Cidades

Cosems investiga vacinação de 305 crianças antes de autorização

Conselho estranha hipótese de imunização antes do aval da Anvisa, visto que municípios têm senha de acesso restrito

Por Tribuna Independente 22/01/2022 09h16
Cosems investiga vacinação de 305 crianças antes de autorização
Reprodução - Foto: Assessoria
O Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Alagoas (Cosems/AL) está levantando junto aos municípios a suspeita de que 305 crianças e adolescentes alagoanos teriam sido imunizados contra a Covid-19 com vacinas diferentes e em período anterior ao autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em nota técnica, o Cosems Alagoas estranha a hipótese, tendo em vista que cada município tem sua senha e acesso restrito aos dados. “O Estado já constatou inconsistências no sistema do MS [Ministério da Saúde] e em breve teremos uma resposta oficial sobre o assunto. A expectativa é de que o MS solucione estas divergências com o DataSUS, responsável pela construção e manutenção do sistema”, disse. Segundo a tabela divulgada pela Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), Alagoas teria vacinado 305 crianças e adolescentes com imunizantes não autorizados pela Anvisa para as faixas etárias. De acordo com o documento, 79 pessoas tomaram vacina da AstraZeneca, sendo 6 com idades de 0 a 4 anos, 10 com idades de 5 a 11 anos e 63 com idades de 12 a 17 anos. Outras 143 pessoas teriam tomado as doses da vacina Coronavac, sendo uma com idade de 0 a 4 anos, 16 com idade de 5 a 11 anos e 126 com idade de 12 a 17 anos. Um adolescente com idade entre 12 e 17 anos teria recebido a dose da Janssen. E 82 crianças teriam sido vacinadas com dosagem de adulto da Pfizer, sendo 4 com idade de 0 a 4 anos e 78 com idade de 5 a 11 anos. A promotora Louise Teixeira, da Promotoria de Saúde Pública Coletiva do Ministério Público Estadual (MP/AL), informou por meio da assessoria de comunicação que até o momento não houve nenhum registro protocolando alguma representação a respeito do assunto. “O que se tem na promotoria é um procedimento instaurado para acompanhar a vacinação de uma forma geral, se está sendo aplicada, se o estado está entregando as doses, mas especificamente sobre a imunização de crianças antes do prazo não chegou nada”, colocou. SAÚDE Na última quarta-feira (19), o secretário de Estado da Saúde, Alexandre Ayres, determinou a investigação imediata do caso. Em uma publicação em suas redes sociais, ele destacou que pode ter sido um erro causado por uma inconsistência no sistema. “Uma recém-nascida alagoana está com registro de vacinação contra Covid-19 em Alagoas e outros dois estados, segundo registro dos dados divulgados pela Rede Nacional de Dados da Saúde”. “Boa noite, pessoal! Após a divulgação de que 305 crianças teriam sido vacinadas em Alagoas antes da autorização da Anvisa e com imunizantes diferentes do permitido, informo que determinei a imediata apuração das informações junto aos municípios apontados, ao tempo em que reafirmo o nosso compromisso com a vacinação contra a Covid-19 e a total confiança nos profissionais de saúde. Apresentarei à sociedade o resultado da apuração em respeito à transparência que tenho conduzido esse enfrentamento”, explicou o secretário. Secretário não descarta possibilidade de falha no abastecimento dos dados De acordo com o secretário, o levantamento já está sendo providenciado pelos técnicos da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) em Alagoas e será encaminhado para Brasília. Alexandre Ayres não descarta a possibilidade de ter acontecido falha humana no abastecimento dos dados de vacinação ou até mesmo da falha ter acontecido após o ataque hacker que o Sistema de Saúde brasileiro sofreu em 2021. Passados dois dias do anúncio, a reportagem tentou ouvir a Sesau nesta sexta-feira (21), que se limitou à mesma informação já dita por Alexandre Ayres. “A Sesau determinou uma investigação e após a conclusão vai apresentar à sociedade”. O Ministério Público Federal em Alagoas (MPF/AL) também foi procurado, mas até o fechamento desta edição não houve retorno. A suspeita não se limitou somente ao estado de Alagoas, Advocacia-Geral da União (AGU) acionou o Supremo Tribunal Federal (STF), na última terça-feira (18), para questionar dados que apontam possível vacinação equivocada de 57.147 crianças e adolescentes em todo país na imunização contra a Covid-19. Segundo o advogado-geral da União, Bruno Bianco, os números foram retirados da Rede Nacional de Dados da Saúde, na qual estados e municípios são obrigados a registrar informações inseridas em todos os cartões de vacinação. A Anvisa aprovou em dezembro o uso da vacina produzida pelo consórcio Pfizer-BioNTech, a Comirnaty, contra a covid-19 em crianças com idade de 5 a 11 anos. De acordo com o gerente-geral de Medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes, com base na totalidade de evidências científicas disponíveis, o imunizante, quando administrado no esquema de duas doses, pode ser eficaz na prevenção de doenças graves, potencialmente fatais e de condições que podem ser causadas pelo SARS-CoV-2. As análises contaram com a participação de diversos especialistas, tanto da Anvisa como de outras entidades. Crianças de 5 a 11 anos com deficiência permanente e/ou comorbidades em Maceió já começaram a ser vacinadas desde o último dia 17, assim como também crianças a partir de 10 anos sem comorbidades.