Política
Renan Calheiros vai para o embate e adversários optam por cautela
Cenário eleitoral para 2026 é nítido para o MDB, no entanto aliados de JHC e Lira avaliam que haverá disputa ao governo

A pouco mais de um ano do início oficial das movimentações partidárias para a eleição de 2026, a constatação em Alagoas é de que o cenário se mantém para uma disputa entre o grupo liderado pelo senador Renan Calheiros (MDB) que novamente vai para o embate para tentar desgastar o deputado federal e ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), bem como tenta, de alguma forma, enfraquecer o prefeito de Maceió, JHC (PL), em uma eventual disputa pelo governo estadual, hoje comandado por Paulo Dantas (MDB).
Na última semana, o senador assumiu publicamente a pretensão de liderar uma ampla frente política capaz de disputar os principais cargos majoritários em Alagoas. A fala de Renan vai além da mera especulação: o senador afirmou, em diferentes ocasiões, que o MDB tem plenas condições de eleger o futuro governador do estado, conquistar as duas vagas ao Senado que estarão em disputa e ainda garantir forte representação na Câmara dos Deputados.
“Contamos com apoio da maioria dos prefeitos, vereadores e lideranças nos municípios. O MDB está organizado e pronto para a disputa”, tem repetido o senador em conversas públicas e privadas. A sinalização de que a legenda deve manter o protagonismo no estado em 2026 é vista como uma tentativa de reforçar a presença do grupo político que comanda o Executivo estadual desde 2015, quando Renan Filho assumiu o governo pela primeira vez.
Enquanto o MDB aposta em posicionamento claro, os potenciais adversários ainda adotam uma postura mais contida. O prefeito de Maceió, JHC (PL), é o nome mais citado como possível concorrente direto ao governo estadual, mas tem evitado comentar o assunto publicamente. Nas redes sociais e nas entrevistas recentes, JHC tem focado na gestão da capital, principalmente em ações nas áreas de mobilidade urbana, saúde e educação, o que é interpretado por aliados como uma forma de consolidar sua base eleitoral antes de tomar qualquer decisão.
Aliados de JHC admitem que uma candidatura ao governo é bastante provável. O vereador Leonardo Dias (PL), que tem perfil combativo e discurso alinhado à direita conservadora, disse à Tribuna Independente que o prefeito sempre manifestou interesse em disputar o governo do Estado e que não há espaço para neutralidade ou apoio ao grupo dos Calheiros de sua parte.
“JHC sempre afirmou interesse em ser candidato a governador, o que seria um movimento natural, mediante a votação expressiva que teve na capital. Não existe nenhuma possibilidade de eu ficar neutro ou de apoiar os Calheiros”, afirmou.
O vereador Luciano Marinho (PL) também demonstra entusiasmo com a possibilidade de JHC encabeçar um projeto estadual. “Estou na torcida para que as coisas se encaminhem para que ele consiga ser o candidato de consenso. É um nome bom, é forte e estrategista, porém precisa se agrupar”, afirmou o parlamentar, destacando a necessidade de articulação política ampla para enfrentar o grupo de Renan.
Eduardo Canuto (PL), outro vereador próximo ao prefeito, acredita que o cenário político está se formando para uma candidatura competitiva da direita em 2026. Segundo ele, é improvável que JHC deixe o Partido Liberal, considerando o peso político que o partido tem hoje em Maceió. “Temos 11 vereadores com mandato, o que pode contribuir bastante com o volume eleitoral. Maceió é uma cidade conservadora onde o PL ou a direita sempre têm vencido”, afirmou.
Canuto destacou, ainda, que o prefeito tem estabelecido parcerias com deputados estaduais, federais e prefeitos do interior, o que, em sua avaliação, pode garantir capilaridade política na disputa.
“Acredito que ele pode chegar a ter apoio de cerca de 40 prefeitos. Essa ausência de manifestação pública tem gerado algum desconforto na base, mas estamos acompanhando. Pelo que entendi, há um sentimento pessoal de que ele será candidato ao governo”, disse, ao mencionar que JHC chegou a comentar, de maneira informal, a possibilidade de disputar uma vaga no Senado, mas que a prioridade, ao que parece, seria o Executivo estadual.
