eduardo Suplicy reforça sua luta por um Brasil mais justo e solidário

Em seu segundo mandato como vereador paulistano, político deu entrevista ao portal Easycoop

Por Easycoop 25/10/2019 17h56
Eduardo Suplicy reforça sua luta por um Brasil mais justo e solidário
Reprodução - Foto: Assessoria
Engana-se quem pensa em um Eduardo Matarazzo Suplicy curvado ou cansado. Aos 78 anos, completados em 21/6/2019, com experiência de vida e trajetória invejáveis, se mostra um jovem cheio de sonhos. Economista, administrador de empresas, professor universitário e lutador de boxe, ele passou 24 anos no Senado, mas também foi deputado estadual, federal e está hoje em seu segundo mandato como vereador paulistano. Seus olhos brilham ao falar de seus projetos de Renda Mínima e de Renda Básica de Cidadania, que o tornaram conhecido em todo o Brasil e no exterior, e ao mencionar suas iniciativas em favor da economia solidária, do cooperativismo e das minorias. Emociona-se ao falar dos pais, avós e avôs que lhe marcaram a alma com sentimentos de justiça social e de construção de um mundo mais solidário. Transita pela história mundial com rara desenvoltura, citando os grandes pensadores que lutaram por justiça social, antes de Cristo e depois de Cristo, até nossos dias. Com alguns deles, como Paul Singer, cultivou grande amizade. Quase chega às lágrimas ao ler um trecho do famoso discurso “Eu tenho um sonho”, de Martin Luther King, Jr, publicado na pág. 211 de seu livro “Renda de Cidadania – A saída é pela porta” (já na 7ª edição, pela Cortez Editora). É uma obra imperdível, em especial para os que abraçam o sonho de Suplicy – a construção de um Brasil mais justo, onde todos tenham renda suficiente para viver com um mínimo de dignidade. Confira aqui a íntegra do depoimento, uma conversa de duas horas. A entrevista condensada está na revista EasyCoop, tanto na versão impressa como na digital - http://www.cooperativismo.org.br/Revistas/ Meu sonho: instituir para valer a renda básica EasyCoop - O Sr. tem uma trajetória de vida dedicada a causas sociais. Muitos sonhos realizados. Aos 78 anos, qual ainda é seu maior sonho? Eduardo Suplicy – Instituir para valer a Renda Básica de Cidadania no Brasil. Foi objeto da aprovação da Lei 10.835, de 2004. Foi aprovada por todos os partidos no Senado Federal em 2002 e por todos os partidos na Câmara dos Deputados em dezembro de 2003. Na época era deputado federal o atual presidente Jair Bolsonaro, que não fez qualquer objeção. Foi o presidente Lula quem, numa bela cerimônia, em 8 de janeiro de 2004, a sancionou. Diz a Lei que a renda básica de cidadania deve ser igual para todos os residentes no Brasil, não importando sua origem, raça, sexo, idade, condição civil ou socioeconômica. Todos passam a ter direito de receber uma renda que, na medida do possível, com o progresso do país, será suficiente para atender às necessidades vitais de cada pessoa. A ninguém será negada, até para os que têm mais. Obviamente, se temos mais, colaboraremos para que nós próprios e todos os demais venham a receber. Diz a Lei que ela será instituída por etapas, a critério do Poder Executivo, começando pelos mais necessitados, como faz hoje o Programa Bolsa Família, que pode ser visto como um passo na direção da implantação da Renda Básica de Cidadania. Hoje (1º de outubro) saiu no Valor Econômico um artigo dos economistas Sergei Soares, Pedro Ferreira de Souza e outros pesquisadores do IPEA que explicam por que o país deve adotar um benefício universal a crianças. Sua proposta é substituir o Bolsa Família, o Salário Família e o percentual abatido do Imposto de Renda para cada dependente até 16 anos, ou mais se estiver estudando – um benefício que é dado a pessoas com maior renda, - por uma renda básica universal para todas as pessoas até 18 anos. A Lei 10.835 diz que a Renda Básica de Cidadania será paga a todas as pessoas residentes no Brasil, homens e mulheres de qualquer idade, inclusive aos estrangeiros aqui residentes há cinco anos ou mais. Pagar um benefício universal a crianças e adolescentes até 18 anos significa um passo importante na direção de instituir a renda básica universal para todos. EasyCoop – É uma saída pela porta, sem violência? Suplicy – Em verdade, a proposta de garantia de uma renda para todos acompanha a história da humanidade. Quando o Sr. saiu de casa hoje, saiu pela porta. É o que afirmo no meu livro “Renda de Cidadania – A saída é pela porta”. No ano 520 antes de Cristo, o mestre Confúcio, no “Livro das Explicações e Respostas”, observou que a incerteza é ainda pior do que a pobreza. Pode alguém sair de casa senão pela porta? É uma questão de bom senso se nós quisermos, efetivamente, cumprir o que diz o Artigo 3º da Constituição brasileira - “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização; reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Uma solução de bom senso quando saímos de casa pela porta (ou seja, buscamos justiça social sem violência) é instituirmos a Renda Básica de Cidadania incondicional para todos. Justiça social vista por Aristóteles e pela Bíblia EasyCoop – Mas sempre houve desigualdades ao longo da história... Suplicy – Se recuarmos para o ano 350 antes de Cristo, nos depararemos com o filósofo grego Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.). Em seu tratado “A Política”, diz que a política é a ciência de como alcançar o bem comum, uma vida justa para todos. Para isso é necessária a justiça política, que precisa ser precedida da justiça distributiva, que torna mais iguais os desiguais. Se verificarmos o que está na Bíblia Sagrada, no Antigo Testamento, qual é a palavra mais citada em hebraico – 523 vezes? Disse-me o rabino Henry Sobel que é justiça social, justiça na sociedade. Está presente no Livro do Êxodo, nos Provérbios, no Deuteronômio e tantos outros. Não é à toa que o MST (Movimento dos Sem-Terra) abre seus encontros de formação com a leitura do Êxodo, para lembrar a luta pela terra prometida, por reforma agrária, por justiça na sociedade. No Novo Testamento, nos Atos dos Apóstolos, está escrito que eles venderam seus bens, passaram a viver em comunidade, de maneira a prover a cada um suas necessidades. Em suas parábolas, como a do “Senhor da Vinha”, Jesus diz que o senhor contratou inúmeros trabalhadores ao longo da jornada, na primeira, na segunda, até na última hora do dia. Com cada um combinou um pagamento que ambos consideravam justo. Ao receber seu pagamento, o que começara na primeira hora reclamou: “Mas o Senhor está me pagando o mesmo que ao último? Eu trabalhei mais do que ele”. Jesus respondeu: “Estou te pagando o que combinamos como justo. E o último que chegou também precisa receber o necessário para o sustento de sua família”. Em sua segunda carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo afirma que “todos nós devemos seguir o exemplo de Jesus que, sendo tão poderoso, resolveu se solidarizar e viver entre os mais pobres. Para que haja justiça, para que haja igualdade, não tenha demais toda a pessoa que teve uma safra abundante; e não tenha de menos toda a pessoa que teve uma safra pequena”. Se verificarmos o que pensam os seguidores de Maomé, do Islamismo, encontraremos mensagem similar nos livros dos grandes califas que o sucederam. Omar, o segundo deles, diz que toda aquela pessoa que detém um grande patrimônio deve destinar uma parcela para os que pouco ou nada têm. No Budismo, o Dalai Lama diz em seu livro, “Uma Ética para o Novo Milênio”, que “se for para aceitar o consumo tão suntuoso dos mais ricos, nós precisamos antes assegurar a sobrevivência de toda a humanidade”. Thomas More: ajuda é melhor que pena de morte EasyCoop – Como o Sr. vê a contribuição de Thomas More? Suplicy - Seguindo mais adiante na história, nos deparamos com o filósofo inglês Thomas More (1478-1535). Em 1516, escreveu “Utopia”, obra dividida em dois livros. No primeiro, há um diálogo sobre a pena de morte, que foi instituída na Inglaterra no início do século 16, mas não contribuiu para diminuir a criminalidade violenta - assaltos, roubos e assassinatos (esta é uma lição muito importante para o presidente Jair Bolsonaro saber). No diálogo, o personagem Rafael Hitlodeu (que em grego significa contador de histórias), um viajante português, observa que, muito mais eficaz do que infligir esses castigos horríveis a quem não tem outra alternativa senão primeiro tornar-se um ladrão para depois ser transformado em cadáver é você assegurar sua sobrevivência. Com base nessa reflexão, um amigo de Thomas More, o espanhol Juan Luis Vives, escreveu em 1526 para o prefeito da cidade flamenga de Bruges (noroeste da Bélgica) um tratado de subvenção aos pobres, onde, pela primeira vez, propõe o direito à sobrevivência das pessoas. Thomas Pine já citou o conceito de renda básica EasyCoop – E a contribuição de Thomas Paine? Suplicy - Já no século 18, surgiu outro Thomas muito importante, Thomas Paine (1737-1809 - revolucionário político inglês que virou um dos pais “fundadores” dos Estados Unidos). Tornou-se amigo de um dos líderes da Revolução Americana, Benjamin Franklin, o inventor do pára-raios, que o convenceu a viver na América como contador. Paine era um arguto observador dos costumes, valores e procedimentos. Em janeiro de 1776, escreveu um ensaio denominado “Common Sense” (Senso Comum). O presidente George Washington confidenciou a um amigo que nenhum outro livro tivera tamanha influência na mente dos americanos para lutarem por sua independência. Seis meses depois, em 4/7/1776, 150 mil exemplares da obra, uma