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Velório de Marcelo Yuka tem músicas cantadas em coro em homenagem ao artista

Cerimônia aberta ao público foi realizada na Sala Cecília Meirelles; amigos e músicos como Marcelo D2 foram se despedir do artista e cantaram sucessos d'O Rappa, que Yuka fundou

Por G1 Rio / GloboNews 19/01/2019 17h38
Velório de Marcelo Yuka tem músicas cantadas em coro em homenagem ao artista
Reprodução - Foto: Assessoria
O corpo do músico e compositor Marcelo Yuka foi velado neste sábado (19) na Sala Cecília Meireles, na Lapa, Rio de Janeiro. O artista morreu na noite de sexta (18), após complicações de um AVC. O enterro está marcado para este domingo (20), às 13h, no cemitério de Campo Grande. Amigos, fãs e parentes cantaram sucessos do grupo O Rappa – que Yuka fundou –, como "Hey Joe", "Minha alma" e "O que sobrou do céu". “Conhecia o Yuka desde 1989. Lembro de nós dois sentados aqui na Lapa, no início da década de 1990, comendo cachorro-quente e conversando sobre como poderíamos mudar esta cidade, muito antes do Rappa e do Planet Hemp", disse o músico Marcelo D2. "Em um momento tão escuro quanto este em que vivemos, com tanta violência, o Yuka nos ensinou a espalhar amor.” “É uma perda imensa para todos nós. Para todos que se preocupam mais em fazer arte que dinheiro. Para todos que se importam com os menos favorecidos, como ele sempre foi”, disse Djalma Santos, pai de Yuka. Na porta do velório, o artista Marcondes Rocco, de 42 anos, pintava um quadro com a rosto do artista. O quadro foi entregue a familiares. “As letras dele mostram que sempre podemos ir além de onde estamos. Que podemos superar qualquer barreira social. Pretendo entregar este quadro à família como forma de agradecimento pelo bem que as músicas dele me fizeram", disse Rocco. Durante o velório, amigos cantaram canções do Rappa, como "Pescador de iluões", "O que sobrou do céu", "Minha alma" e "Hey Joe", versão da banda para a canção de Jimi Hendrix e, na tarde deste sábado, interpretada por Ivo Meireles. A reportagem do G1 saiu do velório às 19h. Até aquele momento, nenhum dos ex-colegas de banda de Yuka haviam comparecido ao local. A ausência era esperada - a saída de Yuka do Rappa foi amarga e deixou marcas permanentes em todos os envolvidos. No documetário "Marcelo Yuka no caminho das setas", de Daniela Broitman, o vocalista Marcelo Falcão cita algumas razões para o fim da parceria com o baterista. Um deles, seria o aprofundamento da relação do colega com alguns movimentos sociais. "O envolvimento do Yuka com os movimentos estava mais forte. Tinha parada dele, do ativista, de querer ser o melhor para a galera e tal. Só que algumas bandeiras estavam usando ele". Ao ser questionado se não foram justamente essas bandeiras que fizeram o Rappa se transformar na banda que era, Falcão responde fazendo alusão a dois dos principais rappers americanos: "Defendo todas elas sem me associar politicamente a nenhuma. Não vou botar boné. Vou botar boné da minha marca. Jay-Z fez isso. Puff Daddy fez isso. Caras bem-sucedidos. Hoje quem manda no mercado americano são os rappers. Os caras começaram a abrir a cabeça que não é só música - tudo vinga. A internet, tudo. E eu me abri para isso". O próprio músico descreve a situação na biografia "Não se preocupe comigo - Marcelo Yuka", lançada em 2014 e escrita por Bruno Levinson. Morte aos 53 anos Marcelo Yuka, que foi um dos fundadores da banda O Rappa, morreu aos 53 anos, no Hospital Quinta D'or, em São Cristóvão, na Zona Norte. O artista estava internado em estado grave com um quadro de infecção generalizada. O músico sofreu um acidente vascular-cerebral (AVC) no dia 2 de janeiro. No meio do ano passado, ele já havia tido outro AVC. Em 2000, Yuka ficou paraplégico ao ser atingido por nove tiros durante um assalto a uma mulher na Tijuca, na Zona Norte do Rio. Trajetória Nascido no Rio de Janeiro em 1965, Marcelo Fontes do Nascimento Viana de Santa Ana, o Marcelo Yuka, foi um dos fundadores da banda O Rappa. No grupo, era o baterista e principal compositor até sua saída, em 2001. Com a banda, chegou ao sucesso com o segundo disco, "Rappa Mundi", em 1996. Em 2000, foi atingido por tiros ao tentar impedir um assalto e ficou paraplégico. Yuka escreveu letras sobre temas como violência urbana, racismo e desigualdades sociais. "Minha alma (a paz que eu não quero)", "Me deixa" e "Todo camburão tem um pouco de navio negreiro", por exemplo, foram escritas por ele. Mesmo impossibilitado de tocar bateria, continuou na banda, lançando em 2001 o álbum “Instinto Coletivo”, gravado em show realizado antes do incidente. No mesmo ano, Yuka deixou O Rappa, e afirmou ter sido expulso pelos demais integrantes por não concordar com os rumos da banda. Em 2004, fundou a banda F.ur.t.o (Frente Urbana de Trabalhos Organizados), parte de um projeto social que já existia na época de O Rappa. Cinco anos depois, foi vítima de outro assalto e levou socos e pontapés de bandidos que tentavam levar seu carro. O músico chegou a ficar sob as rodas do veículo e só não foi atropelado porque os assaltantes não conseguiram dar partida no veículo, adaptado para deficientes. Em 2017, lançou seu primeiro álbum solo, "Canções para depois do ódio", com uma sonoridade que mesclava batidas eletrônicas e ritmos afro, fruto da parceria com o produtor e DJ Apollo 9. Céu, Seu Jorge, Cibelle e Bukassa Kabengele participaram do disco. Na política, foi filiado por oito anos ao PSOL e chegou a concorrer a vice-prefeito do Rio de Janeiro em uma chapa com Marcelo Freixo em 2012.