Cidades

Moradores cobram solução definitiva para os Flexais

Indefinição sobre permanência continua mesmo após constatação de ilhamento social

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 19/01/2022 11h28
Moradores cobram solução definitiva para os Flexais
Reprodução - Foto: Assessoria
Mesmo com dificuldades no acesso a serviços básicos e o isolamento imposto pela desocupação dos bairros do entorno, a comunidade do Flexal segue em situação indefinida. Moradores cobram uma solução definitiva enquanto precisam lidar também com rachaduras nos imóveis. Apesar de não comprovada a ligação com o processo de afundamento de solo, imóveis da área apresentam fissuras e deixam moradores preocupados. Eles querem a realocação imediata. Há 35 anos vivendo no Flexal, Andreza Alice reclama da situação. Ela conta que a incerteza tem gerado muita frustração na comunidade. “Eu moro há 35 anos aqui e nunca vi uma coisa dessas. É um absurdo ter que passar por isso e ninguém dizer nada, ninguém resolver nada”, diz. Moradora do Flexal de Cima, Adriele da Silva Paulino conta que sua casa tem apresentado rachaduras e que a chuva causa muita apreensão. “É a casa rachando, a barreira caindo. Se der uma chuva vai cair. Já chamei a Defesa Civil, disseram que iam colocar uma lona. Mas eu acredito que tudo isso é por causa do afundamento. A gente quer que a Braskem tire a gente, ninguém esperava passar por isso, quando chove ninguém dorme”, afirma. Procurada pela reportagem, a Defesa Civil explicou que recomenda a saída da comunidade, mas que a inclusão no acordo depende dos órgãos signatários. “A Defesa Civil de Maceió informa que apresentou um documento em que recomenda a realocação da comunidade e a inclusão dos moradores da região do Flexal de Cima e de Baixo no Programa de Compensação Financeira, firmado entre a Braskem e pela Força Tarefa dos órgãos de controle de Alagoas, pelo critério de Ilhamento Socioeconômico, já que a região não consta no Mapa 04 de Linhas e Ações Prioritárias. A Defesa Civil ressalta ainda que continua monitorando os bairros atingidos pelo afundamento de solo e todo o entorno, com vistorias e equipamentos de última geração”, diz a pasta municipal. No ano passado, a Defesa Civil de Maceió encaminhou um parecer técnico à Força Tarefa do Caso Pinheiro - que envolve órgãos de controle do estado -, recomendando que a região dos Flexais de Cima e de Baixo e Rua Marquês de Abrantes, no bairro de Bebedouro, fossem realocadas devido ao “ilhamento” social. “O relatório aponta que essas áreas são impactadas pelo processo de Ilhamento Socioeconômico em decorrência da saída de grande parte dos equipamentos públicos e estabelecimentos comerciais da região circunvizinha, o que compromete a vida social de quem vive nas localidades”, disse à época Abelardo Nobre. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), a situação dos Flexais difere em relação ao potencial risco à vida, motivo pelo qual os demais bairros foram realocados e, portanto, ainda precisaria de discussões para se chegar a uma definição. “A situação do entorno difere das áreas inseridas no Mapa de Risco, uma vez que, até o momento, não é conhecida e declarada a movimentação de solo. Assim, ela tem sido estudada e analisada pelas instituições, com subsídio antropológico, a fim de encontrar uma solução adequada a cada caso”, explica o MPF. Em nota, a Braskem afirma que a região dos Flexais está passando por avaliações de empresas especializadas, sem, contudo, determinar prazos ou soluções. “Em dezembro de 2020, a Braskem assinou um acordo que prevê recursos e tratativas nos aspectos sociais, ambientais e de mobilidade. Empresas especializadas estão realizando os diagnósticos nas áreas de entorno do mapa de desocupação para compreender as alterações nas dinâmicas sociais e de mobilidade e sugerir propostas de ações, a partir de escutas da comunidade. A Braskem reitera o seu compromisso com a segurança dos moradores dos bairros afetados pelo fenômeno geológico, propondo e executando as ações necessárias para isso”, destaca a empresa. Proposta de revitalização não muda desejo da comunidade Além disso, a Braskem contratou consultorias para o planejamento de um projeto de revitalização para os Flexais e Marquês de Abrantes. As intenções foram apresentadas às lideranças da área no ano passado, mas os moradores se negam a permanecer na área. De acordo com o plano, pouco mais de 600 imóveis estão numa zona classificada como “NF2”. Isto é, que sofreram impactos com a realocação de imóveis nos bairros do Bebedouro, Pinheiro, Mutante e Bom Parto. A ruptura social e econômica foi constatada no documento que aponta problemas como deficiência na mobilidade urbana, acesso a serviços essenciais como saúde e educação, dificuldade em comércio, feira e outros tipos de serviços. Mas segundo o presidente da associação dos moradores de Bebedouro, Augusto Cícero, os moradores querem deixar o bairro. “A Braskem apresentou um plano de revitalização para o Flexal de Baixo e de Cima e isso deixou a comunidade muito indignada, gerou um clima muito tenso entre os moradores. O povo quer realocação e indenização justa. Ora, depois de realocar Bebedouro, Mutange, Pinheiro, deixar a comunidade isolada, desassistida, sem serviços públicos querem revitalizar. Estão indignados e com razão. Queremos expor a situação e reivindicar os direitos da comunidade. Sabemos que o termo aditivo não consta realocação pelo isolamento. Queremos que a Braskem e a Força Tarefa venham a ouvir a população. Que eles sejam ouvidos, queremos diálogo. Para que eles vejam de perto o que os moradores estão passando e precisam”, disse Augusto Cícero à época.