Polícia

Polícia continua investigando o caso da bebê desaparecida em Novo Lino

Nenhuma possibilidade é descartada e os profissionais trabalham também com as hipóteses de a mãe ter doado ou vendido a garotinha

Por Valdete Calheiros - colaboradora 14/04/2025 20h16 - Atualizado em 15/04/2025 08h46
Polícia continua investigando o caso da bebê desaparecida em Novo Lino
Secretário de Segurança Pública, delegado Flávio Saraiva, esteve presente nas investigações em Novo Lino - Foto: Edilson Omena

Completa nesta terça-feira (15) cinco dias o caso investigado, inicialmente, como sequestro da recém-nascida Ana Beatriz Silva de Oliveira que teria sido raptada dos braços da mãe, aos 15 dias de vida, na última sexta-feira, no município de Novo Lino.

A mãe, Eduarda Silva de Oliveira, mudou nesta segunda-feira (14), mais uma vez, a versão inicial apresentada na última sexta-feira (11). Foi a quinta versão em cinco dias de investigação. A mais recente é de que ela esqueceu de trancar a casa e que a residência teria sido invadida por dois homens encapuzados que teriam violentado ela sexualmente, mesmo sem conjunção carnal, e teriam levado a garotinha. O fato, segundo ela, aconteceu entre a meia noite da última quinta-feira (10) e uma da madrugada da última sexta. Esta versão foi contada pelo delegado João Marcelo, durante coletiva à imprensa, concedida nesta segunda-feira, em Novo Lino.

Todo o aparato da Secretaria de Segurança Pública esteve nesta segunda em Novo Lino, na residência da família da Ana Beatriz, inclusive o secretário Flavio Saraiva. A investigação está sob a responsabilidade da Seção Antissequestro da Diretoria de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco).

O secretário estava acompanhado dos delegados, João Marcello, da Delegacia Antissequestro, Igor Diego, diretor da Dracco. Depois de horas dentro da residência da família, eles concederam uma entrevista coletiva, ao lado da prefeita de Novo Lino, Marcela Silva Gomes de Barros. A Polícia Militar foi representada pelo major Levi.

Entrevista coletiva realizada no Cisp de Novo Lino (Foto: Ascom SSP/AL)

A Polícia não descarta nenhuma possibilidade nas investigações e trabalha também com as hipóteses de a mãe ter doado ou vendido a garotinha. A casa da família está monitorada pela Polícia Militar, com viaturas para garantir a integridade física da mãe. Até o momento, ela não é considerada suspeita, apesar de ter apresentado diferentes versões sobre o caso. Para a Polícia, o objetivo é encontrar a recém-nascida com vida.

O delegado Igor Diego, diretor da Dracco, afirmou que, desde o início, todas as forças policiais, até mesmo do estado vizinho de Pernambuco, estão envolvidas no caso. E que nesta segunda todo o perímetro de Novo Lino foi vistoriado pela Polícia e Corpo de Bombeiros, inclusive, com cães farejadores. E nada foi encontrado. Desde o início das investigações, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) também está prestando apoio.

Corpo de Bombeiros atuou no perímetro em Novo Lino com cão farejador (Foto: Edilson Omena)

“É uma questão delicada. Novas varreduras serão feitas. As investigações não terminaram. A Polícia continua o trabalho. Qualquer informação será checada. Vamos aprofundar os fatos em relação a mãe. Qualquer outra versão apresentada por ela, será levada em consideração e investigada. Os fatos devidamente esclarecidos e as responsabilidades serem tomadas”.

As investigações apontaram que o pai da recém-nascida, Jaelson da Silva Souza, não tem envolvimento com nenhum tipo de crime. Também foram desmentidos rumores de que o casal estaria sofrendo uma crise no relacionamento.

Conforme o delegado Igor Diego, a mãe chegou a viajar para São Paulo para morar com o esposo que estava residindo naquele estado a trabalho. No entanto, por conta da gestação, a família, de ambos, achou melhor ela retornar a Novo Lino para cuidar melhor da gravidez. O esposo contou à Polícia que ela tinha crises de ansiedade, mas completou que não se tratava de nada de maior gravidade. O casal é pai também de um garotinho de cinco anos de idade.