tiragem fantástica para a época, foram distribuídos pelas ruas da Filadélfia e em cidades das 13 colônias americanas. Foi o dia da proclamação da independência dos Estados Unidos. “Senso Comum” contrariou o bom senso para a colônia britânica. Proclamada a independência, Paine começou a se sentir perseguido por suas ideias, consideradas ousadas e progressistas, e decidiu voltar para a Inglaterra, sua pátria. Mas lá foi hostilizado e seus livros começaram a ser queimados, sendo responsabilizado pela perda da principal colônia inglesa. Decidiu ir para a França e lá se engajou na luta por liberdade, igualdade e fraternidade. Três anos após a Revolução Francesa de 1789, embora estrangeiro, foi eleito Constituinte francês. E nessa posição escreveu um ensaio para a Assembleia Nacional Francesa, denominado “Justiça Agrária” (que está reproduzido em meu livro). Em 20 páginas, ele diz que a pobreza tem a ver com a civilização e a instituição da propriedade privada. A propriedade era comum entre os índios da América. Mas ele considerava de bom senso que uma pessoa que cultivasse a terra realizasse ali benfeitorias e pudesse usufruir de seu trabalho na sua propriedade. Mas era seu plano que toda a pessoa que assim o fizesse destinasse uma parcela de seu rendimento para um fundo que a todos pertenceria. E deste fundo, uma vez acumulado, se pagaria a cada pessoa tanto um capital básico quanto uma renda básica, como um direito inalienável de todos participarem da riqueza comum da nação. Uma renda como um direito à cidadania a ninguém seriam negado. “A cada um de acordo com suas necessidades” EasyCoop – E qual a maior contribuição dada por Karl Marx e Friedrich Engels? Suplicy – Karl Marx publicou em 1848, junto com Friedrich Engels, o Manifesto Comunista. E mais tarde os volumes de “O Capital”. Em 1875, escreveu a “Crítica ao Programa de Gota”, onde ele diz que, em uma sociedade mais amadurecida, os seres humanos vão se portar de tal maneira que se poderá inscrever como lema de sua bandeira 12 palavras em inglês – que o grande economista John Kenneth Galbraith, em “A Era da Incerteza”, observou que tiveram um efeito ainda mais revolucionário do que os volumes de “O Capital” – “From each according to his capacity, to each according to his needs” ("De cada um, de acordo com a sua capacidade; a cada um, de acordo com as suas necessidades"). Certo dia, fazendo uma palestra para as Comunidades Eclesiais de Base, em Brasília, na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, eu fui citando dezenas de economistas, pensadores e filósofos ao longo da história que defendem a renda básica. O saudoso D. Luciano Mendes de Almeida, grande defensor dos Direitos Humanos, que presidia a conferência, me disse: ‘Eduardo, você não precisa citar Karl Marx para defender sua proposta. Ela é muito melhor defendida por São Paulo na 2ª Epístola aos Coríntios”. Daí em diante passei a citá-los juntos. Movimento ganha força a partir do século 20 EasyCoop – Mas há mais intelectuais pensando nessa direção... Suplicy - São muitos os outros pensadores e filósofos. No início do século 20, vários se dedicaram a análises daqueles grandes movimentos que abalaram a Europa antes da 1ª Guerra Mundial – anarquismo, socialismo, sindicalismo. Após analisar essas proposições e ideias, chega-se à conclusão de que o meu plano é exatamente esse: que cada pessoa possa obter o necessário para a sua subsistência. E daí para a frente cada um vai receber aquilo que conseguir por seu talento, esforço, capacidade, produtividade, criatividade. Mas a ninguém será negado o mínimo para a sua sobrevivência. Ao longo do século 20, dezenas de pensadores e laureados com o Prêmio Nobel de Economia – Dennis Milner, Mabel Milner, Joan Robinson, James Edward Meade, John Maynard Keynes, George Joseph Stigler, Milton Friedman, James Tobin - passaram a defender a garantia de uma renda mínima. Alguns, primeiro, por meio de um imposto de renda negativo. Outros, depois, mais e mais, por meio de uma renda básica universal e incondicional. Entre esses, James Edward Meade (1907-1995), Prêmio Nobel de Economia. Ele escreveu uma trilogia sobre Agathotopia (em grego, um bom lugar). Agathotopianos construíram um “bom lugar” EasyCoop - E como James Meade descobriu Agathotopia? Suplicy - Em “Agathotopia: The Economics of Partnership”, ele diz que, por um longo tempo, esteve em busca de Utopia. Por mais que navegasse, não conseguiu encontrá-la. No caminho de volta, deparou-se com Agathotopia. Lá chegando, tornou-se amigo de um economista que lhe disse: “Os agathotopianos sabem onde fica Utopia, mas não vão lhe contar porque têm uma grande diferença com os utupianos, que são seres humanos perfeitos e vivem num lugar perfeito, enquanto nós agathotopianos somos seres humanos