Política

Lula exonera aliado de Lira do Incra

Movimentos de trabalhadores pela terra comemoraram demissão de César Lira e lavaram instituto com ervas e sal grosso

Por Emanuelle Vanderlei - colaboradora / Tribuna Independente 17/04/2024 08h22
Lula exonera aliado de Lira do Incra
Trabalhadores que lutam pela reforma agrária destacaram que o “governo Bolsonaro” encerrou no Incra quando César Lira teve a sua exoneração publicada - Foto: Anidayê Angelo / Assessoria

Depois de um ano e quatro meses de protestos e cobranças dos movimentos de trabalhadores sem-terra, o governo do presidente Lula (PT), exonerou, na última segunda-feira (15), o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Alagoas, César Lira. Primo de Arthur Lira (PP), presidente da Câmara dos Deputados, César foi nomeado ainda durante o governo de Michel Temer (MDB), e é visto pelos movimentos como inimigo da reforma agrária.

Além da luta o contexto político nacional foi favorável à saída. O governo Lula vive mais um momento de turbulência com Arthur Lira. Nas últimas semanas, o deputado andou fazendo críticas ao ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que tem contado com o apoio do presidente Lula. Devendo essa resposta aos movimentos desde o ano passado, o petista deu a canetada.

Até o fechamento desta edição, tanto Cesar Lira quanto o presidente da Câmara dos Deputados não haviam se manifestado sobre a exoneração.

Acampados na Praça Sinimbu, em Maceió, para uma semana de protesto, os movimentos receberam a notícia e celebraram a publicação no Diário Oficial com festa e manifestações. Ontem (16) pela manhã, fizeram caminhada até a sede do Incra e realizaram uma lavagem literal e simbolicamente, para limpar o ambiente do inimigo político.
Segundo Carlos Lima, coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) só “encerrou o mandato ontem no Incra”.

“Nós temos que pressionar o Governo Federal porque, aqui em Alagoas, o Lula tomou posse na luta agrária hoje, no dia 16 de abril porque até ontem, quem mandava aqui ainda era o pensamento derrotado nas eleições, que era o pensamento de Jair Bolsonaro. Hoje, com o decreto, o Lula começa a governar em Alagoas isso quer dizer que o Lula, o governo Lula, tem um débito de um ano e quatro meses com a luta da reforma agrária no estado de Alagoas. Um ano e quatro meses perdidos, a porta do Incra fechada, hoje nós conseguindo entrar, lavar com sabão e pó, com sal grosso e com ervas. Espantamos todos os espíritos ruins que estavam ali”, avaliou.

Débora Nunes, da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, relata o que foram os últimos anos. “É a vitória, a conquista a partir da organização dos trabalhadores e trabalhadoras. Nós passamos o último período enfrentando Bolsonaro, enfrentando o fascismo, e nós em 2022 dissemos que daríamos um basta e fomos para as ruas para eleger o presidente Lula. Mas a gente pode dizer que para a reforma agrária, é hoje que o governo Lula vai começar. Porque é hoje que nós derrubamos o bolsonarista que estava dentro do Incra, que nos assentamentos ia para tentar destruir, para tentar afrontar e desmoralizar aqueles que ocupam terra para poder produzir o alimento”.

Para as lideranças, esse é só o começo da luta e eles devem conquistar a reforma agrária no governo que prometeu isso durante a campanha. “Nós só vamos conseguir avançar e fazer com que a reforma agrária seja realizada enfrentando o latifúndio, enfrentando o agronegócio, enfrentando pessoas desse estado que não tem compromisso com o povo, se estivermos organizados e na luta. Então que a gente possa seguir marchando, seguir ocupando e sobretudo seguir esperançando, saindo do nosso acampamento, dos nossos assentamentos e ocupando a rua sempre que for necessário. Nós vencemos hoje uma batalha, mas nós temos muitas lutas ainda a serem travadas”, disse Nunes.

César Lira foi substituído temporariamente por José Ubiratan Rezende Santana, nome que vinha sendo defendido pelos sem-terra. A ideia dos movimentos é pressionar o governo para que o nome dele se torne definitivo. “Nós precisamos garantir a permanência do Bira [José Ubiratan Rezende Santana]. Essa é uma luta de 15 dias, para garantir a permanência do Bira. Então, temos que fazer toda a mobilização possível para dar condições de trabalho, apoio”.

As atividades contaram com a presença entusiasmada de lideranças do movimento urbano de trabalhadores como centrais sindicais e sindicatos. Também foi até o acampamento e fez uma fala o coordenador da Fundação Nacional do Índios (Funai/AL), Cícero Albuquerque.

“Parabéns a vocês, às lideranças, a vocês que acamparam essa luta. Essa é apenas uma vitória, outras precisarão vir. E que avance a luta, e que avance a reforma agrária, e que avance a conquista do povo pobre”.