Cidades

Doença da urina preta não afeta vendas de arabaiana em Maceió

Apesar do receio de alguns com a Síndrome de Haff, peixe continua sendo muito procurado pelos consumidores

Por Emanuelle vanderlei com Tribuna Independente 03/03/2021 07h52
Doença da urina preta não afeta vendas de arabaiana em Maceió
Reprodução - Foto: Assessoria
Considerado um dos peixes mais nobres e procurados entre os consumidores alagoanos, a Arabaiana tem sido alvo de preocupação neste último período. Isso porque surgiram no Nordeste desde o ano passado, alguns casos da doença de Haff, associada ao consumo do peixe. No Centro Pesqueiro de Jaraguá, em Maceió, trabalhadores garantem que a procura não sofreu quedas significativas. Lucineide Oliveira trabalha no local e relata que esse ano tem tido mais procura que peixe. “Os clientes procuram muito. É um peixe bom, gostoso, carnudo, leve. A gente achou até estranho [a informação da doença], aqui nunca ouviu nenhum relato sobre isso. As pessoas não deixaram de comprar, um ou dois chega perguntando, mas aqui quando aparece não esquenta canto, o pessoal já leva”. Segundo ela, esse ano não tem tido muita oferta. “Quando ela aparece a gente vende, mas esse ano apareceu pouquíssima, bem pouca mesmo, só aparece quando dá muita trovejada”. O discurso é confirmado por Lúcia Maria, que também trabalha no centro pesqueiro. “É um peixe excelente, de boa qualidade, muito procurado”. Ela diz que quando surgem dúvidas nos clientes, demonstra segurança e garante o produto. “Não procede. Alguns tem receio, ficam perguntando, mas a gente garante. O produto é bom, o peixe é de primeira. O mar é sagrado, não aceita coisa ruim”. Com tradição familiar no ramo, Gilson da Costa ressalta que nunca ficou sabendo de algo do tipo. “Minha mãe, meu pai, fomos pescadores. Nunca ouvi essa história, está vendendo bastante. Essa história surgiu não sei de onde. De vez em quando chega um perdido falando e a gente explica. Os clientes já conhecem, a confiança é que vale. Estou com 52 anos, sempre trabalhando com isso”. No caso dos consumidores, ainda há alguns com precaução. Vera Pedrosa tem o hábito de comer sempre que pode, e no período da quaresma (entre o carnaval e a semana santa), aumenta o consumo por motivos religiosos. “Mas agora, por conta dessa doença que apareceu, não estou comprando. Fiquei com medo quando uma conhecida de Pernambuco me passou um WhatsApp informando”. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, aqui em Alagoas não há registros da doença. A maioria dos casos tem surgido na Bahia, que em novembro de 2020 apresentou 13 casos, e até fevereiro já havia registrado mais 40 casos. Em Pernambuco, chamou a atenção de todos o caso de duas irmãs, que horas depois de comer o peixe foram internadas com a doença, uma delas faleceu na manhã desta terça-feira (2). Problema é causado por uma alga que contamina peixe com toxina   Apesar de não haver casos registrados em Alagoas, há risco sim. É o que afirma o infectologista Fernando Maia. “Essa doença é causada por uma alga do mar, que contamina os peixes. Quando a pessoa consome o peixe, ingere junto a toxina que provoca a doença. Em Alagoas há risco”. O especialista sugere que as pessoas optem por outros tipos de peixe. “Qualquer peixe que é pescado próximo à costa pode estar contaminado, como a arabaiana. Por isso, a recomendação é consumir peixe pescado em águas profundas ou criados em cativeiro, como a tilápia. Uma coisa importante: a toxina não é inativada pelo cozimento. Mesmo peixe bem cozido pode causar a doença”. Os danos causados ao corpo são bastante rápidos e graves. “A toxina age nos músculos do corpo todo, causando fraqueza muscular importante. Pode haver até paralisia da musculatura respiratória, o que pode levar à morte rapidamente. A substância retirada do músculo, chamada mioglobina, ao ser filtrada pelos rins, causa escurecimento da urina e pode levar à insuficiência renal”. Mesmo quando não leva a morte, há outras sequelas. “Nos casos graves, há necessidade de diálise para recuperar os rins”, completa Maia. Não tendo uma periodicidade definida, a doença é desconhecida pela maioria das pessoas, mas o infectologista informa que sempre acontece em vários lugares. “Depende da concentração da alga no mar, uma das suspeitas para esse aumento da alga é a poluição do mar”.