Cidades

Cemitérios de Maceió abrem novas covas para mortos pela covid-19

Antes da pandemia ocorriam de 6 a 8 sepultamentos por dia nos espaços públicos da capital; atualmente a média é entre 20 e 30

Por Lucas França com Tribuna Independente 15/05/2020 08h58
Cemitérios de Maceió abrem novas covas para mortos pela covid-19
Reprodução - Foto: Assessoria
Com o avanço do novo coronavírus (covid-19), o número de óbitos cresceu em Maceió e os cemitérios da capital alagoana estão abrindo covas extras para conseguir sepultar os mortos pela doença. De acordo com Superintendência Municipal de Desenvolvimento Sustentável (Sudes), responsável pela administração dos cemitérios públicos, os números de enterros aumentaram em média 270%. Antes da pandemia segundo o órgão, eram registrados de seis a oito sepultamentos por dia nos cemitérios públicos. No entanto, na última semana, o número passou para uma média diária de 20 a 30 sepultamentos. Com isso, a Sudes teve que ampliar a capacidade como medida emergencial para evitar um colapso no sistema funerário. Os cemitérios públicos de Maceió têm a capacidade para realizar em média 300 sepultamentos por mês segundo a superintendência. O cemitério São José, localizado no bairro Trapiche da Barra, foi o primeiro a iniciar a expansão nas áreas já disponíveis, reduzindo também o espaço nos estacionamentos. O cemitério tinha sete mil sepulturas - foi construído em 1918 às pressas para serem alocados vítimas da gripe espanhola já que o cemitério do Estado, Nossa Senhora da Piedade, não comportava mais. Já no Cemitério São Luiz, localizado no bairro Santa Amélia, estão sendo construídas novas gavetas, ampliando a capacidade de sepultamentos. Além disso, segundo a Prefeitura de Maceió, foram adotadas todas as medidas necessárias em relação ao decreto, desde a segurança dos profissionais que trabalham nos cemitérios, até a limitação de pessoas presentes em velórios e a suspensão de visitas. O titular da Sudes, Gustavo Acioli Torres esclarece que a medida emergencial deve ser a expansão, uma vez que a construção de um novo cemitério demandaria muito tempo, em decorrência da legislação ambiental. “O número de sepultamentos tem aumentado, como vem sendo apresentado diariamente pela Secretaria de Estado da Saúde, e nos mobilizamos para atender a demanda e evitar um colapso no sistema funerário. Traçamos estratégias, com foco maior na ampliação da capacidade dos sepultamentos, e discutimos a situação com o MPE [Ministério Público do Estado de Alagoas]. Caso necessário, vamos avaliar ainda a possibilidade de adquirir espaços nos cemitérios particulares da capital”, ressalta Torres. São José foi feito às pressas há mais de 100 anos para vítimas da gripe espanhola   O cemitério São José foi construído para receber vítimas da pandemia da gripe espanhola. Segundo levantamento apontado em matéria publicada pela BBC News Brasil, no dia 3 de maio deste ano, que entre o dia 1º e 10º de dezembro de 1918 foram enterrados 126 mortos. O jornalista e pesquisador em história alagoana Edberto Ticianelli, entrevistado pelo veículo contou que esses foram os únicos dados registrados, mas que pode ter ocorrido subnotificação. “Na época não havia nenhuma preocupação com dados. Mas imagine quantas pessoas morriam e eram enterradas em locais diversos sem nenhum controle. Em 10 dias foram enterradas 172 pessoas no cemitério Nossa Senhora da Piedade, no (bairro do) Prado. Imagine nos outros”, ressaltou o historiador. Para ele, a estimativa é que tenha havido mais de 2 mil mortes. “Isso apenas na capital. No interior nem se fala, foi uma calamidade”, completou Ticianelli. Em 1917, a população de Maceió era de 955.675 habitantes. Pelo censo de 1920, 978.748 pessoas. A reportagem da Tribuna Independente também procurou o historiador que confirma os relatos. “Entre 1918 e 1920, a gripe espanhola contaminou mais de 500 milhões de pessoas, a quarta parte da população mundial à época. O número das vítimas fatais varia entre o mínimo de 17 milhões e o máximo de 100 milhões. A metade dos mortos concentrava-se entre indivíduos de 20 a 40 anos. Foi uma das pandemias mais letais da história, comparada somente à Peste Negra, que no século XIV levou à morte de 75 a 200 milhões de pessoas na Europa e Ásia’’. Ticianelli relata em seu site historiadealagoas.com.br que o estado, pela proximidade com Pernambuco, pode ter recebido o vírus da gripe espanhola das embarcações que partiam do porto de Recife para o Sul do país, com escala em Jaraguá. Hoje, o pesquisador relaciona as pandemias. “Ainda, a medicina não teve respostas imediatas para o Covid-19. Há 102 anos atrás, também se repetiu a tentativa de se minimizar as ameaças da gripe espanhola, que no início, era tratada como uma gripe de ‘caráter benigno’, que não colocava vidas em risco. As medidas dos governantes naquela ocasião também recomendavam evitar aglomerações, e toda atividades suspensas hoje, também foram no passado: aulas, comércio, missas”, conta.