Política

Ufal confirma que pode “fechar as portas”

Reitor Josealdo Tonholo diz que se situação financeira não mudar, universidade só consegue sobreviver até setembro deste ano

Por Thayanne Magalhães - repórter / Tribuna Independente 16/05/2025 09h06
Ufal confirma que pode “fechar as portas”
Josealdo Tonholo destacou que a universidade já adotou medidas para uma série de contenção de despesas - Foto: Edilson Omena / Arquivo

Com contas no limite e contratos básicos ameaçados, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) pode não conseguir manter suas atividades até o fim de setembro. A Tribuna Independente confirmou com a assessoria da instituição que o cenário orçamentário é crítico e sem precedentes, como alertado pelo reitor Josealdo Tonholo em reuniões realizadas ao longo da semana com diferentes segmentos da comunidade acadêmica.

Na terça-feira (13), a reitoria se reuniu com servidores, gestores e representantes do Sintufal (Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal de Alagoas) e da Adufal (Associação dos Docentes da Universidade Federal de Alagoas) para detalhar a situação financeira da instituição. Já ontem (15), a Pró-reitoria de Gestão Institucional (Proginst) apresentou o mesmo diagnóstico a estudantes, com o objetivo de mobilizar a comunidade acadêmica diante do risco iminente de colapso.

“Se nada mudar, a Universidade só sobrevive até setembro”, alertou Tonholo. Segundo ele, a Ufal já adotou uma série de medidas de contenção, como a suspensão de concursos públicos, diárias e passagens, além da revisão de contratos de serviços essenciais, como limpeza, segurança e transporte. “As universidades federais estão no limite da sobrevivência. No nosso caso, já fizemos tudo que estava ao nosso alcance. Agora, é hora de agir com urgência”, afirmou o reitor.

O painel orçamentário apresentado pela Proginst revelou que o orçamento discricionário da Ufal para 2025 sofreu uma leve redução nominal de 0,38% em relação a 2024 — de R$ 104,3 milhões para R$ 103,9 milhões. Mas, em termos reais, o corte chega a 5%, considerando a inflação. Além disso, decretos federais impõem um limite mensal de execução de apenas 1/18 do orçamento, ou cerca de R$ 4,4 milhões. A Universidade, no entanto, precisa de pelo menos R$ 6 milhões por mês para manter os contratos essenciais.
“O que está sendo liberado é insuficiente para garantir o mínimo. Nossa previsão de colapso é setembro. Os 40% restantes do orçamento só serão liberados em novembro, se tudo correr bem”, explicou o pró-reitor de Gestão Institucional, Jarman Aderico.

Outro agravante é o passivo acumulado de anos anteriores. A Ufal fechou 2024 com um déficit de R$ 9,4 milhões e já acumula, em 2025, mais de R$ 15 milhões em restos a pagar, especialmente dos meses finais do ano passado, quando os recursos acabaram antes do previsto.

Segundo José Edson Lima, coordenador de Administração, Suprimentos e Serviços da Proginst, os cortes vêm sendo realizados desde 2022 e foram baseados em estudos técnicos. Entre as medidas estão: redução de 20% no contrato de limpeza com corte de postos de trabalho; substituição do antigo contrato de jardinagem por serviços pontuais realizados por microempreendedores individuais (MEIs); cortes de até 30% nos contratos de manutenção e reformas; e ativação de um sistema próprio de abastecimento de água, que gerou economia de R$ 20 milhões ao ano.

No contrato de segurança, embora não tenha havido demissões, houve redução de jornada e substituição de vigilância armada para reduzir custos. A única área minimamente preservada foi a de assistência estudantil, que mantém funcionamento dos restaurantes universitários, da residência e o pagamento de bolsas a alunos em situação de vulnerabilidade. No entanto, não há verba para reformas nem para projetos de acessibilidade.

A vice-reitora Eliane Cavalcanti afirmou que a gestão não fala em “fechar as portas”, mas reconhece que a continuidade da Universidade depende de mobilização ampla.
“A Ufal é feita por todos nós. Não entregaremos as chaves, mas precisamos que cada servidor, cada estudante, cada cidadão compreenda a gravidade do momento e nos ajude nessa luta”, declarou.

Para tentar controlar os impactos, a reitoria criou um Observatório de Contratos, que revisa gastos e busca implementar inovações previstas na nova Lei de Licitações.
“Não estamos apenas cortando por cortar”, explicou José Edson. “São medidas de austeridade, sim, mas também de otimização e inteligência na gestão pública”, concluiu.