Polícia

Operação fecha clínica em Marechal Deodoro após morte brutal de paciente e denúncias de abusos

O local é o mesmo onde a esteticista Cláudia Pollyane, de 41 anos, foi assassinada no dia 9 de agosto

Por Tribuna Hoje com agências 25/08/2025 10h04 - Atualizado em 25/08/2025 11h25
Operação fecha clínica em Marechal Deodoro após morte brutal de paciente e denúncias de abusos
Clínica de reabilitação Luz e Vida, em Marechal Deodoro foi interditada nesta segunda (25) - Foto: PC/AL


Equipes da Polícia Civil de Alagoas (PC/AL), Instituto de Criminalística (IC), Vigilância Sanitária, Corpo de Bombeiros (CB) e outros órgãos deflagraram, na manhã desta segunda-feira (25), uma operação na clínica de reabilitação Luz e Vida, em Marechal Deodoro. O local é o mesmo onde a esteticista Cláudia Pollyane Faria de Santa’Anna, de 41 anos, foi brutalmente assassinada no dia 9 de agosto.

Dias depois, em 14 de agosto, uma adolescente de 16 anos foi retirada do estabelecimento e denunciou ter sido vítima de abusos sexuais atribuídos ao proprietário da clínica. Na ocasião, a esposa dele, que também administrava o estabelecimento, acabou presa.

Durante a ação, estão sendo cumpridos mandados de busca e apreensão, além da realização de perícia por técnicos do Instituto de Criminalística (IC). A operação também deve avaliar a situação estrutural e administrativa da clínica, que já havia sido alvo de denúncias de irregularidades.

Foto: Guilherme Carvalho Filho/Cortesia

A ação acontece em meio ao avanço das investigações que já levaram à prisão do proprietário e da esposa, acusados de estupro, maus-tratos e tortura contra pacientes. Segundo a delegada Ana Luiza Nogueira, há fortes indícios de homicídio culposo no caso da esteticista, além de relatos de violência física, psicológica e sexual dentro da chamada “comunidade terapêutica”.

“Já ouvimos mais de 30 pessoas, e o material probatório é robusto”, afirmou a delegada, destacando que a polícia busca identificar outros possíveis envolvidos.

"Vejam que ele (proprietário) veio de São Paulo, já tinha, inclusive, indicativo de cometimento de crime de homicídio ocorrido naquela cidade. E também havia uma clínica com o mesmo modus operandi ocorrido em Marechal Deodoro. Daí a gravidade dos fatos e a necessidade de, aqui em Alagoas, apurarmos essa conduta com muito rigor", destacou a autoridade policial.

Foto: Guilherme Carvalho Filho/Cortesia

Mais de 20 pacientes foram retirados da clínica pelas próprias famílias após a repercussão do caso. O proprietário, preso em um motel, negou as acusações, mas a polícia já reuniu evidências que reforçam as denúncias. 

Dono da clínica de reabilitação foi preso na sexta-feira, 22, em um motel, em Jacarecica - Reprodução / TV Pajuçara

A comissão que investiga o caso é composta pelas delegadas Ana Luiza Nogueira, coordenadora das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs), Liana Franca, titular do 17º Distrito Policial de Marechal Deodoro, e Maria Eduarda, da Diretoria de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco).

Foto: Guilherme Carvalho Filho/Cortesia


As investigações seguem em andamento e envolvem tanto o assassinato de Cláudia Pollyane quanto as denúncias de crimes sexuais e de funcionamento irregular da clínica.

Histórico de irregularidades

O caso ganha ainda mais gravidade diante do histórico dos proprietários da Luz e Vida. O casal que administra a clínica já respondeu a processo por irregularidades em outra instituição que mantinham em São Paulo.

De acordo com denúncia à época, a clínica paulista impedia contato telefônico e visitas de familiares sob o argumento de que o afastamento seria parte do tratamento contra a dependência química. Além disso, cobrava mensalidades em torno de R$ 850,00, mais R$ 100,00 para condução a atendimentos médicos e R$ 80,00 para despesas de lavanderia.

As acusações incluíam notícias de maus-tratos, restrição alimentar, fornecimento de alimentos estragados, uso excessivo de medicamentos sem prescrição médica, abusos psicológicos e ameaças para que os internos não denunciassem o que acontecia no local.

Na ocasião, uma inspeção da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Pessoal da Prefeitura de Jarinu, acompanhada da Vigilância Sanitária, constatou superlotação, ambiente insalubre, falta de higiene, ausência de medidas de prevenção à Covid-19, ausência de acessibilidade para idosos e pessoas com deficiência, além de diversos outros problemas.

Durante a fiscalização, internos relataram agressões físicas e psicológicas, castigos, alimentação insuficiente e condições precárias de higiene. A vistoria resultou na lavratura de um auto de imposição de penalidade e aviso de interdição a partir de 7 de fevereiro, devido à falta de licença para funcionamento e outras irregularidades.

Pedido por justiça

Os amigos de Polly afirmam que o caso não é apenas sobre a sua morte, mas sobre a proteção de quem ainda está internado na clínica. “Muitas famílias acreditam que seus parentes estão em um bom lugar, mas talvez não estejam sendo cuidados. Queremos justiça para evitar que outras pessoas passem pelo que ela passou”, declarou Rodrigo Rodas, um dos integrantes do grupo.

Amigos de Polly usam camisetas personalizadas em protesto, cobrando explicações sobre sua morte - Foto: Edilson Omena