imperfeitos, que cometemos nossas bobagens e perfídias. Mas nós conseguimos construir um bom lugar. E Meade estudou então as instituições e arranjos sociais de Agathotopia e ficou persuadido de que eram as melhores que até então havia encontrado, para ao mesmo tempo atingir os objetivos que de há muito a humanidade e também os economistas tanto queriam – liberdade, no sentido de cada pessoa poder trabalhar no que deseja e gastar o que recebe naquilo que quiser; igualdade, no sentido de não haver grandes disparidades de renda e de riqueza; e eficiência, no sentido de se alcançar o maior padrão de vida possível com os recursos e as tecnologias vigentes. E quais eram as instituições? Primeiro, flexibilidade de preços e de salários para alcançar a melhor alocação de recursos e o melhor padrão de vida possível; segundo, muita interação entre capital e trabalho, entre empresários e trabalhadores, podendo os trabalhadores serem contratados por quotas de participação nos resultados. Mas, às vezes, por causa de intempéries, golpes, guerras, revoluções e instabilidades, podem ocorrer quedas de salários e de participação nos resultados. Daí, precisa haver outro instrumento, que é, justamente, a renda básica de cidadania universal, para todos. No último capítulo dessa obra, Meade diz que o importante é caminhar firmemente na direção de conseguir aplicar esses ensinamentos. Se pretendermos instituí-los todos ao mesmo tempo, aí vem tudo o que se observou no século 20 – guerras, revoluções, golpes de estado, instabilidades políticas. O importante é caminhar naquela direção. “Estou confiante de que meu sonho se realizará” EasyCoop – Então, foi com base nessas teses que o Sr. começou sua luta? Eduardo Suplicy - Em 1991, quando cheguei ao Senado, apresentei um primeiro projeto de garantia de renda mínima por meio de um imposto de renda negativo. Foi aprovado pelo Senado em 16 de dezembro de 1991 por todos os partidos, com três ou quatro abstenções (mas não foi adiante na Câmara). Do debate a respeito do Programa de Garantia de Renda Mínima surgiu a ideia de relacioná-lo às oportunidades de educação e de saúde. Daí vieram os programas Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Auxílio Gás, Cartão Alimentação etc., até que, em outubro de 2003, o presidente Lula unificou e racionalizou esses benefícios. Avançando nos estudos sobre esse tema de garantia de uma renda, eu fiquei persuadido de que, melhor ainda do que o Programa de Garantia de Renda Mínima por meio de um imposto de renda negativo, mesmo que vinculado às condições de educação e saúde, seria a renda básica incondicional. Por isso, em dezembro de 2001, apresentei o Projeto de Lei para instituir a renda básica incondicional. Foi designado relator o então senador Francelino Pereira, ex-governador de Minas Gerais. Disse-me na ocasião: “Olha Eduardo, tenho 81 anos. Quero estudar seriamente a sua proposta”. E o fez. Dei-lhe meu livro (Renda de Cidadania – A Saída é pela Porta), que então, 2002, estava na primeira edição. Ele o estudou e disse: “Eduardo, é boa ideia, mas precisa torná-la compatível com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Que tal você aceitar um parágrafo que diga que será instituída por etapas, a critério do Poder Executivo, começando pelos mais necessitados?” E assim aconteceu. Aqui está a Lei que institui, a partir de 2005, a renda básica universal para todos. A abrangência será alcançada em etapas, a critério do Poder Executivo, priorizando-se os mais necessitados, como faz o Bolsa Família. Por isso, ela é uma passo na direção da renda básica universal. É a história de Agathotopia: o importante é caminhar firmemente naquela direção. Por isso, estou confiante de que meu sonho vai se realizar. Valores herdados dos pais foram determinantes EasyCoop – O Sr. nasceu em família abastada. Em que etapa da formação nasceu a vocação de trabalhar pelos excluídos do desenvolvimento econômico? Suplicy – Meu pai, Paulo Cochrane Suplicy, e minha mãe, Filomena Matarazzo, eram muito católicos. Sou o 8º de 11 filhos e filhas. Eles me transmitiram valores cristãos. Morávamos numa casa muito boa, na alameda Casa Branca com a alameda Santos, diante do parque Siqueira Campos. Meu pai deixou muitos exemplos. Ele era um corretor bem-sucedido. Tinha escritório de corretagem de café, algodão e outros produtos. Como minha mãe, era irmão leigo da Ordem Terceira do Carmo e ambos integravam a Confederação das Famílias Cristãs. Ele participou da Organização do Auxílio Fraterno, que provê ajuda a pessoas carentes. Por 30 anos, foi presidente da Fundação Casa do Pequeno Trabalhador, que criava oportunidades a meninos de 10 a 15 anos para, em parte do dia, serem guardinhas de automóveis ou engraxates, e em outra parte, estudarem. Ele recebia