Cidades

Moradores são mobilizados para simulado no sábado

Defesa Civil Estadual espera aglutinar mais de 3 mil pessoas; para o SOS Pinheiro, habitantes podem encontrar dificuldades

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 14/02/2019 09h02
Moradores são mobilizados para simulado no sábado
Reprodução - Foto: Assessoria
Moradores do bairro do Pinheiro têm sido mobilizados a participar do simulado de evacuação que ocorre no próximo sábado (16). A Defesa Civil Estadual espera mobilizar cerca de 3 mil moradores para a ação prevista no plano de contingência. Desde ontem (13), o chamamento está sendo feito através de um telão com caixas de som, que percorre o bairro em cima de um caminhão. O Movimento SOS Pinheiro avalia como importante a realização do simulado, mas fatores como a saída constante de moradores e questões logísticas podem interferir na participação dos moradores. É o que avalia a integrante do movimento Fernanda Valéria da Silva. “Eu vejo que tem um grupo grande que não vai participar porque entende que isso vai ser um circo, mas eu entendo que isso vai ser uma necessidade. Porque eles vão trabalhar dentro de uma expectativa que na realidade não se estabelece. Se a gente circular dentro do bairro com chuva, a gente não vai ter a mesma mobilidade que teria em condições normais”. A moradora do bairro diz ainda que é preciso considerar que as chuvas - gatilho apontado pela Defesa Civil e Serviço Geológico do Brasil como determinante para a movimentação do solo -, atrapalham a locomoção no bairro. “As ruas que eles colocaram como escape ficam todas alagadas quando chove. E nos pontos onde precisamos chegar, passa-se por ruas alagadas. Como vamos correr com pessoas doentes. Idosos numa situação dessas? Até hoje eu não consigo entender. E um grande questionamento que tem sido feito é que se o Cepa está com rachaduras como pode ser um ponto de evacuação”, argumenta Fernanda. Fernanda diz ainda que a circulação de notícias faltas  também é outro fator que prejudica a comunicação entre moradores e órgãos responsáveis. “Existe um áudio circulando sobre a situação, a gente fica sem saber se é verdade. É um samba do crioulo doido. Acredito que boa parte dos moradores não vai estar, muitos têm se mudado. Sei que precisam fazer, mas no caso de chuvas, se movimentar no bairro é praticamente impossível”, destaca. O possível surgimento de rachaduras no Cepa, comentado pela moradora, começou a ser divulgado na manhã de ontem. O relato de uma aluna não identificada da escola José Correia da Silva Titara e fotos atribuídas ao interior da escola sugerem a existência de fissuras também no Complexo Educacional. A reportagem fez contato com a Secretaria de Estado da Educação (Seduc). Por meio de assessoria de comunicação o órgão não confirmou a existência de fissuras. Informou apenas que duas escolas do Cepa estão classificadas na área de risco laranja. A Seduc disse ainda que os órgãos responsáveis a dar qualquer tipo de informação sobre o assunto são as Defesas Civis Estadual e Municipal. O órgão se limitou a confirmar a presença de técnicos da Defesa Civil Municipal na referida escola. A reportagem fez contato com a Defesa Civil Estadual para comentar a preparação  do simulado e esclarecer a situação na escola do Cepa, mas até o fechamento da edição, o tenente-coronel Moisés Melo, coordenador da Defesa Civil Estadual, não retornou as ligações. Também procurada, a Defesa Civil Municipal, até o fechamento desta edição, não respondeu os questionamentos. População espera aluguel social para deixar o bairro   [caption id="attachment_279873" align="aligncenter" width="640"] Rinaldo diz que rachaduras no imóvel começaram há uns 15 anos (Foto: Adailson Calheiros)[/caption] Segundo a representante do movimento SOS Pinheiro, Fernanda Valéria da Silva, alguns moradores têm esbarrado em burocracias para deixar o  bairro. “Fui procurada por uma moradora que tem a curatela da mãe de 90 anos, é de um imóvel da área vermelha e tem tido