Política

MDB segue rachado mesmo com mudança no nome do partido

Filiados defendem reoxigenação da legenda em meio à rejeição de Temer

Por Carlos Victor Costa com Tribuna Independente 03/03/2018 10h32
MDB segue rachado mesmo com mudança no nome do partido
Reprodução - Foto: Assessoria
No final do ano passado, o PMDB aprovou uma mudança de nome e voltou a se chamar MDB (Movimento Democrático Brasileiro), mesma sigla adotada durante o período do bipartidarismo na ditadura militar (1964-1985), no Brasil. Apesar da aprovação, há um imbróglio envolvendo alguns diretórios do partido, que inconformados com a pretensa mudança foram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) questionar a situação e a direção nacional da sigla terá que dar explicações. Lideranças do partido em Alagoas opinaram acerca da mudança para MDB, bem como se houve uma tentativa dos filiados em escamotear denúncias da operação Lava Jato que pesam contra alguns membros da legenda. No partido desde a década de 70, o senador Renan Calheiros disse à Tribuna Independente que não participou da decisão sobre a modificação da sigla. Ele entende que a mudança não é algo relevante, pois o que está sendo colocado é a restauração da origem do partido. Renan ainda voltou a fazer duras críticas ao presidente Temer. “Eu defendo que as mudanças que devam acontecer no MDB sejam simples, de bandeira, de programas. Não concordo com esse PMDB como um todo. Acho que o governo errou muito. Tem a pior avaliação de todos os governos de todos os tempos. E acho que se o Temer for o candidato a presidente, vai rebaixar o PMDB à série D dos partidos. Graças a Deus eu não sou desse PMDB. Eu sou de outro PMDB”, argumenta. O senador deixou claro que há um racha dentro do partido e que ele faz parte da oposição ao núcleo que comanda a sigla da Executiva Nacional. “A convivência democrática no partido precisa ser restabelecida. O PMDB expulsou a senadora Kátia Abreu. Teríamos um confronto na disputa interna do partido, mas eles prorrogaram o mandato por mais um ano. Esse embate que vai ter é contra o governo. São vários senadores e deputados. Faço parte e sou um modesto militante. Vão sair 10 deputados federais do partido por conta de toda essa situação. O PMDB precisa ser reoxigenado como um todo, não apenas o nome”. Para Wanderley, saudosismo é sem sentido Integrante do partido desde a década de 80, o médico cardiologista José Wanderley Neto acredita que a mudança para MDB não significa nada, limitando-se apenas um saudosismo que não tem mais sentido porque os tempos são outros. “A gente não vai colocar o partido como já foi no centro dos grandes conflitos, principalmente ideológicos que era o MDB da época. Isso tudo passa por um desconforto da população com a política. Um reflexo disso é que quase todos os partidos estão fazendo essas mudanças. O mundo está precisando da mudança de conceitos da maneira de pensar. Estamos nos perdendo muito nas questões pessoais. E isso não é um problema dos partidos, e sim da sociedade organizada que tem que começar pela classe estudantil. Quando entramos éramos estudantes, nós questionávamos, colocávamos ideias para ser discutidas e promovíamos greves. As pessoas querem que apareça uma pessoa que resolva todos os problemas financeiros e existenciais. O mundo está precisando ir para o divã”, avaliou o médico que foi vice-governador do estado de 2007 a 2011. HISTÓRICO O secretário geral do MDB em Alagoas, Ricardo Santa Ritta, que está na legenda há 24 anos avaliou da mesma forma que o senador Renan Calheiros. E explicou que a mudança de MDB para PMDB ocorreu devido ao fim do bipartidarismo, em 1979, que levou à reorganização do quadro partidário. “O partido já se chamou MDB, foi criado com essa sigla. Em determinado momento houve a obrigatoriedade para que todo partido tivesse antes da sua denominação, o nome partido e a letra ‘P’. Então, todos ficaram com o ‘P’ na frente. Foi feita essa proposição e votado para essa operação, inclusive mantendo a logomarca e só fazendo uma atualização. O que está se buscando é voltar às origens. Chegou nesse momento e muitos quiseram essa alteração”. Santa Ritta explicou também que a mudança não significa se livrar da Operação Lava Jato ou de qualquer outro tipo de acusação. “Como já diz o ditado, pau que bate é chico, bate em Francisco. Não tem essa não”. MANIFESTAÇÃO O ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Admar Gonzaga determinou que o Diretório Nacional do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) ofereça a sua defesa acerca de impugnação apresentada por diretórios de três municípios ao pedido da legenda para o restabelecimento do nome Movimento Democrático Brasileiro (MDB). O pedido de alteração estatutária, incluindo a mudança de nome, foi protocolado no TSE pelo órgão nacional do PMDB no dia 31 de janeiro. Contestam a alteração na nomenclatura da sigla os diretórios municipais de Curitiba (PR), Florianópolis (SC) e Porto Alegre (RS). Outros três partidos aguardam a análise, por parte da Corte Eleitoral, de pedidos para alteração de nomenclatura. O Partido Social Democrata Cristão (PSDC) quer se chamar Democracia Cristã (DC). O Partido Ecológico Nacional (PEN) quer mudar para Patriota (PATRI) e o Partido Progressista (PP) quer trocar para Progressistas, mantendo a sigla PP.