Cidades
“Novela da mina 18 terminou”, diz especialista
Conforme Abel Galindo, com rompimento ocorrido no domingo, afundamento do solo na área se estabilizou
“Finalmente chegamos ao fim da novela mina 18”. A frase é do professor e pesquisador Abel Galindo em áudio (ouça na íntegra no final da matéria) divulgado nas redes sociais sobre o rompimento da mina 18. A mina rompeu no início da tarde desse domingo (10) formando uma turbulência na Lagoa Mundaú, na região do bairro do Mutange, parte baixa de Maceió.
O especialista supõe que o rompimento da mina 18 ocorreu em uma camada de rocha a uma profundidade aproximada de 150 metros. “Então rompeu a última camada de rocha, que era calcária, e, quando rompeu, desceu solo, tipo barreira, e água. É natural que já tivesse alguma água dentro dela. E aí desceu água e acabou. Está tudo estabilizado agora.”
Conforme Abel Galindo, resta agora a Defesa Civil fazer a medição e informar a profundidade do lago que ficou no entorno da turbulência formada no momento do rompimento da mina 18. “Eu acredito que tenha se transformado ali um lago de uns 80 metros de diâmetro, ou seja, um raio de 40 metros. Acredito que tenha sido isso mais ou menos e pronto. Agora resta saber qual a profundidade desse lago. Se tem 6, 8, 10 metros ou 12 metros. A Defesa Civil vai informar para a gente. E acabou toda a novela, tudo terminou.”
Desde o último dia 28 de novembro a Defesa Civil de Maceió emitiu alerta para o possível colapso da mina 18, localizada no bairro do Mutange, recomendando que a população não devia transitar na área desocupada. Antes a região já havia registrado cinco abalos sísmicos. O órgão chegou a decretar situação de emergência e determinar a evacuação de moradores que ainda residiam na região.
ENTENDA O CASO
O processo de afundamento de solo, apontado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) como decorrente da extração de sal-gema, vem afetando aproximadamente 57 mil moradores nos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange, Bom Parto e parte Farol desde que o problema começou. A situação de calamidade pública dos bairros foi decretada no fim de 2018 e renovada várias vezes.
Desde o dia 3 de março de 2018 quando um tremor de 2,5 na escala Richter foi sentido no bairro do Pinheiro e adjacências a escalada de rachaduras em imóveis e vias não parou de se intensificar. O abalo foi sentido em vários bairros de Maceió. Devido ao problema, os moradores da região precisaram deixar seus imóveis. A destruição deixou a paisagem de bairros fantasmas.
Em 2020, um acordo judicial firmado entre órgãos de controle e a Braskem estabeleceu a retirada de 17 mil pessoas das áreas de maior criticidade dos airros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e Bom Parto. À época, o bairro do Farol ainda não apresentava o problema. Além de retirar as pessoas, a Braskem teve que indenizar as famílias afetadas pelo afundamento do solo. As ações previstas no acordo poderiam levar até dois anos para a conclusão. Mas muitas famílias ainda não foram indenizadas.
Em cronograma divulgado pela Braskem e órgãos de controle em 2020, a saída dos moradores das áreas consideradas de risco deveria ocorrer até o dia 1º de abril de 2021. No entanto, um relatório do CPRM pedia que a área de desocupação fosse expandida devido à aceleração do processo. As análises do CPRM em 2020 apontavam que entre os anos de 2016 e 2019 já houve 70 cm de afundamento.
Em junho de 2020, uma modificação no nível de risco determinou a desocupação de mais de 1.900 imóveis nas regiões monitoradas. De lá para cá o problema se agravou ainda mais e já afeta mais de 55 mil pessoas.
Durante anos moradores do Flexal de Baixo e Flexal de Cima, em Bebedouro, que foram afetados pelo isolamento social decorre do esvaziamento da região vizinha, e do bairro do Bom Parto, que teve apenas parte de sua área incluída no mapa de risco, vêm lutando para serem incluídos no Programa de Compensação Financeira da Braskem. Mas não tiveram sucesso.
Na última quinta-feira (30), a Defesa Civil de Maceió divulgou atualização do mapa de risco do afundamento dos bairros. Neste novo mapa, está incluída a área do Bom Parto. O novo Mapa de Linhas de Ações Prioritárias versão 5 foi atualizado em colaboração com a Defesa Civil Nacional e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).O documento foi base para Justiça Federal determinar, através de liminar obtida pelo Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL) e Defensoria Pública da União (DPU), a inclusão de área do Bom Parto no programa de realocação da Braskem e que a mineradora adote providências.
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Especialista Abel Galindo
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