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Prédio centenário no Centro de Maceió é invadido e depredado

Segundo arquiteta, dano ameaça história presente na antiga sede de Intendência Municipal

Por Tribuna Independente 18/07/2017 08h15
Prédio centenário no Centro de Maceió é invadido e depredado
Reprodução - Foto: Assessoria

O Palacete da Intendência Municipal no Centro de Maceió, construído em 1909, tem sido progressivamente depredado por vândalos há cerca de um mês. As paredes e o chão foram quebrados para retirada dos fios que compõem a rede elétrica do local, o que põe em xeque a história da edificação.

Como se não bastasse, janelas, portas, lâmpadas e estruturas foram levadas ou quebradas. De acordo com a professora de arquitetura do Cesmac, Adriana Guimarães, o projeto do prédio é de autoria do arquiteto italiano Luigi Guiseppe Lucarini.

“É uma arquitetura eclética, temos poucos edifícios desse período, com essa arquitetura tão monumental, que se destaca na cidade. Por si só, a depredação de um prédio com tanto elementos artísticos já é um problema para a memória da cidade. É lamentável”.

Ainda segundo a arquiteta, o prédio reúne elementos importantes da época, sendo um dos poucos no estado com tais características. Conforme Guimarães, a responsabilidade de manutenção e administração do prédio é do proprietário. A preocupação é que o vandalismo avance e comprometa ainda mais a estrutura.

“As perdas do ponto de vista tanto da arquitetura, de uma edificação que tem uma significação por conta dos elementos, dos adornos, dos elementos artísticos todos, é muita significativa. Até mesmo porque a gente não tem muitas edificações com essa característica aqui.”

No interior do prédio é possível ver muita destruição e lixo espalhado. Alguns vidros foram quebrados e outros simplesmente retirados. Não pouparam nem o hidrômetro, muito menos os fios do poste que conduzem a energia às instalações.

O representante do Pró-Memória da Secretaria de Estado da Cultura, arquiteto Pablo Maia, afirma que o prédio fica numa área de tombamento histórico, mas não há processo de tombamento individual.

“Ele está em área de entorno de praça tombado. Com a depredação, a gente perde um exemplar arquitetônico de Maceió, com uma arquitetura singular no estado. Qualquer prédio suscetível a vandalismo pode-se perder as características do imóvel”, destaca Maia.

O representante do Pró-Memória explica ainda que, a depender do nível de comprometimento, a restauração pode ser inviável.  “Se houver perda total dos elementos, existe o risco de não poder restaurar. Mas no caso em que se mantiverem os elementos, pode ser feita sim a restauração”, expõe.

A responsabilidade sobre a administração e manutenção do prédio, mesmo sendo histórico, segundo Pablo Maia é do proprietário. “Desconheço a propriedade do imóvel, mas a responsabilidade cai sobre o proprietário, mesmo com relevância histórica”, aponta.

“Eles entram e quando saem é com bolsa cheia”, diz ambulante

Nos 108 anos de existência, o prédio já foi ocupado por outros órgãos como a Prefeitura de Maceió, Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal), por exemplo. Até abril deste ano, abrigava a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas). Desde então permanece desocupado.

De acordo com senhor Galvão, vendedor ambulante do entorno, há três semanas começaram as invasões.

“Eu não sei quem foi o primeiro, mas entraram e tiraram as coisas, toda hora vem um diferente. O entra e sai é direto. Têm umas três semanas que começou. Eles entram e, quando saem, é com a bolsa cheia”, diz o vendedor que ocupa o mesmo espaço há dois anos na esquina da Rua do Comércio.

Ele afirma não saber identificar os autores, que acredita serem moradores de rua. Ainda segundo Galvão, a Guarda Municipal já esteve no local. “Eles pegam uma porta dessas que deve valer R$ 500 e vendem por R$ 30 para comprar drogas. É direto gente entrando e saindo. Mas eu cheguei a ver a Guarda aqui. Até ouvi dizer que iam ficar direto, mas até agora não ficaram”, diz.

A responsável por uma banca de revistas em frente ao prédio, que preferiu não ser identificada, conta que os furtos não têm hora para ocorrer.

“Eles entram de dia e de noite. Já vi muitos saindo com coisas do prédio. É horrível. Um prédio desses não era para ser assim. Eu já vi carro de polícia aqui dando carão neles, mas eles continuam vindo”, detalha a comerciante.

Informações apuradas pela reportagem dão conta que o prédio foi desocupado sem aviso prévio do órgão. Procurada, a Semas informou que emitiria nota a respeito, aguardada até o fechamento da edição, porém sem êxito.

A reportagem acionou também a Secretaria Municipal de Segurança Comunitária e Convívio Social (SEMSCS), responsável pela Guarda Municipal, mas não obteve retorno.