muitas pessoas que o procuravam. Às vezes, eu ia com ele até o portal de casa e ele me dizia coisas que são preciosas para mim e toda a minha equipe. “Olha, meu filho, mais importante de qualquer ajuda que você possa dar a uma pessoa é poder ouvir a história dela. Isso ficou gravado em mim. E aos poucos fui me dando conta dessas situações. De um lado minha família, primos e primas com todas as facilidades e de outro... Eu dormia diante do Parque Siqueira Campos e por vezes, à meia-noite, era acordado com gritos. Ia ver o que tinha ocorrido - alguns policiais dando cacetadas em mulheres que eram levadas ao Distrito Policial e três ou quatro dias depois estavam de volta lá, vendendo o seu corpo. Por que será? Às vezes ia passar férias em Bragança Paulista, na fazenda Boa Esperança de meus avós Andrea e Amália Cintra Ferreira Matarazzo. Jogava bola com os colonos da fazenda, tomava lanche com eles e às vezes os convidava para vir em casa. Percebia diferenças bastante grandes. Algumas dessas pessoas que comigo jogaram bola se tornaram mais tarde líderes de reivindicações de trabalhadores rurais. As lições aprendidas nos ringues com pugilistas EasyCoop – Como virou um campeão de boxe? Suplicy – Na adolescência, houve outra curiosidade. Um dia estava andando com alguns amigos na av. Paulista, do Colégio São Luiz à alameda Casa Branca. Quando cruzamos com um grupo de 15 a 20 estudantes, uma pessoa no meio deles gritou: “O que é que está olhando?” Avançou sobre mim, rodamos no chão. Cheguei em casa ensanguentado. Pouco sabia de defesa pessoal. Aí perguntei a meu cunhado se ele não conhecia um professor de boxe. E ele me apresentou a Lúcio Inácio da Cruz, que havia sido campeão brasileiro de meio-pesado. Treinei dos 15 aos 21 anos, lutando duas a três vezes por semana e fazendo ginástica. Um dia o professor me chamou, disse que eu estava lutando muito bem e que poderia disputar o Campeonato Gazeta Esportiva de Boxe. Participei. E coube ao jornalista Newton Campos, que cobria boxe, registrar minha vitória na Gazeta Esportiva: “Eduardo Matarazzo Suplicy sai da lona para ganhar por nocaute”. Tive oportunidade de treinar em muitas academias com lutadores conhecidos, como Paulo de Jesus, Milton Rosa, Abrão de Souza e Eder Jofre. Estive com o Eder em 29/9. Está com 83 anos. Fizemos uma foto e lembramos episódios do passado. O boxe, que é um esporte praticado por pessoas de famílias bem mais modestas, me fez observar que no ringue éramos todos iguais. Nos bate-papos, no entanto, sentia grandes diferenças entre nós. E isso me trouxe uma consciência importante. Conceito de renda mínima nasce com doutorado EasyCoop – E como foi o despertar para a doutrina social? Suplicy – Outro episódio que marcou minha formação ocorreu aos 14 anos, quando fui crismado no Colégio São Luiz (Crisma é o sacramento de confirmação na fé católica). Escolhi para padrinho de Crisma Dilson Domingos Funaro, noivo de minha irmã e então dono da fábrica de brinquedos Trol. Ele me deu de presente a história de Galileu Galilei. Li e fiquei muito impressionado com o exemplo de um homem que queria saber a verdade. Também assisti ao filme de Nicolau Copernico. Em uma cena do filme, a mulher e a filha perguntam: “por que você fica aí falando que a Terra é redonda e não é o centro do universo? Você não vê que está incomodando os poderosos, a Igreja? Quero saber a verdade. Por que você tanto quer saber a verdade?” Essas coisas mexeram muito comigo. Passei de um aluno médio a um dos melhores da classe. E comecei a ter amigos que ficavam se perguntando por que tantas diferenças sociais, o que é o socialismo, o capitalismo, o marxismo. Do São Luiz fui estudar Administração de Empresas na Fundação Getúlio Vargas. No meio do curso, terminado o 2º ano, perguntei a meus pais se poderia participar do Festival da Juventude pela paz e Amizade em Helsinque (Finlândia) e fazer uma excursão pelos países do Leste europeu e da Europa Ocidental. Concordaram. Depois de quatro meses visitando tantos países, o Muro de Berlim, cheguei à conclusão de que era, sim, possível transformar as coisas, ter um Brasil e um mundo melhor, mas pela democracia, com liberdade. Ao concluir Administração de Empresas, em dezembro de 1964, foi trabalhar um ano com meu pai, mas continuei como diretor Cultural do Centro Acadêmico e depois presidente do Centro Acadêmico da FGV. Quando houve o golpe de março de 1964, reuni todos os estudantes e professores para debatermos o que fazer e a quem apoiar. Decidimos em assembleia que tinha que ser respeitada a Constituição, mas nosso ponto de vista não prevaleceu. Passado um ano no escritório do meu pai, onde desenvolvi um setor de exportação de manufaturados, e já casado com a Marta, informei o pai de que surgira um concurso para professor