Arthur Lira usa estratégia para mostrar renovação
Enquanto as tratativas para saber quem será candidato em 2026 estão no campo dos debates, outras lideranças que orbitam na oposição ao MDB também têm se movimentado. O deputado federal Arthur Lira (PP), ex-presidente da Câmara dos Deputados, vem promovendo uma mudança significativa na própria imagem. Conhecido por sua atuação técnica e postura institucional mais rígida, Lira tem apostado em uma linguagem mais descontraída nas redes sociais, com vídeos espontâneos, publicações com tom bem-humorado e maior aproximação com o cotidiano dos eleitores.
A leitura nos bastidores é de que o deputado busca construir uma identidade mais popular para ampliar seu alcance entre o eleitorado alagoano. Embora ainda não tenha declarado intenção de disputar cargo majoritário em 2026, o novo posicionamento é visto por analistas políticos como parte de uma estratégia de longo prazo que pode incluir uma candidatura ao Senado ou até ao governo do Estado.

Já o deputado federal Marx Beltrão (PP), atualmente aliado de JHC, preferiu não se pronunciar sobre o cenário. Procurado pela Tribuna, disse que “está tudo muito nebuloso ainda” e que, por ora, os parlamentares têm optado por não se manifestar. No entanto, quando está em agendas pelos municípios, Marx tem manifestado apoio para que Arthur Lira seja candidato ao Senado e JHC ao governo. Beltrão já chegou a falar que o ex-governador Renan Filho (MDB), já teve a sua oportunidade de governar Alagoas, e que o atual cenário pode culminar numa candidatura de JHC.
O silêncio de figuras influentes, aliado aos movimentos sutis nas redes sociais, sugere que o campo opositor ao MDB ainda busca um caminho de unificação e consenso. O desafio será construir uma candidatura competitiva em tempo hábil, capaz de rivalizar com o capital político acumulado por Renan Calheiros e seu grupo, que conta com presença consolidada nos 102 municípios alagoanos.
Com as peças se movimentando, mesmo que de forma tímida, o cenário eleitoral de 2026 começa a se desenhar em Alagoas. A largada simbólica foi dada por Renan, mas os próximos meses devem ser determinantes para revelar quem, de fato, pretende disputar os principais cargos do estado — e com quais apoios pretende contar.
Grupos se articulam diante das incertezas
Para a cientista política Luciana Santana, o atual cenário político em Alagoas indica mais do que apenas o lançamento antecipado de candidaturas. Segundo ela, a postura discreta do prefeito de Maceió, JHC (PL), revela um movimento estratégico que envolve incertezas e articulações internas em curso.
“Este silêncio demonstra muito sobre o contexto específico que estamos vivenciando em Alagoas. O próprio JHC encontra-se, de certo modo, condicionado à concretização de determinadas expectativas. Ele está aguardando para observar se aquilo que almeja, de fato, será viabilizado, a fim de definir seu futuro político”, afirmou Luciana Santana, em contato com a reportagem da Tribuna Independente.
Ainda segundo a cientista política, embora não haja uma manifestação pública direta do prefeito, há indícios de movimentações políticas nos bastidores, que podem provocar reconfigurações importantes até 2026.
“Sabemos que negociações e acordos estão sendo conduzidos internamente. Portanto, é possível que surpresas ocorram no cenário eleitoral, o que ajudaria a explicar os motivos pelos quais o senador Renan Calheiros se antecipa e já se posiciona como pré-candidato à reeleição”, opinou.
Luciana destaca que Renan Calheiros não se coloca apenas como postulante à renovação do mandato no Senado, mas como articulador de uma ampla aliança política. “O senador possui capacidade para apresentar não apenas o seu próprio nome, mas também uma chapa competitiva ao Senado, tendo o filho à frente do Governo do Estado e um sólido capital político nas bases. É importante observar a quantidade de prefeitos e apoios que ele conseguiu agregar”, ressaltou.
Para ela, a reserva adotada por JHC pode ser compreendida dentro dessa lógica. “É provável que o silêncio atual do prefeito esteja relacionado a esses fatores. Ele pode estar avaliando cuidadosamente os desdobramentos políticos antes de anunciar qualquer decisão definitiva em relação à sua candidatura”, concluiu a cientista política.
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