Cidades

Número de nascimentos cai 6% em AL, de acordo com números do IBGE

Estado teve redução além da média nacional de 5,1% e regional 5,5%; crise e microcefalia podem ter ocasionado queda

Por Texto: Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 15/11/2017 13h53
Número de nascimentos cai 6% em AL, de acordo com números do IBGE
Reprodução - Foto: Assessoria
Segundo IBGE, Estado teve redução além da média nacional de 5,1% e regional 5,5%; crise e microcefalia podem ter ocasionado queda O número de nascidos vivos no Estado em 2016 teve redução de 6,1% em comparação ao ano de 2015. Os dados são do levantamento nacional de Estatísticas do Registro Civil divulgado na terça-feira (14) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram 48.230 nascimentos registrados em 2016, enquanto que em 2015 foram contabilizados 51.339 nascimentos. A redução apontada em Alagoas está acima da média nacional que foi de 5,1% de queda e da regional que apresentou menos 5,5%. Em todo o Brasil foram 2.793.935 nascidos vivos no ano de 2016. No ano anterior 2.945.344 nascimentos haviam sido registrados. Na região Nordeste foram 777.092 em 2016 contra 822.070 em 2015. De acordo com a supervisora de registro civil do IBGE em Alagoas, Marla Barroso França, a diferença no estado é expressiva e aponta para uma tendência nacional de retração nos nascimentos por conta da crise econômica. Segundo ela, Pernambuco foi o estado com a maior redução do Nordeste e do país (-10%), o que mostra que a microcefalia também pode ser associada. “Não é uma diferença tão grande como Pernambuco, onde houve 10% de redução. Imaginamos que a crise econômica tem afetado o desejo das famílias em se programarem para ter filhos. Deve existir também uma associação com a microcefalia, onde analisamos uma grande queda. No sentido de que as mulheres postergaram sua intenção de engravidar para um momento onde a situação estivesse um pouco melhor”, avalia. Para o casal Simone Rocha, de 42 anos, e Adjalma Ferreira, de 46 anos, os planos de um segundo filho foram adiados até serem cancelados. Ela conta que a necessidade de trabalhar fez com que o filho Isaque, de 9 anos, não ganhasse um irmão. “Eu tenho que sair para trabalhar também e a qualidade de vida que eu poderia oferecer a um segundo filho seria diferente, porque no primeiro eu não trabalhava e dava dedicação exclusiva. Por conta da situação financeira eu precisei trabalhar e isso dificultou um segundo filho”, conta Simone. Simone, que é assistente administrativa, diz que o custo elevado de ter um filho, tanto na parte financeira como na parte emocional, pesaram na decisão. “Sabia que não ia ser da mesma forma e, na situação que o país se encontra, acabei deixando de lado. Chegamos a conversar muito sobre isso. Tínhamos o desejo de ter um segundo filho, mas aí o tempo vai passando e você acaba desistindo”, detalha. Para médico obstetra, microcefalia resultou em medo de engravidar Considerando a idade das mães no momento do nascimento, a pesquisa revela que 28,3% tinham entre 20 a 24 anos, uma característica da região Nordeste, onde a média é de 29,6% dos nascimentos neste grupo. A segunda colocação é ocupada pelas mães de 15 a 19 anos, com 23,7% dos nascidos vivos em 2016. As mulheres entre 25 e 29 anos representaram 21,3% das mães no período, seguidas pelo grupo de 30 a 34 anos com 15,8%. Em relação ao sexo dos bebês no estado, 51,3% ou 24.754 nascidos vivos em 2016 foram do sexo masculino, contra 23.475 ou 48,7% nascimentos do sexo feminino. Os números se mantiveram praticamente estáveis em relação ao ano anterior quando 48,98% dos nascimentos foram do sexo feminino e 51,02% foram do sexo masculino. FATORES O obstetra Gustavo Cantarelli afirma que a explosão de casos de microcefalia, entre 2015 e 2016 havia um receio entres as gestantes e mulheres com desejo de engravidar. “A microcefalia na realidade no final de 2015 e 2016 realmente houve essa queda, por conta do medo. Mães grávidas estavam saindo de região com incidência e indo para outros lugares. Agora, isso tá melhorando. Esse medo está um pouco estabilizado com a diminuição dos casos. Mas no surto que houve, realmente, houve queda substancial nisso”, observa o médico. Outros fatores considerados pelo médico envolvem a condição das famílias e o avanço profissional feminino. “O grande nicho que eu vejo na questão de filhos primeiro é a dificuldade socioeconômica, o segundo ponto é a questão da independência e evolução profissional das mulheres que requer tempo e dedicação e acaba adiando o planejamento familiar de ter um segundo ou terceiro filho, por exemplo”, diz. Economista avalia que melhora em indicadores sociais contribui Para o economista Cid Olival é difícil relacionar apenas a crise econômica com a retração identificada pelo IBGE. “Particularmente eu não vejo, neste momento, essa relação direta e imediata com a crise econômica. Me parece muito mais plausível um receio por parte da população de ter filhos em meio a questão da microcefalia, do que a crise. O ideal seria que houvesse a análise em quais faixas de renda houve esta redução, para poder fazer esta análise”, destaca o economista. De acordo com Olival, a melhora em indicadores sociais e extensão de políticas públicas voltadas ao planejamento familiar podem ser atribuídas à retração, mesmo que não tenham sido considerados pelo IBGE. “Eu acho que seria muito mais vantajoso relacionar com os programas que vem sendo implementados ao longo dos últimos quinze anos mais ou menos, onde você tem uma melhora na educação da população, taxa de analfabetismo caindo e todo um trabalho de conscientização da população. Isso me parece muito mais factível, relacionar a estas melhoras de indicadores sociais dos últimos anos”, argumenta. A implicação virá em longo prazo, segundo o economista, caso a tendência de queda continue nos próximos anos. Com menos nascimentos, deve haver uma reavaliação nas prioridades de investimentos e políticas públicas. “Existe uma tendência de redução no número de filhos, por isso eu falo que me parece mais plausível relacionar a todo um processo que vem sendo feito, de melhora na escolaridade da população que faz com que se vá reduzindo o número de nascimentos. Isso vai ter impacto em longo prazo, porque esses jovens com 20 anos em média vão entrar no mercado. A gente vai ter um número menor de pessoas no mercado. Mas num momento atual nós temos uma sinalização para, por exemplo, alterar políticas públicas voltadas para crianças. Embora isso leve algum tempo para surtir efeito, o dado vai sinalizando o que é a tendência”, detalha. Em relação à faixa etária das mães, onde quase a metade tem entre 15 e 24 anos, o economista avalia que deve haver um reforço nas ações educacionais e de planejamento que contribuam para uma mudança no perfil do estado. “Apesar dessas melhorias, esse dado revela ainda uma necessidade de um maior trabalho nessas faixas etárias, que são consideradas pessoas ainda em formação educacional. Há uma relação direta no caso de Alagoas, porque, apesar das melhorias de indicadores, o estado ainda tem os piores índices do país. A minha avaliação é que, apesar dos avanços, estes dados revelam que precisamos investir ainda muito em política pública, no que diz respeito à informação de gravidez precoce”, diz.