Cidades

'Demora da Braskem faz hospital sangrar'

Diretor do Sanatório aguarda indenização para construção de nova unidade e pagar custos operacionais

Por Ana Paula Omena com Tribuna Independente 28/01/2021 08h21
'Demora da Braskem faz hospital sangrar'
Reprodução - Foto: Assessoria
O bairro do Pinheiro, um dos mais afetados pela extração de sal-gema pela empresa Braskem, fica a cada dia mais deserto e a angústia dos trabalhadores do Hospital Sanatório só aumenta. Isso porque, depois do abalo sísmico na região em 2018, a crise econômica da unidade de saúde cresceu. Nesta quarta-feira (27), após um ato dos profissionais de saúde por atualização da folha salarial, o diretor administrativo do hospital, Júlio Bandeira, informou que a unidade, com cerca de mil funcionários, vem perdendo pacientes e, por conta disso, tendo prejuízos de ordem operacional e funcional. “Estamos aguardando para finalmente receber a indenização, cujo valor a empresa ainda não definiu, e comprar o terreno para iniciar a construção; estamos cobrando também da Braskem o superávit para pagar os custos operacionais para poder subsidiar o funcionamento do hospital”, salientou. Ainda conforme Júlio Bandeira, a Braskem nunca teria se posicionado sobre o Hospital Sanatório, empresa mais importante do bairro. “Apesar de sermos grandes, somos invisíveis, órfãos na solução. O Hospital José Lopes, por exemplo, foi demolido e não receberam um centavo de indenização, imaginemos nós que estamos em pé”, questionou. “A Braskem está demorando muito em dar uma posição, enquanto isso, o Hospital Sanatório está sangrando, mais de 90% de nossa produção é SUS, o Mais Saúde tem 15 anos sem reajuste e os custos são permanentes todos os anos”, emendou. “Estamos há três anos numa pandemia que se chama Braskem, é muito fácil cobrar dos gestores e os trabalhadores têm sido muito tolerantes e heróis, bem como os fornecedores e prestadores de serviço. O hospital tem 75 anos, antes tínhamos 10 mil atendimentos, hoje caiu para três mil. Já denunciamos o problema aos órgãos competentes, Governo do Estado e Município. Denunciamos aos Conselhos de Saúde, Ministério da Saúde e até agora nada”, desabafou Júlio Bandeira. Ele explicou ainda que o Estado de Alagoas deve ao hospital dois meses (novembro e dezembro) de incentivos do Mais Saúde e a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), até então, não pagou, a ninguém, as produções do Sistema Único de Saúde (SUS), que vêm do Ministério da Saúde, desde que assumiu por conta das nomeações. “O Mais Saúde pagou e terminamos a folha de décimo terceiro e abrimos a folha de pagamento até R$ 1.400. Quando entrar as emendas parlamentares que, o secretário da Saúde, Pedro Madeiro, garantiu, terminamos a folha de novembro e abrimos a de dezembro. Temos também que pagar os fornecedores que estão em atraso. O hospital vem sofrendo o pão que o diabo amassou desde que começou os abalos sísmicos no Pinheiro e bairros adjacentes”, detalhou. ATO O ato público dos profissionais da saúde do Hospital Sanatório ocorreu ontem em frente à unidade. Além de salários atrasados há três meses, décimo terceiro, férias e vale-transporte, eles cobraram uma posição da direção e da Braskem sobre quando a realocação do hospital acontecerá. De acordo com Mário Jorge, presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem (Sateal), a categoria entregou um ofício solicitando uma reunião presencial para discutir a regularidade de todos os pagamentos pendentes. “O que os trabalhadores estão cobrando é transparência no processo de negociação e celeridade para saber sobre como e quando vai acontecer a realocação”, frisou. Ainda segundo o sindicalista, a Braskem como justificativa da diretoria do Sanatório para os atrasos é considerada frágil. “Porque a empresa sempre atrasou pagamentos dos trabalhadores. Além disso, não há algo muito claro sobre essa realocação, uma vez que várias empresas, condomínios, e outros empreendimentos já saíram ou estão se organizando para sair e o Sanatório nada diz, nem aos trabalhadores e usuários e nem a população”, criticou Mário Jorge. O paciente José Benedito Alves, que faz tratamento de hemodiálise há 7 anos no Sanatório, se solidarizou com os trabalhadores da unidade de saúde, destacando a luta dos profissionais para sobreviver sem o pagamento de salários. “Tenho visto a angústia deles. Muitos estão dependendo de colegas para se manter. Os funcionários trabalham desmotivados e com isso a qualidade dos serviços vai caindo e quem sofre também são os pacientes. Os usuários pedem uma posição da direção sobre o fato lastimável”, questionou. Dona Ana Lúcia Alves também demonstrou sua solidariedade aos trabalhadores do Hospital Sanatório. “Os trabalhadores precisam de dinheiro, ninguém vive sem dinheiro, peço que os governantes e a direção do hospital tenham mais atenção com esses profissionais, que estão na linha de frente apesar de todas as dificuldades financeiras”, destacou. Empregos serão garantidos após realocação da unidade   O diretor administrativo do Hospital Sanatório afirmou que os empregos serão garantidos na realocação da unidade de saúde, mas ponderou que haverá custos altos que a Braskem terá que arcar durante os três meses de mudança. “Teremos que desmontar equipamentos e montar no novo prédio, isso leva um tempo de até três meses, e a Braskem tem que pagar essa paralisação, além dos custos da mudança, instalações técnicas e folha de pagamento dos funcionários; e ainda o trabalho de mídia para que a sociedade fique sabendo que estamos no novo endereço, e aí sim, vamos recomeçar a vida como milhares de famílias afetadas pela petroquímica”, salientou. Mário Jorge, presidente do Sateal, não acredita em demissões em decorrência da realocação. Ele reforçou que independentemente de onde esteja para o hospital funcionar precisa de corpo profissional. BRASKEM A Braskem informou que está em tratativas com o Hospital Sanatório, visando a realocação da unidade. A empresa afirmou que oferece apoio técnico com equipes de engenharia e consultoria especializada em saúde, para garantir celeridade no processo. “Cumprindo o compromisso com a segurança, foi realizada vistoria conjunta com Defesa Civil Municipal para avaliação de risco estrutural; nenhum risco que exigisse realocação imediata foi constatado”, informou a petroquímica. De acordo com a empresa, para garantir a tranquilidade de funcionários, pacientes e demais pessoas que passam diariamente pelo hospital, as equipes de engenharia trabalham em intervenções para sanar pequenas avarias, e um sistema de monitoramento das edificações foi implantado no hospital. “A prioridade da Braskem é a segurança da comunidade nos bairros atingidos pelo fenômeno geológico em Maceió, propondo e realizando ações com essa finalidade”, ressalta a empresa.