Cidades

Fissuras aumentam em edifícios do Jardim Acácia

Medidas devem ser adotadas pela Defesa Civil até fim da semana; possibilidade de demolição não está descartada

Por Lucas França com Tribuna Independente 30/10/2019 08h41
Fissuras aumentam em edifícios do Jardim Acácia
Reprodução - Foto: Assessoria
As rachaduras que afetam o solo e imóveis há mais de um ano no bairro do Pinheiro, em Maceió, aumentaram. A Defesa Civil Municipal foi acionada nesta terça-feira (29). Após vistoria, os técnicos do órgão confirmaram o agravamento das fissuras em prédios do Conjunto Jardim das Acácias. O órgão ressalta que uma hipótese que será discutida é a de demolição de imóveis em situação mais crítica, mas isto ainda estaria sendo debatido. “Houve uma evolução, realmente, em relação à última vistoria feita duas semanas atrás. Está tendo um avanço significativo. A partir de agora vamos levar as medidas para conversar. Mas desde junho já pedimos o isolamento e demais medidas serão debatidas”, disse o engenheiro Vitor Gama, da Defesa Civil Municipal. Segundo a diretora de Operações da Defesa Civil de Maceió, Joanna Borba, o próprio síndico teria entrado em contato com  o órgão informando que notou a evolução das rachaduras. “Constatamos de fato que houve esse aumento, mas em relação à demolição ainda não podemos afirmar porque tudo ainda será discutido, para saber a possibilidade ou não. Isso será feito em uma reunião com demais órgãos”. Nenhum dos representantes da Defesa Civil informou quando a reunião iria acontecer, mas Joanna Borba, ressaltou que até o fim de semana o órgão teria resposta sobre as medidas que serão adotadas para a região, inclusive medidas relacionadas ao tráfego de veículos nas imediações do conjunto. Já em relação aos boatos em redes sociais que o edifício Albarello seria demolido, Borba afirma que são apenas boatos mesmo. “Fomos ao local, verificamos a presença de rachaduras e pedimos para que as famílias que ainda morem por lá desocupassem por causa do risco que oferece como qualquer outra edificação que já foi evacuada. E ele já foi evacuado antes. Então apenas pedimos para os que estão ou voltaram que saíssem’’. SOS PINHEIRO A informação surgiu em grupos nas redes sociais. De acordo com o Movimento SOS Pinheiro, o síndico do bloco 7 que teria constatado e comunicado a uma rádio. Vale ressaltar que todos os prédios do conjunto já foram evacuados. Geraldo Vasconcelos, do Movimento SOS Pinheiro, afirma que as rachaduras vêm aumentando gradativamente porque não houve o preenchimento das minas da Braskem. ‘’Todos os imóveis do Pinheiro estão continuamente ampliando as rachaduras, uns mais, outros menos, uma vez que ainda não preencheram as minas e a movimentação do solo continua. Ou seja, a subsidência que a CPRM [Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais] do Serviço Geológico do Brasil apontou claramente a Braskem como culpada. O bloco 7 não é exceção, mas absolutamente nada há além do que já temos de anormal’’. Ainda de acordo com Vasconcelos, a Defesa Civil Municipal foi ao local e fez uma rápida vistoria, mas não foi conclusiva. “Nas entrevistas que concederam para os veículos de comunicação não houve conclusão de ações nem o que será feito, ficando de responder posteriormente qual foi à taxa de aumento dessas rachaduras. Esse conjunto de blocos do Jardim das Acácias (7, 8, 9, 14 e 15) sempre foi preocupante para o Movimento SOS Pinheiro, tanto é que em dezembro de 2018 solicitamos ao nosso parceiro, o engenheiro Marcos Carnaúba, um relatório para o bloco 8. Ele prontamente fez os estudos e nos forneceu gratuitamente, revelando a nós sua solidariedade e preocupação com aqueles moradores’’. Vasconcelos disse que o movimento quer maior formalidade nesses processos, “Não é salutar a Defesa Civil verbalizar que um edifício está se inclinando e não apresenta absolutamente nada de estudos técnicos. Ao nosso entendimento essa postura só amplia as pressões emocionais que os moradores já sofrem desde o início de todo esse processo’’, pontua questionando se a população estaria diante de uma nova temporada de fake news. “Situação é grave e risco de desabamento é enorme”   Para o geólogo e pesquisador Abel Galindo, que desde 2010 vem estudando os fenômenos na região, o risco de desabamento é enorme.  “Esse problema do Jardim Acácia. Principalmente bloco 15 e 7, já deviam ter sido escorados, a situação ali é grave. A rachadura no terreno continua, abrindo aos poucos, mas continua. E claro, se não fizerem um escoramento estrutural tem a possibilidade de desabar sim. Já tinham dito que ia fazer isso e não foi feito’’, ressalta Galindo. [caption id="attachment_332929" align="aligncenter" width="640"] Abel Galindo (Foto: Adailson Calheiros)[/caption] O especialista explica o que está acontecendo na região. “O maciço está se movimentando mais horizontalmente do que verticalmente, e por conta da rocha salina que tem de ser recompor e são milímetros por ano, o movimento dela, por exemplo, 10mm, 20mm ou até mais. Só que todo o maciço está sendo repuxado e isso está abrindo aos poucos milimetricamente principalmente nestas fendas que já existem e, com isso, os imóveis que estão em cima delas tendem a sofrer mais e mais”. DONA DE IMÓVEL A assistente de departamento pessoal, Erika Mirelle Ferreira Machado, dona de um imóvel no conjunto, conta que teve sérios problemas psicológicos com a filha menor após sair do lugar que morava. Ela diz que a perda do imóvel não será agora com a possibilidade de demolição, mas já aconteceu quando teve que sair dele. “Essa perda já aconteceu quando tive que sair de meu apartamento, no qual é com sacrifício e muito zelo por cuidar dele todos estes anos. O descaso vem sendo crucial. Nada vai tirar o sentimento de perda, até porque quando o comprei há 16 anos tive um problema no piso, que cedeu e foi encontrada água. Fiz todo o serviço, me custando caro em todos os sentidos’’, relata Erika afirmando que caso o imóvel seja demolido ou que a situação não se reverta vai querer outro imóvel. “Até porque não tenho outro. E não posso ser prejudicada por culpa da Braskem. Ela tem que ser responsabilizada. E ainda diz que não existe nada por lá. Tenha vergonha e assuma esses prejuízos’’. Além do Pinheiro, Mutange e Bebedouro também são afetados pelo fenômeno. A extração de sal-gema feita pela Braskem é apontada como a principal causa do problema.