Cidades

Padre alagoano sofre intimidação por participar do ato 'Ele Não'

Ação contra padre foi proposta por candidato a vereador não eleito

Por Tribuna Hoje 26/10/2018 21h30
Padre alagoano sofre intimidação por participar do ato 'Ele Não'
Reprodução - Foto: Assessoria

O padre alagoano Manoel Henrique foi intimidado, nesta semana, após participar do ato democrático “Ele Não”, na orla de Maceió. A manifestação popular aconteceu no sábado (20) e contou com a participação de várias lideranças populares de Alagoas, além, claro, do grande público presente. A passeata “Ele Não” aconteceu em cidades de todo Brasil e teve, como objetivo, protestar contra o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL), que, muitas vezes, posiciona-se contrário aos direitos humanos e faz afirmações sobre os direitos trabalhistas que também são recebidas com preocupação pela população. No domingo (21), aconteceu, também na orla de Maceió, uma manifestação a favor do candidato.

A ação contra o padre foi proposta pelo candidato a vereador por Maceió – não eleito – Leonardo Dias. O candidato não eleito protocolou na Cúria da Arquidiocese de Maceió uma denúncia formal contra Manoel Henrique “por prática de proselitismo partidário”. O padre Manoel Henrique falou para a reportagem da Tribuna e afirmou que estava exercendo o seu direito popular “por se posicionar a favor da democracia”.

À reportagem, o padre disse que os membros da Igreja já responderam a Leonardo Dias. “O próprio pessoal da comissão da Igreja, os próprios amigos meus, da Pastoral da Terra e de outros mais, já tomaram a iniciativa de escrever para ele”, afirmou.

“Eu vejo o atual momento político do Brasil com muita estranheza. Eu nunca vi isso acontecer no país. Há muita intransigência, muita ação discriminatória. Depois daquele dia, já invadiram a CNBB [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil], andaram falando mal dos bispos do Brasil. É uma intolerância horrível que eu nunca vi acontecer”, afirmou o padre Manoel.

MEDO

Com essa situação de intolerância crescente, inclusive contra membros da Igreja Católica, o padre afirma que sente receio e até medo de ações normais, como sair de casa e andar pela rua. “De repente, alguém pode nos atacar, como aconteceu, recentemente, com o ex-reitor da Uneal [Universidade Estadual de Alagoas], Clébio Araújo, em Arapiraca. É algo que nós nunca vimos acontecer nesse país. Ninguém tem autoridade para isso [praticar atos de violência]. Eu espero que Deus tome conta”, disse o padre.

O padre Manoel teme que, caso o candidato do PSL seja eleito, o pior possa acontecer e pessoas inocentes sejam vítimas da onda de intolerância e violência. “Esse rapaz [Jair Bolsonaro] quase morria por causa de uma facada. Graças a Deus, ele não morreu”, relembrou o padre Manoel, fazendo uma analogia com as atitudes intolerantes do próprio candidato do PSL.

ESPERANÇA

“Eu sou a favor do Brasil, a favor da democracia brasileira. Eu estava na manifestação Ele Não ao lado da reitora de uma universidade, ao lado de pessoas da Igreja Católica e ao lado de pessoas que querem o bem para este país. Eu faço parte da Comissão de Direitos Humanos e também sou membro de uma Comissão Pontifícia de Justiça e Paz, da Santa Sé. Fui escolhido para esse papel de representar a Igreja. Alguém teria que fazer”, afirmou o padre.

 Ao eleitorado brasileiro, o padre deixa uma palavra: esperança. “Eu não posso perder a esperança aguardando razões maiores. E que Deus oriente a cabeça de todos que vão participar desse quadro político. Que Deus oriente, que Deus ilumine e que Deus impeça que algo pior possa acontecer”, finalizou.

ARCEBISPO O Arcebispo de Maceió, Dom Antônio Muniz, também falou à reportagem da Tribuna e disse que preferia ser neutro com a situação. "Permaneço como estou tomando as decisões que acho cabíveis com a Igreja", disse o arcebispo.