Cidades

Faculdade de Letras se posiciona após polêmica sobre bebê em sala de aula

Estudante diz ter sofrido constrangimentos após levar filho para aulas; após comunicação oficial caso será apurado

05/09/2018 08h21
Faculdade de Letras se posiciona após polêmica sobre bebê em sala de aula
Reprodução - Foto: Assessoria
A diretora da Faculdade de Letras (Fale) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Rita de Cássia Souto Maior emitiu posicionamento sobre a série de constrangimentos relatados por uma estudante do 2º período após levar o filho, um bebê de três meses para a sala de aula. A matéria veiculada na Tribuna Independente do dia 29 de agosto traz o relato de Elda Amorim, de 28 anos. Segundo a estudante, dois professores e um servidor teriam agido de forma constrangedora ao se incomodarem com a presença do bebê, o que motivou, conforme ela, ausência nas aulas e a decisão de trancar as disciplinas. Segundo a diretora, os fatos chegaram a seu conhecimento a partir de informações de um grupo de alunos e que todo o suporte foi oferecido à estudante, inclusive a mudança de horário das disciplinas onde houve problemas. “A primeira reunião ocorreu assim que soube que a aluna queria trancar o curso por conta do que estava passando com o bebê em sala de aula. Fui acionada por um grupo de alunos, para o qual me coloquei disponível. Nesta reunião, ela relatou que havia tentado se matricular à tarde, mas não havia conseguido. Que se houvesse mudança de turno seria melhor para ela e para a criança. Imediatamente acionei a Pró-reitoria de Graduação e a Coordenação de Curso, das quais obtive apoio total, para que pudéssemos dar tranquilidade a essa mãe”, diz. Rita garante ser solidária à situação e afirma ter orientado a estudante a oficializar a denúncia por escrito à coordenação. “Sobre o relato das situações que disse ter passado, pedi que tudo fosse registrado por escrito e encaminhado à coordenação do curso, porque só assim poderia seguir com os trâmites de acompanhamento. No entanto, dias depois, a estudante disse que a mudança de horário não seria mais a solução para ela e seu filho. Meu desejo agora, e estou me empenhando nisso, é que ambos, mãe e filho, fiquem bem. Fui estudante e mãe ao mesmo tempo e sei da angústia que cada fase da criança gera na mãe que estuda/trabalha. O período de lactação é extremamente importante para ambos”, esclarece. O comunicado oficial serve para que as instâncias superiores do curso e da Ufal apurem as responsabilidades do caso, no entanto, segundo a diretora, ainda não obteve retorno das partes envolvidas na situação. “Nossa posição é de acolhimento do relato para apuração dos acontecimentos, assim que ele for feito nas instâncias apropriadas. Para que a situação seja apurada, é necessário que as pessoas envolvidas encaminhem o registro da ocorrência ao Colegiado do Curso. Informação já repassada a todos/as, dos/as quais ainda não recebemos retorno”, pontua. “Não há lei específica sobre permanência de crianças”   Rita Souto Maior afirma não haver regulamentação sobre a possibilidade de estudantes permanecerem com os filhos nas dependências da Ufal. “Não há lei específica sobre a permanência de crianças em sala de aula ainda. Há alguns direitos adquiridos em determinadas instâncias, como os que são trazidos pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e pela Constituição Federal de 1988, que auxiliam na busca do bom senso para essas situações, primando o que recomenda a organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o aleitamento materno até os seis meses de idade”. E afirmou que espera que a situação sirva como um “aprendizado”. “Penso ser extremamente importante que continuemos debatendo sobre esse assunto no curso e sobre todos os temas que tratem das desigualdades. Precisamos cada vez mais desnaturalizar situações que nos parecem ‘normais’ e buscar soluções para uma convivência mais harmoniosa, com o respeito ao próximo sempre em primeiro plano. Precisamos levar adiante essa discussão sobre mães e filhos/as em sala de aula e outros temas também relacionados à condição da mulher na sociedade. Será um aprendizado para todos/as”, comentou. A estudante Elda Amorim, também havia relatado uma suposta conduta antiprofissional dos envolvidos com outros alunos, fatos que teriam chegado a seu conhecimento após os episódios vivenciados. Embora não tenha confirmado diretamente as informações, a diretora afirma que a situação contribui para uma “mudança de concepções na esfera profissional”. “Antes de responder mais especificamente sobre que medidas tomaremos, é necessário que a aluna encaminhe registro do que ocorreu como disse anteriormente. Em todo caso, e de maneira geral, posso afirmar que, num primeiro momento, sempre buscamos uma conciliação. Ouvir todas as partes é muito importante. Muitas vezes uma situação dessa pode servir como um grande aprendizado para todos/as. As repercussões podem gerar mudanças muito importantes para as relações interpessoais e para mudança de concepções na esfera profissional”, destaca. “Gostaria de um pedido de desculpas”, diz estudante   Elda Amorim informou à reportagem que recebeu apoio do diretório acadêmico e que eles elaboraram uma carta que foi encaminhada nesta terça-feira (4) à coordenação do curso. No documento, eles expõem a situação vivenciada pela estudante e outros relatos de alunos que também alegam ter sofridos outros tipos de constrangimentos em sala de aula pelos mesmos professores. O caso ganhou repercussão também nas redes sociais. Mesmo assim, a estudante não pretende continuar cursando as disciplinas neste semestre. Ela segue cursando o 2º período e as disciplinas em questão ficarão para outro momento, quando a sensação de culpa pelo ocorrido passe, garante. “Eu sinto muito pela situação ter sido tão explanada... Mas hoje é a solução mais plausível, porque eu não tenho mais ‘cara’ para cursar essas disciplinas. Vou deixar para o próximo semestre, não vou levar meu filho no ano que vem, ele já vai estar grande. Pode ser que no próximo semestre eu me matricule e essa sensação de desmoralização passe, mas a conclusão que eu cheguei foi essa. Eu não quero ir nem com meu filho, nem sem o meu filho para essas aulas este ano”, expõe a estudante Elda garante que não pretende acionar judicialmente os envolvidos, mas espera um pedido de desculpas pela forma como a situação foi conduzida. “Espero esclarecimentos de o porquê terem me falado aquilo. O esclarecimento é para todo mundo, para outras mães. Eu espero que outras mães não sejam impedidas de levar seus filhos, embora não haja uma regulamentação da Ufal sobre isso. Eu tinha pensado em entrar numa ação judicial, mas na dúvida da interpretação, do que seria preciso, do que aconteceria, na dúvida, preferi não levar adiante. Mas o que eu gostaria muito era que eles pedissem desculpas formalmente, uma nota, para que as pessoas saibam que o que eles fizeram foi errado. Na questão de conscientizar. Mas eu não sei se isso vai acontecer”, detalha.