de Economia na GV. Se eu passasse, poderia fazer mestrado e doutorado em Economia, encontrar respostas para as questões que tinha na cabeça. A resposta dele foi curta e grossa. “Olha, filho! Ser professor não vai lhe propiciar um padrão de vida com o qual você está acostumado. Mas se isso o deixar feliz, vou apoiá-lo.” Passei no concurso e já em agosto de 1966 ingressei na Michigan State University, na cidade de East Lansing, estado de Michigan (EUA). O Eduardo (Supla) tinha cinco meses. Estudamos dois anos lá. No intervalo de dois anos voltamos a São Paulo. Eu dei aulas e Marta completou o curso de Psicologia. Ao voltarmos à Michigan State University, ela fez o mestrado em Psicologia e eu completei, em junho de 1973, o doutorado em Economia. Aprendi lá o conceito de uma garantia de uma renda mínima. Cooperativismo ajuda a elevar grau de justiça EasyCoop – O que uma renda mínima tem a ver com cooperativismo e economia solidária? Suplicy – Nós precisamos colocar em prática todos os instrumentos de política econômica e social que possam elevar o grau de justiça na sociedade. Quando foi abolida a escravidão, elevou-se o grau de justiça. Se provermos boas oportunidades de educação para todas as crianças, jovens e adultos, se provermos boa assistência à saúde, na cidade e no campo, estaremos elevando o grau de justiça. Se expandirmos as oportunidades de microcrédito, vamos também elevar o grau de justiça. E quando pessoas se reunem para organizar um processo produtivo de um serviço ou de um bem, em forma cooperativa e de economia solidária, naturalmente será de forma mais equitativa, de maior justiça, que se fará a distribuição da renda, da riqueza gerada nesta organização. Depois temos as transferências de renda, como aposentadorias, benefícios de prestação continuada, seguro-desemprego, salário família, bolsa família. Avalio que essas formas de transferência de renda poderão ser aperfeiçoadas justamente na renda básica de cidadania incondicional e universal. Coopvapi, um exemplo de economia solidária EasyCoop – O mundo do trabalhado está mudando. A tecnologia varre empregos, concentra renda, aumenta o fosso social. A economia solidária e o cooperativismo são saídas! Suplicy – Com certeza. O professor Paul Singer nos deixou excelente legado. Basta olhar o prefácio dele e a minha apresentação para o livro da jornalista Mônica Dallari, lançado em 2012, que conta a história de 106 dos 160 vendedores autônomos do Parque do Ibirapuera, que se organizaram em cooperativa (a Coopvapi). Quando João Doria foi eleito, anunciou sua intenção de conceder a administração dos parques municipais à iniciativa privada. A presidente da Coopvapi, Antonia Cileide Oliveira de Souza, me ligou preocupada: “O que vai acontecer conosco da cooperativa?” Sem perder tempo, levei o livro da Mônica Dallari para o prefeito. E expliquei a ele a bonita história da cooperativa que eu havia ajudado a formar no ano 2000, quando os ambulantes temiam ser retirados do parque pelo então prefeito Celso Pitta. Com a cooperativa, criaram uma sólida economia solidária e passaram a viver, todos eles, com maior dignidade. E o prefeito João Doria aceitou meus argumentos. O trabalho da Coopvapi foi mantido. Debate sobre Lei Paul Singer avança na Câmara EasyCoop – A defesa da Coopvapi é apenas um exemplo de suas lutas. Em 2014, como secretário de Direitos Humanos de Fernando Haddad, o Sr. coordenou a Incubadora Pública de Empreendimentos Econômicos e Solidários; e como vereador tem o Projeto de Lei 197/2018, batizado de PL Paul Singer.... Suplicy – A incubadora foi um sucesso. Foi uma iniciativa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo em convênio com a Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários do Brasil, a Unisol, que havia criado o Projeto Ecosol-SP. Em 2017, a incubadora já havia beneficiado 1.066 pessoas 26 grupos e redes e 187 empreendimentos em nove áreas de atuação econômica – alimentação, artesanato, construção civil, costura, estética, ecoturismo, cultura, hortas e marcenarias. Na Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, em cooperação com a Secretaria do Trabalho e outras entidades, também inauguramos no bairro do Cambuci os Centros de Direitos Humanos e Economia Solidária. A mesma cooperação pautou a parceria da Secretaria do Trabalho com a Secretaria de Políticas para as Mulheres, em especial das vítimas de violência ou situação de perigo. Foi pensando nessas e outras iniciativas, para desenvolver uma política municipal especialmente voltada para as cooperativas, que, como vereador, apresentei no ano passado o Projeto de Lei 197/2018, batizado de PL Paul Singer. O objetivo é formalizar um marco regulatório municipal da Economia Solidária e criar a Política e o Sistema Municipais de Economia