dificuldades para receber o aluguel por conta da burocracia. O banco manda procurar a Defesa Civil, que exige documentos e a situação está travada”, destaca. EMBLEMÁTICO Quem também aguarda um posicionamento é o comerciante Rinaldo, “Está tudo muito enganchado essa coisa de aluguel social. Eu estou aguardando. Minha expectativa é mudar dentro de duas semanas. A Defesa Civil a todo momento tem nos visitado, sendo muito atenciosa. Desde o tremor eu tenho aberto para imprensa, para a Defesa Civil A casa é propriedade da família dele há mais de 30 anos. A situação no imóvel é tão grave, que já é o caso mais emblemático do bairro. “A casa é da família há mais de trinta anos. As fissuras começaram a aparecer pelo menos há uns 15 anos, meu pai mandava fechar porque imaginava que era algo dentro da casa, ele faleceu e nunca descobriu. Depois do abalo, as rachaduras que já existiam só aumentaram. Aí a Defesa Civil passou a monitorar, colocar as réguas e percebeu que está aumentando”, detalha. As condições do imóvel assustam. São aberturas nas paredes onde é possível colocar a mão. Parte do muro está totalmente solto das extremidades, há desníveis na laje e no piso, inclusive, semana passada, segundo Rinaldo, parte do teto da cozinha desabou. CONSEQUÊNCIAS Rinaldo mantinha um comércio no imóvel, mas afirma que por conta das rachaduras os clientes começaram a ficar assustados e aos poucos deixaram de frequentar o local. Atualmente, Rinaldo precisou fechar o negócio e prepara a mudança do local. “Muitos clientes quando entravam e viam a situação pediam a conta e iam embora. Isso aconteceu muito”, diz. O morador conta que tem feito um grande esforço para superar a situação. Mas as consequências têm sido sentidas por toda a famílias. Na casa Rinaldo vive com a mulher e uma filha de dez anos. “É uma situação muito angustiante. Eu tenho feito de tudo para ficar bem. Minha esposa somatizou muita coisa, depois de tudo isso que a gente vem passando. Ela tem feito acompanhamento especializado com psicólogos, psiquiatras por conta disso. Aqui quando chove ninguém dorme, ninguém fica em paz. São muitas histórias circulando, as pessoas não sabem o que é verdade. São tantas conversas. “Vontade é ficar, mas queremos situação resolvida”   [caption id="attachment_279872" align="aligncenter" width="640"] Rinaldo mantinha comércio na residência, mas precisou fechá-lo porque rachaduras ‘espantaram’ clientes (Foto: Adailson Calheiros)[/caption] A desvalorização do imóvel também é sentida pelo comerciante Rinaldo, que afirma que antes do agravamento da situação era avaliado em cerca de R$ 1 milhão. Ele relembra que dois anos antes do abalo, uma incorporadora chegou a fazer uma proposta de compra do imóvel e ofereceu  cerca de 10 apartamentos, cada um a R$ 200 mil. Agora, o que resta é um imóvel sem condições de ser habitado e muitas incertezas. “Hoje quem é que vai comprar alguma coisa no bairro do Pinheiro, como fica? Quem vai se responsabilizar? São tantas histórias... Se perguntassem para mim se eu quero indenização eu digo que não, eu quero minha casa de volta. Quero uma solução, todo mundo aqui não quer sair do bairro, quer que a situação seja resolvida”, pontua o morador. “São muitos comércios fechando, os postos de combustível têm sentido, mercadinhos... Todo mundo sentindo os efeitos. Isso é notório. Nosso bairro é um bairro grande, importante para a capital. Peço que Deus mostre uma saída, uma solução. Sou sincero, não quero indenização, quero que deem um jeito porque  continua evoluindo, fecha, passa cimento e  poucos dias abre tudo de novo... O anseio de muitos moradores é ficar aqui, que nosso imóveis sejam recuperados, independente de quem seja o responsável, pouco importa para mim”, destaca. Para o morador, a situação mais grave do bairro é a tragédia social instalada. “Sabemos que não o bairro não vai ser engolido por um buraco como muitos dizem, mas o nosso receio é que uma casa destas desabe, que machuque alguém até fatalmente, isso é um fato”.