Cidades

Nos últimos dois anos, vinte alagoanos morreram por dengue e chikungunya

Zika é particularmente agressivo por causar malformação nos fetos durante gestação

Por Tribuna Independente 28/01/2017 08h02
Nos últimos dois anos, vinte alagoanos morreram por dengue e chikungunya
Reprodução - Foto: Assessoria

Alagoas registrou 20 mortes por Dengue e Chikungunya nos últimos dois anos. Neste mesmo período foram registrados 86.399 casos incluindo o Zika Vírus que apesar de grave, não causou nenhuma morte direta. As complicações decorrentes das três doenças têm causado preocupação para os médicos. No Brasil, registro de mortes em 2016 chegou a 794.

Dados oficiais da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) mostram que houve aumento expressivo nos níveis de infecção da Chikungunya e Zika. Foram 18.132 casos de Chikungunya em 2016, aumento de mais de 1.700% em relação a 2015. Já a Zika infectou 8.026 alagoanos em 2016, contra 272 em 2015, aumento de quase 3000%. Apesar disso os números da Dengue registraram queda. Foram 21.940 casos no ano passado, contra 37.050 em 2015, redução de 40%.

Mesmo não tendo causado mortes no estado, a Zika tem deixado perdas irreparáveis na vida das famílias que tiveram os bebês acometidos por microcefalia. Segundo o Ministério da Saúde, 90 casos de microcefalia causados por Zika foram confirmados em Alagoas, desde o início dos registros, em 2015.

Como o atendimento dos pacientes com suspeita das doenças é feito de maneira descentralizada, os números podem sofrer alterações devido ao lapso de tempo entre a confirmação da doença e a comunicação entre a Sesau e a base de dados do Ministério da Saúde.

O aumento expressivo dos casos de Chikungunya e Zika em Alagoas desencadeia um ciclo de preocupação em relação às doenças associadas. O infectologista, Fernando Maia, explica que os casos de Dengue, Chikungunya e Zika têm sido monitorados no estado, no entanto, muitos pacientes desenvolvem complicações e precisam de cuidados específicos e tratamento adequado.

“Toda pessoa com suspeita das doenças é acompanhada para monitorar as possíveis complicações. São pacientes que vão continuar frequentando o consultório controlando as complicações possíveis. Se a pessoa já tiver alguma doença nas articulações piora muito com chikungunya. O problema da Zika é a mulher grávida que pode desenvolver Síndrome da Zika Congênita”, destaca.

Complicações das doenças impedem recuperação total dos pacientes

A contaminação por doenças relacionadas ao Aedes aegypti pode causar patologias neurológicas associadas, como encefalite, meningite, mielite, neuromielite óptica e síndrome de Guillain-Barré. Além disso, são reportados casos reumáticos crônicos em pacientes com períodos agudos intensos.

A servidora pública Diva Lessa faz parte da estatística de infectados por Chikungunya em 2016. Ela procurou uma unidade de saúde em Maceió e foi diagnosticada com a doença no início de maio do ano passado. Segundo ela, até hoje sente dores nas articulações.

“Quase sete meses e até hoje ainda sinto dores no corpo. Fiquei de repouso, as pernas ficaram inchadas, tive náuseas, febre, quase não conseguia andar”, disse a servidora.

Para Carla Jéssica da Silva, operadora de telemarketing, a Chikungunya foi mais desconfortável. Afastada do trabalho desde 2014 por conta de uma doença autoimune, ela teve o quadro clínico agravado pela Chikungunya. Apesar de ser acompanhada por médicos, não conseguiu avanço no tratamento.

“Tive a doença em março de 2015 e precisei retornar ao trabalho em abril, mas as minhas articulações voltaram a inchar e não aguentei. Comecei a fazer fisioterapia e até acupuntura, mas não tive melhora e fui afastada em setembro de 2015 até agora”, conta.

A reumatologista Inês Lima explica que existem três possibilidades no caso da complicação por Chikungunya. Piora no quadro quando há doença preexistente, desenvolvimento de um quadro temporário, e início de uma doença crônica por conta da infecção pelo vírus.

“Tem aquele paciente que não tem nenhuma doença e desenvolve um quadro articular reativo que é resolvido a partir de um acompanhamento adequado. Tem aquele paciente que não tinha doença prévia e a Chikungunya serve como um gatilho para uma doença imunológica. E os casos onde uma condição médica severa é piorada com a Chikungunya. O problema, na maioria das vezes é que o paciente em todos os casos, está sentido dor e se automedica, o que piora muito a situação”, ressalta a médica.

Segundo dados do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), a Chikungunya afastou 25 trabalhadores alagoanas das suas funções durante 2016. Marina Viegas, médica perita e coordenadora da seção de Saúde do Trabalhador do INSS-AL explica que o número de incapacitados por Chikungunya pode ser ainda maior, se considerados os casos de solicitações indeferidas e benefícios concedidos devido às doenças associadas.

“Temos trabalhadores incapacitados de exercer suas funções laborais especificamente por Chikungunya e outros casos onde o médico perito afastou, mas utilizou outro CID [código de identificação da doença]. Também temos que considerar os pedidos indeferidos e os casos onde o paciente não teve a comprovação da doença, mas está incapacitado de alguma forma”, afirma a perita.

Os pedidos de afastamento por Chikungunya, segundo o INSS, são mais comuns em mulheres, na faixa etária de 45 a 49 anos.

Maceió tem 24% dos casos

A capital alagoana registrou 9 das 10 mortes por Chikunguya em Alagoas. As três doenças somadas acometeram mais de 20 mil pessoas entre 2015 e 2016. No ano passado Maceió reportou 4.773 casos de Dengue, 6.031 de Chikungunya e 5.982 de Zika. As áreas com maior incidência das doenças são os bairros do Centro, Levada e Chã da Jaqueira.

Lorella Chiappetta, coordenadora do Centro Especializado de Reabilitação do PAM Salgadinho, em Maceió, explica que os pacientes são encaminhados para reabilitação para os tratamentos após as doenças. Segundo ela, a microcefalia causada pelo Zika Vírus tem um tratamento adequado para cada tipo de incapacitação. Já a Chikungunya, quando acomete pacientes na esfera reumática causa um tratamento de longo prazo.

“Os bebês precisam ser acompanhados de acordo com cada área afetada, se é visão, deglutição, a parte motora ou cognitiva. Dependendo da situação do paciente é que vai ser desenvolvido o tratamento. Muitos casos encaminhados para a capital, são provenientes do interior o que dificulta ainda mais o acompanhamento”, expõe.

A médica reforça que os danos causados pelo vírus do mosquito Aedes aegypti vão além dos problemas de saúde. “São pacientes que tiveram limitação das atividades laborais, afastamentos do trabalho, não estão mais 100% e não conseguem mais ter a mesma qualidade de vida. Também temos mães que precisam dar suporte às crianças com microcefalia, e isso impede que cuidem dos demais filhos. É uma situação extremamente complexa, porque, além disso, ainda onera o Estado no sentido que gera gastos previdenciários e para a saúde pública”, aponta.