Sodidária (SMES), instituindo o Fundo e o Conselho Municipais de Economia Solidária. O projeto é assinado também pela vereadora Juliana Cardoso (PT) e outros membros da Câmara. Tramita na Comissão de Constituição e Justiça, com relatoria de Celso Jatene (PL). A Lei Paul Singer estabelece os princípios, diretrizes e objetivos do SMES. Define como são os empreendimentos solidários, reconhecidos como sujeitos de direito, assegurando-se o direito ao trabalho associado e cooperativado, integrado às estratégias gerais de desenvolvimento sustentável, aos investimentos sociais que visam à promoção de atividades econômicas autogestionárias e sua integração com as redes de produção, comercialização e consumo de bens e serviço. “Passo a meus alunos os valores de Luther King” EasyCoop – Que conselhos deixa aos jovens? Muitos pensam mais em acumular riquezas do que em compartilhar. Outros, sem perspectivas, em especial nas periferias, vivem o hoje... Suplicy – Para construir uma sociedade civilizada e justa, precisamos levar em consideração aqueles valores que não sejam unicamente a busca do interesse próprio, de levar vantagem em tudo, mesmo que pisoteando sobre o próximo. É claro que todos nós desejamos progredir e ficamos felizes quando há o progresso de nossos entes queridos, Claro que fico contente quando meus filhos, o Eduardo (Supla), o André (advogado) e o João (também cantor e compositor), têm sucesso. Mas eu procuro transmitir a eles e aos meus estudantes que é preciso se levar em consideração também aqueles outros valores que são próprios da história da humanidade e de nós brasileiros, como a busca da ética, da verdade, da solidariedade, da fraternidade, da justiça. São valores que estão presentes em um dos mais belos discursos da história da humanidade, I have a dream (“Eu tenho um sonho”), de Martin Luther King, Jr. Foi feito diante do Lincoln Memorial perante as 250 mil pessoas que participaram da Marcha de Washington, em 20 de agosto de 1963, contra a segregação racial nos Estados Unidos. Lincoln assinou a abolição da escravidão em 1º de janeiro de 1863, mas a segregação permaneceu. Estamos aqui, disse Luther King Jr., para rememorar esse momento tão fantástico, “esse decreto que se tornou uma grande fonte de luz para milhões de escravos negros que foram queimados nas chamas de causticante injustiça”. Em resumo, ele disse na ocasião que, 100 anos depois, a vida do negro ainda está muito mutilada. E as promessas expressas na Constituição e na Declaração da Independência pelos arquitetos da nossa República não estão sendo realizadas para o direito à vida, à liberdade, à busca da felicidade. Não estão sendo iguais para os negros. Os negros não podem usar o mesmo banco de ônibus dos brancos, o mesmo banheiro, a mesma escola, hotéis e motéis etc. Eles receberam uma nota promissória, um cheque sem fundo. Nós precisamos mudar isso com urgência. Não podemos tomar o chá do gradualismo daqueles que dizem que as mudanças vão acontecer com o tempo. Se a situação não se modificar imediatamente, a América vai viver um novo verão abrasador. Mas não vamos também ser culpados de ações erradas. Não vamos beber no cálice da violência, do ódio, da guerra, da vingança. Vamos sempre confrontar a força física com a força da alma. E adiante afirma que “tem um sonho”. O sonho de que um dia, nos morros vermelhos da Geórgia, os filhos de ex-escravos e os filhos de ex-donos de escravos serão capazes de se sentar juntos na mesa da fraternidade. O sonho de que um dia seus quatro filhos pequenos viverão numa nação onde eles não serão julgados pela cor da sua pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. O sonho de que, um dia, todo o vale será elevado, todo o morro e toda a montanha serão rebaixados, os lugares acidentados serão tornados planos, os lugares tortuosos serão tornados retos e a glória do Senhor será revelada e todos juntos verão isso acontecer. E quando deixarmos a liberdade soar, quando a deixarmos soar em todas as vilas e vilarejos, em todas as cidades e Estados, poderemos ver mais depressa a chegada do dia em que todas as crianças de Deus, homens negros e homens brancos, judeus e gentios, católicos e protestantes serão capazes de se dar as mãos e cantar as palavras daquele velho hino espiritual negro – “Finalmente a liberdade, finalmente a liberdade. Graças a Deus todo-poderoso; nós somos finalmente livres”. Renda básica, mais educação e menos violência EasyCoop – O mesmo se aplica ao Brasil? Suplicy – O que ele disse é válido para todo o Brasil. Não é à toa que eu cito aqui Martin Luther King, Jr. Em “Where Do We Go from Here: Chaos or Community?”, lançado em 1967, ele expressou um pensamento que nos faz lembrar Confúcio, quando diz que a saída é pela porta. Ele afirmou: “Eu agora estou