Saúde

Vozes da Equidade: o protagonismo negro na Saúde Pública de Alagoas

Profissionais e gestores negros protagonizam importantes transformações e garantem um SUS cada vez mais equânime

Por Daniel Tavares / Ascom Sesau 20/11/2025 10h41
Vozes da Equidade: o protagonismo negro na Saúde Pública de Alagoas
Profissionais de saúde negros asseguram assistência ágil, eficiente e qualificada no Sistema Único de Saúde em Alagoas - Foto: Carla Cleto / Ascom Sesau

A luta por uma saúde pública ágil, eficiente e humanizada tem ganhado força em Alagoas por meio do trabalho de técnicos e gestores negros que, com suas trajetórias e vivências, protagonizam importantes transformações para os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).

Em alusão ao Dia da Consciência Negra, celebrado nesta quinta-feira (20), a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) destaca histórias de profissionais afrodescendentes que revelam o compromisso diário do Governo de Alagoas com a promoção da equidade racial na assistência aos alagoanos.

Uma dessas vozes negras que tem ganhado protagonismo na saúde pública do Estado é a do médico infectologista Renee Oliveira, que é chefe do Gabinete de Combate às Doenças Infectocontagiosas da Sesau. Natural de Pão de Açúcar, no Sertão alagoano, ele estudou em escola pública quando criança e sempre foi incentivado pela família a valorizar a educação.

Infectologista Renee Oliveira (Foto: Marco Antônio / Ascom Sesau)

Em 1985, Renee iniciou a graduação em Medicina pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em Maceió, curso que transformou sua vida e lhe abriu caminho para uma carreira de sucesso. Através da carreira que escolheu, o médico tem sido instrumento de transformação, sendo uma das vozes ativas durante a Pandemia da Covid-19, quando a ciência foi colocada à prova, em razão do negacionismo.

“Minha vó sempre teve o cuidado de fazer com que os filhos dela estudassem e, consequentemente, ela passou isso para os netos. Eu tive a sorte de ter uma rede de apoio familiar sólida e de encontrar pessoas ao longo da minha jornada que me ajudaram no meu desenvolvimento pessoal e profissional. Quando eu cheguei à Ufal, o índice de pessoas negras na universidade era baixíssimo, justamente pelo fato da população negra enfrentar, historicamente, uma série de dificuldades e preconceitos”, relatou Renee Oliveira.

O infectologista afirma que a barreira do preconceito ainda não foi totalmente superada na sociedade. “Infelizmente, vivemos em uma sociedade preconceituosa e a história da escravidão no Brasil deixou marcas até nos dias atuais. É algo que precisamos superar. Mas também nós devemos nos orgulhar dos avanços. Como médico, eu sinto uma alegria enorme em poder atender uma pessoa negra, uma mulher negra e mãe de família. Isso me dá forças para superar os obstáculos que aparecem no dia a dia”, frisou o infectologista da Sesau.

Religião de matriz africana como norte na profissão e na vida

Outro exemplo de destaque na saúde alagoana é o da assessora técnica da Sesau Luiza Costa, que atua no setor de planejamento da pasta. A servidora de carreira destaca a importância da religião de matriz africana na sua formação pessoal, o que reflete na entrega profissional em prol do SUS de Alagoas.

Assessora técnica da Sesau Luiza Costa (Foto: Joyce Marques / Ascom Sesau)

“Para atuar na saúde é fundamental saber respeitar a diferença, a cultura e a religião do outro. De forma alguma, podemos agir com discriminação e temos trabalhado para promover um atendimento cada vez mais equanime e humanizado para todos”, ressaltou a assessora técnica da Sesau.

Para ela, que atua na saúde pública antes mesmo de o SUS ter sido criado, por meio da Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, atuar no planejamento da saúde pública é um privilégio. “Em todas as ações que faço, em todas as intervenções e projetos e analiso tecnicamente, sempre busco torná-la acessível às pessoas que mais precisam, ou seja, àquelas que sempre estiveram à margem da sociedade, mas que têm direito a saúde pública de qualidade, eficiente e ágil", frisou Luiza Costa.

Gestão

A assistente social Ana Cláudia Pires é mais uma personagem negra que ganhou destaque na saúde pública de Alagoas. Atualmente, ela ocupa o cargo de diretora da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Santa Maria, no bairro Cidade Universitária, em Maceió. Ao falar sobre sua trajetória, Ana lembra que passou a atuar na área após ter sido aprovada no concurso público realizado em 2004. Inicialmente, ela ficou lotada no setor de Gestão de Pessoas do Hospital Geral do Estado (HGE) por 5 anos e, depois, foi transferida para a Sesau.

“Depois de começar minha carreira no HGE, cheguei à Superintendência de Valorização de Pessoas [SUPVP], onde atuei por mais de 15 anos. Adquiri experiência e isso me fez crescer, levando-me, no início de 2024, a assumir a Gestão de Pessoas da UPA Cidade Universitária. Foi um grande desafio, pois deixei de ser liderada para ser uma líder. Me redescobri e essa oportunidade foi muito importante para o meu crescimento profissional”, disse Ana Cláudia Pires.

Ana Cláudia Pires, diretora da UPA do Cidade Universitária (Foto: Daniel Tavares / Ascom Sesau)

No início de 2025, após apresentar bons resultados na chefia da Gestão de Pessoas da UPA Cidade Universitária, Ana Cláudia Pires foi escolhida para assumir a direção da unidade, quando a então diretora, Renata Suruagy, tornou-se superintendente de regulação da Sesau.

Atuando agora como gestora assistencial, a profissional destaca a importância da educação e o incentivo recebido desde cedo pela família para ser referência na gestão do SUS. “Minha mãe sempre falou sobre a importância dos estudos e ficava me estimulando a estudar cada vez mais. Essa orientação mudou minha vida. Hoje, eu celebro minha trajetória com muito orgulho, por ser mulher e negra, e ter chegado até aqui através do meu comprometimento e dedicação ao serviço público. Nós podemos vencer qualquer preconceito e chegar onde quisermos”, ressaltou a diretora da UPA Cidade Universitária.

Gestão equânime

Histórias como a de Renee, Luiza e Ana demonstram a importância da equidade no serviço público, como destaca o secretário de Estado da Saúde, Gustavo Pontes de Miranda. “A população negra enfrenta, há séculos, desigualdades estruturais que se refletem diretamente nos indicadores de saúde. Quando promovemos a equidade, atuamos de forma enfática na resolução dessas questões. Em Alagoas, a determinação do governador Paulo Dantas sempre foi formar uma gestão mais equânime para ampliar cada vez mais o acesso da população negra a serviços de qualidade”, pontuou o gestor da Sesau.