Testemunhas disseram que na sexta, ao contrário de todos os outros dias, não ouviram choros da recém-nascida. Afirmaram também que nos últimos dias antes do sumiço da menininha, a mãe perguntou o que fazer para cuidar da filha que estava sofrendo muito com cólicas. Ela foi orientada sobre o que fazer, mas não chegou a dar retorno se a menininha teria melhorado.

As mesmas testemunhas negaram que a mãe esteve na BR, nem foi vista com a recém-nascida nos braços nos braços na última sexta-feira.

No último sábado, a população de Novo Lino chegou a bloquear o trecho da BR-101, com o objetivo de cobrar agilidade nas investigações e uma resposta rápida das forças de segurança de Alagoas.

O drama familiar é ainda maior porque o pai da bebê, Jaelson da Silva Souza, sequer conheceu a filha ainda. Ele está morando em São Paulo, onde trabalha. “Meu sonho é voltar e ver minha filha”, lamentou o pai de bebê, na semana passada. Ele estava há um mês a trabalho em Santa Mercedes, no interior de São Paulo. Desde o nascimento da filha, os contatos foram apenas por vídeos e fotos.

Através de vídeo e ainda de São Paulo, ele chegou a fazer um apelo emocionado para encontrar e poder conhecer pessoalmente a filha. “Eu peço a vocês para me ajudar a encontrar minha filha. Estou no estado de São Paulo, na cidade de Santa Mercedes, vim a trabalho há um mês e acordei com a notícia de que sequestraram a minha filha. Eu não consegui pegar minha filha nos braços, só vi por vídeo e foto, não tive nenhum contato físico e aconteceu esse fato lamentável. Tanto eu como minha esposa estamos arrasados. Peço ao pessoal que fez isso que deixe ela em algum lugar e avise, que a gente vai buscar. Meu sonho era terminar a safra e voltar para casa e ver minha menina”, desabafou o pai, ainda no dia do suposto sequestro. Ele retornou a Alagoas ainda na sexta passada.

Segundo o advogado de defesa a genitora, ela sofre de depressão pós-parto. Eduarda Silva de Oliveira está recebendo atendimento psicossocial. Nesta segunda-feira, ela passou mal e foi socorrida em uma ambulância. Ainda nesta segunda-feira pela manhã, ela prestou novo depoimento no Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp) de Novo Lino. Ela estava acompanhada do advogado e do marido.

Durante toda esta segunda-feira, uma das linhas de investigação é de que a recém-nascida estaria morta e o corpo poderia ter sido perto da casa da família. Nada foi encontrado.

Nada foi encontrado no local (Foto: Edilson Omena)

Nesta segunda circulou um vídeo nas redes sociais com imagens de uma recém-nascida que chegou a ser apresentada como Ana Beatriz. A Polícia destacou a possibilidade. A recém-nascida em questão é de São Luís, no Maranhão.

O caso está com repercussão nacional. Uma vez que ainda na última sexta-feira, o Ministério da Justiça e Segurança Pública inseriu no “Amber Alert” – um sistema internacional de emergência que ajuda a localizar pessoas desaparecidas – o nome da bebê Ana Beatriz Silva de Oliveira.

A publicação feita no sistema de alerta urgentes, que foi adotado pelo Brasil desde agosto de 2023, contém uma foto e a descrição da criança desaparecida, além do local e horário onde ela foi vista pela última vez.

O programa “Amber Alert” é um sistema de alertas urgentes estabelecido nos Estados Unidos – e adotado pelo Brasil – que é ativado em alguns casos de rapto ou sequestro de crianças. Este sistema dispara publicações nas plataformas da Meta para anunciar a descrição da criança sequestrada, além de descrições de qualquer indivíduo suspeito de envolvimento no crime.

Ainda na sexta passada, um veículo supostamente utilizado no crime foi localizado em Vitória de Santo Antão, Pernambuco. Dentro do carro, havia placas frias. A mãe da criança chegou a reconhecer o carro envolvido no sequestro. O fato já foi descartado pela polícia.

O sequestro, segundo a mãe, teria acontecido por volta das 06h30, quando, na versão inicial, um carro, modelo Corsa Classic, de cor preta, com três homens e uma mulher teria se aproximado e levado a menininha. O crime teria ocorrido na Rodovia BR-101, no povoado Novo Eusébio, no município de Novo Lino.

Quem tiver informações sobre o paradeiro da recém-nascida Ana Beatriz ou dos suspeitos, pode entrar em contato com a polícia através do Disque-Denúncia no número 181. O sigilo do denunciante é garantido.