convencido de que o mais simples meio provará ser o mais eficaz. A solução para a pobreza é aboli-la diretamente por meio de uma medida agora amplamente discutida: a renda garantida.” Qual é a maior vantagem da renda básica de cidadania? Elimina-se toda a burocracia envolvida. Não vamos ter que saber quanto cada um ganha no mercado formal ou informal. Elimina-se qualquer sentimento de vergonha da pessoa. Ela não precisa dizer: recebo tanto, mereço tanto. Mas é do ponto de vista da dignidade e da liberdade do ser humano que nós temos a maior vantagem - seja para aquela pessoa que não tem outra alternativa para dar de comer em casa senão a de vender o seu corpo no Parque da Luz (parque paulistano onde a prostituição é comum), seja para o personagem de o “Homem na Estrada”, de Mano Brown, dos Racionais MC’s, citado em meu livro. Tornei-me amigo de Mano Brown. Estive no último sábado (28/9) em show feito por ele no Capão Redondo (zona sul da capital). O personagem, não tendo como ajudar no orçamento de casa, resolve tornar-se um “aviãozinho” da quadrilha de narcotraficantes. No dia em que houver para si e para cada membro de sua família uma renda básica suficiente para atender suas necessidades vitais, essa pessoa vai ganhar o poder de dizer “não, agora não preciso aceitar essa única alternativa que surge pela frente, mas que vai ferir minha dignidade, colocar minha saúde e minha vida em risco; agora posso aguardar um tempo; quem sabe, fazer um curso, até que surja uma oportunidade, mas de acordo com a minha vocação”. É nesse sentido que a renda básica vai elevar o grau de dignidade e liberdade real para todos. Mais educação, menos violência. A renda básica vai propiciar melhores oportunidades de educação. São todos aqueles instrumentos que podem elevar o grau de justiça na sociedade. Esse é meu sonho. Perfil Administrador de empresas, economista e campeão de votos Um dos políticos mais conhecidos do Brasil, Eduardo Matarazzo Suplicy cumpre um segundo mandato como vereador em São Paulo, três décadas depois de sua primeira eleição. Economista, administrador de empresas e professor universitário, nasceu em São Paulo em 21/6/1941. É filho do corretor de café Paulo Cochrane Suplicy e Filomena Matarazzo (neta do conde Francesco Matarazzo). É formado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, onde é professor titular, e em Economia pela Universidade Estadual de Michigan (EUA). Entre os anos 1960 e 1970 foi professor visitante na Universidade de Stanford, também nos EUA. Ocupou ainda o cargo de editor de Economia na revista Visão. Ainda no jornalismo, colaborou com artigos para o jornal Última Hora e foi redator e analista de assuntos econômicos da Folha de S.Paulo. A carreira política começou em 1977, quando se filiou ao MDB. Em 1978, disputou a 1ª eleição – candidato a deputado estadual, obteve 78 mil votos, elegendo-se como o segundo mais votado. Em 10/2/1980, participou da fundação do PT. E foi pelo PT que se elegeu deputado federal dois anos depois, com 83 mil votos. Suplicy foi candidato a prefeito de São Paulo em 1985, na primeira disputa para um cargo majoritário. No ano seguinte, candidatou-se a governador do Estado. Voltou a ocupar cargo público ao se eleger vereador em São Paulo em 1988, sendo o mais votado, alcançando 201.549 votos. Ao tomar posse, em 1989, foi eleito presidente da Câmara de São Paulo. A passagem pelo Legislativo paulistano foi curta, já que Suplicy se tornou o primeiro senador do PT eleito, em 1990. E foi no Senado, no ano seguinte, que ele elaborou e divulgou um de seus principais projetos, o Programa de Garantia de Renda Mínima. Foi provado pelo Senado, mas ficou travado na Câmara, o que levou Suplicy a apresentar, em 1992, o projeto que institui a Renda Básica de Cidadania. Foi aprovado no Senado e na Câmara e virou lei Em 1992, o então senador tentou mais uma vez chegar ao cargo de prefeito de São Paulo. Não conseguiu e continuou no Senado. Em 1998, mais uma vez mostrou-se um campeão de votos para cargos legislativos. Foi reeleito senador pelo Estado de São Paulo com 6.718.463 votos, a maior votação para o posto na história. Em 2004, conseguiu uma de suas principais vitórias como senador: o presidente Lula sancionou a lei 10.835/2004, instituindo, a critério do Poder Executivo, a Renda Básica de Cidadania. Reeleito para um terceiro mandato para o Senado, em 2006, obteve 8.986.803 votos, permanecendo no cargo até 2014. No ano seguinte, foi convidado pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, a assumir a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo, cargo que ocupou até março de 2016. Candidato a vereador nas eleições de 2016, foi eleito com 301.446 votos. E, novamente, teve a maior votação da eleição para o Legislativo paulistano.