Política

Movimentos fazem protesto nas terras da Usina Laginha

Sem-terra reivindicam áreas da massa falida do Grupo João Lyra, ocupadas há 14 anos, em União, Jequiá da Praia e Coruripe

Por Emanuelle Vanderlei - colaboradora / Tribuna Independente 24/09/2025 06h26 - Atualizado em 24/09/2025 06h52
Movimentos fazem protesto nas terras da Usina Laginha
Sem-terra fazem protesto por reforma agrária nas terras da Usina Laginha, em União dos Palmares - Foto: Divulgação

Está marcada para iniciar às 7 horas de hoje, uma grande manifestação dos movimentos de luta pela terra que reivindicam a desapropriação das terras da massa falida das usinas do Grupo João Lyra em Alagoas, mas especificamente nas regiões de União dos Palmares, Jequiá da Praia e Coruripe. O protesto acontecerá em União dos Palmares, na antiga usina Laginha.

Os movimentos de trabalhadores sem-terra estão acampados no local há cerca de 14 anos, e reivindicam que seja feita a regularização para a reforma agrária. Nesse tempo, já foram algumas idas e vindas, negociações, mas o desfecho nunca aconteceu.

Marcos Antônio Marrom, coordenador nacional da Frente Nacional de Lutas (FNL), lembra que quando eles chegaram as terras, desde 2011, estavam todas improdutivas.

“Totalmente abandonadas. As três usinas estavam falidas. Só tinha resto de cana velha, não tinha gado, não tinha nada. A ocupação, além de produzir na terra, produzir alimento, que hoje tem muita produção de milho, feijão, batata, inhame, macaxeira, coco, ainda ajudou a proteger o patrimônio dos parques industriais para não ser destruído. Ali ninguém mexeu mais”, afirmou Marrom.

Ele faz a ressalva que saíram de uma parte das terras ocupadas em Atalaia, onde ficava a Usina Uruba, que foi desocupada por eles através de um acordo.

“Lá no governo Renan Filho, em 2017, a gente saiu. O Governo de Estado fez uma cooperativa, a usina voltou a moer”. Mas a contrapartida, segundo ele, seria a regulamentação das outras para a reforma agrária.

“Sobre a Laginha e a Guaxuma, até hoje estamos negociando nesse impasse que se encontra agora”.

Estão envolvidos nesse embate pelo menos oito organizações diferentes de movimentos de sem-terra. Marrom relata qual o cenário nas terras em questão.

“Nós temos mais de cinco mil famílias acampadas que vêm cobrando do governo do estado, do governo federal o compromisso com a reforma agrária. Que se apropriem dessas terras para fim de reforma agrária, porque além de assentar o homem e a mulher no campo, vai trazer benefício para a região, produzir alimentos saudáveis, abastecer o mercado da região com produtos com preços mais abaixo do mercado, vai assentar para beneficiar mais de cinco mil famílias diretamente e também mais de duas mil famílias indiretamente”, destacou Marrom.

Ele explica que há negociações acontecendo há anos com Governo do Estado e Governo Federal, mas nas últimas semanas estão sendo pressionados a sair do local que esperam ser regularizado.

“Nesse processo de quatorze anos, várias negociações foram feitas entre o movimento, Governo do Estado, massa falida, Governo Federal e Incra nacional, no entanto, nós estamos aí recebendo já mais de quarenta reintegrações de posse das terras das usinas Laginha e Guaxuma”.
A expectativa dos trabalhadores é de que o Governo possa intermediar de forma pacífica para ajudar a viabilizar as terras para quem já está acampado, já que havia dificuldades dos dois lados.

“A massa falida devia ao Governo do Estado, a usina Lajinha e Guaxuma. Ia ter um acerto de contas e que a parte viria em terras para reforma agrária. No entanto, a massa falida do grupo João Lyra devia ao Estado, em torno de R$ 260 milhões. No acerto de contas, o Governo Paulo Dantas deu um desconto de R$ 100 milhões, e a massa falida pagou ao governo do Estado R$ 65 milhões. No entanto esse recurso tinha que vir para a compra das terras, no entanto, até agora nada”, disse Marrom.

Ele detalha o acordo entre as partes, envolvendo a saída da Uruba. “Em maio de 2017, teve uma reunião no Tribunal de Justiça entre movimentos sociais, Governo do Estado, representante da massa falida, Tribunal de Justiça e Incra. E aí foi feito um combinado, um acordo em ata, que o que a massa falida devia ao Estado, em torno da Usina Guaxuma, viria em terra para fins de reforma agrária. No entanto, já se passou esse tempo todinho, desde 2017 até agora, e nada. Quando é agora, a massa falida quita sua dívida com o governo do Estado, negociou a dívida e ainda pagou R$ 175 milhões ao governo do Estado. Então, o que a gente quer? Que com esse dinheiro que o Governo do Estado recebeu das Usina Laginha e Guaxuma, compre terra para as famílias. Isso que a gente também quer, por parte do governo do Estado. E que ajude também, pressionar o Incra nacional a resolver aquele problema. A questão das terras do Laginha e Guaxuma”.

O coordenador ressalta que essa não é a primeira mobilização com essa pauta. “É mais um ato, de tantos que fizemos no interior e também na capital Maceió, para cobrar as terras da Laginha e Guaxuma para fim de reforma agrária”. Com a pressão da mobilização, eles estão dialogando com o Governo. “Está prevista uma reunião no próximo dia 29 com parte da direção do Incra nacional aqui em Alagoas com nosso movimento. Estamos negociando e em luta permanente”.

Para a atividade desta quarta-feira foram convocados todos os parceiros e apoiadores da luta pela reforma agrária. Segundo a organização, vai acontecer uma programação diferente, em que os camponeses e camponesas vão realizar mutirão de plantio de árvores e organização de roçado coletivo com as pessoas presentes.