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SAP confirma fuga de 152 detentos durante rebelião em Bauru

Até a tarde, 100 fugitivos foram recapturados pela polícia

Por G1 24/01/2017 21h47
SAP confirma fuga de 152 detentos durante rebelião em Bauru
Reprodução - Foto: Assessoria

A Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) confirmou que 152 detentos fugiram do Centro de Progressão Penitenciária (CPP 3) "Prof. Noé Azevedo", em Bauru (SP), durante a rebelião desta terça-feira (24). Policiais militares já recapturaram 100 homens, segundo a SAP, mas 52 continuam foragidos. Parte dos detentos serão levados ao Centro de Detenção Provisória (CDP) I e II de Bauru, outros para presídios da região e cerca de 600 devem ficar na penitenciária.

A SAP também informou que todos os presos envolvidos na rebelião e os apreendidos regredirão ao regime fechado. 

Os 10 presos apontados pela polícia com responsáveis pela rebelião foram levados para a Central de Polícia Judiciária (CPJ). Um deles é Jeferson da Silva Talarico, detento que estava com celular no momento da inspeção de rotina, e teria sido o motivo da rebelião. De acordo com a Polícia Civil, Jeferson foi o único preso que conseguiu fugir do CPP. Os outros nove foram rendidos ainda dentro do presídio. Os 10 presos serão autuados por associação criminosa, incêndio, dano ao patrimônio público, motim qualificado e tentativa de cárcere privado.

Durante uma coletiva na tarde desta terça-feira, o coronel da Polícia Militar Flávio Kitazume descartou relação com outras rebeliões que estão acontecendo no país. “Em nenhum momento houve refém e por isso descartamos este caso em relação aos demais fatos que estão acontecendo em outras regiões do país e isso nos tranquiliza.”

Segundo informações da Polícia Militar, os presos colocaram fogo no prédio de três pavilhões e conseguiram fugir. O capitão da Polícia Militar Juliano Loureiro diz que a situação foi controlada ainda de manhã. O Corpo de Bombeiros foi chamado para controlar as chamas e o helicóptero Águia sobrevoa a cidade para localizar os fugitivos.

No período da tarde, chamas foram vistas novamente saindo de um dos pavilhões da penitenciária. Os bombeiros informaram que não se trata de uma nova rebelião, mas sim de um foco de incêndio que não foi totalmente controlado e que equipes trabalham para controlar as chamas e fazer o rescaldo.

“Esse é um caso isolado e não há qualquer relação com o crime organizado, mesmo porque os detentos são de regime semiaberto. Eles saem para trabalhar e têm benefícios com saídas temporárias. Pode haver um problema de relacionamento entre eles. Se houve um problema, foi algo pontual. O motivo da revolta está sendo apurado e também por que alguém portava celular lá dentro”, afirmou o coronel da PM Airton Martinez.

Ainda segundo o coronel Airton houve uma tentativa de roubo de carro perto do CPP 3, mas os suspeitos foram presos em flagrante e uma tentativa de roubo a carro a uma mulher, que se assustou e bateu em uma árvore. “Não houve invasão em lugar nenhum e o comércio está voltando a funcionar normalmente. Todos os policiais estão patrulhando no centro da cidade.”

Segundo a SAP, o CPP 3 - antigo IPA (Instituto Penal Agrícola) - funciona em regime semiaberto e tem capacidade para 1.124 pessoas, mas abriga atualmente 1.427 presos. Já o sindicato dos agentes funcionários afirma que o CPP 3 tem capacidade para 742 presos e abriga 1.500.

O regime do CPP 3 é semiaberto e todos os detentos têm direito a trabalhar ou estudar fora da unidade. Segundo a SAP, hoje, 208 presos trabalham fora da penitenciária, outros 65 em empresas dentro da unidade e  358 trabalham em atividades de manutenção do próprio presídio. Os outros estão em férias escolares ou aguardam conseguir uma atividade.

Três pavilhões estão com muitos danos, segundo o capitão da PM. Familiares de presos foram ao local em busca de informações de vítimas, mas o sindicato dos agentes penitenciários afirma que nenhum agente foi feito refém ou ficou ferido e que alguns presos ficaram feridos, mas nenhum com gravidade.

Uma perícia ainda será feita na penitenciária, mas a Polícia Civil acredita que mais de 80% dos prédios foram destruídos. O alojamento, a cozinha e a escola foram tomadas pelo fogo. Só a parte de administração não foi afetada pela rebelião.

A Secretaria da Administração Penitenciária informou que as reformas serão feitas após a vistoria do Núcleo de Engenharia da SAP para realizar o levantamento das partes afetadas e, iniciar as medidas para recuperação do prédio.

Um vídeo registrado por um morador mostra o momento em que policiais abordam um carro com detentos que tinham fugido. (Veja abaixo).

Apreensão de celular

Segundo o presidente do Sindicado dos Agentes Penitenciários, Gilson Pimentel Barreto, a rebelião em Bauru começou por causa de uma apreensão de celular dentro da penitenciária. "Durante uma ação dos funcionários no alojamento e pegaram um preso com um celular e a revolta começou devido a isso. Os funcionários estavam retirando o preso e o resto da população não aceitou."

Ainda segundo Barreto, os detentos do CPP 3 em Bauru não estavam sendo monitorados com tornozeleira eletrônica porque o convênio entre o estado e a empresa não foi renovado. "Foi colocado fogo em papelões, tem alguns feridos, funcionários não ficou ninguém refém, mas não foram muitas fugas", afirma.

Por conta da rebelião, uma onda de pânico se espalhou na cidade. Comerciantes fecharam lojas e a unidade do Poupatempo em Bauru reforçou a vigilância. Os serviços públicos municipais foram retomados durante a tarde.

Confira a nota enviada pela SAP:

A Secretaria da Administração Penitenciária informa já foram recapturados 100 reeducandos dos 152 evadidos do Centro de Progressão Penitenciária (CPP) III, popularmente conhecido como Instituto Penal Agrícola  "Prof. Noé Azevedo" de Bauru.

O tumulto de hoje aconteceu durante revista de rotina. O incidente iniciou-se após um Agente de Segurança Penitenciária ter surpreendido um preso se comunicando através de celular.

A situação foi rapidamente controlada pelo  Grupo de Intervenção Rápida, enquanto que a Polícia Militar atua na recaptura dos evadidos. Não houve reféns. Todos os presos envolvidos no episódio e os apreendidos regredirão ao regime fechado. Ressalvamos que as unidades de regime semiaberto, conforme determina a legislação brasileira, não dispõem de muralhas nem segurança armada, sendo cercada por alambrados. A permanência do preso nesse regime se dá mais pelo senso de autodisciplina do preso do que a mecanismos de contenção. Os presos que cumprem a pena em regime semiaberto podem obter permissão para trabalhar e estudar fora da unidade penal e pela Lei de Execução Penal poderão visitar os familiares em cinco ocasiões do ano.

O CPP III é o antigo Instituto Penal Agrícola de Bauru e está localizado numa área, do tipo fazenda, de 240 alqueires. Hoje, 208 presos trabalham fora da unidade, exercendo atividades externas, outros 65 em empresas dentro da unidade e  358 trabalham em atividades de manutenção do próprio presídio.