Política

Investigado e inelegível, Bolsonaro volta a Alagoas

Legislativo vai entregar título ao ex-presidente investigado por tentativa de golpe de Estado

Por Thayanne Magalhães - repórter / Tribuna Independente 05/04/2024 08h18
Investigado e inelegível, Bolsonaro volta a Alagoas
Deputado Cabo Bebeto é o propositor da homenagem ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que está inelegível - Foto: Assessoria

Está marcada para esta sexta-feira (5), a cerimônia que deve dar ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o título de Cidadão Honorário de Alagoas. O evento acontece a partir das 17h na Assembleia Legislativa do Estado (ALE) e a iniciativa partiu do deputado estadual Cabo Bebeto (PL), que anunciou o evento por meio de suas redes sociais, gerando debates e opiniões divergentes.

Ao justificar a proposta, Cabo Bebeto destacou a relevância de reconhecer a contribuição do homenageado para o estado, mesmo em meio a discordâncias políticas entre o governo local e o federal. O deputado também ressaltou a importância da cooperação durante a pandemia, mencionando o envio de respiradores pelo governo federal. O Projeto de Lei nº 538/2021, que propunha a entrega do título a Bolsonaro, encontrou resistência de outros parlamentares de Alagoas, como o deputado Ronaldo Medeiros (PT), que votou contra, e a deputada Cibele Moura (PSDB), que se absteve.

Bolsonaro volta a Alagoas em um cenário completamente adverso. O ex-presidente está na condição de investigado pela Polícia Federal (PF), pela suposta tentativa de empreender um golpe de estado no país após ter sido derrotado nas urnas em 2022 quando tentava se reeleger.

De acordo com as investigações da PF, Bolsonaro e seus então ministros discutiram, em julho de 2022, em uma reunião, uma organização de uma tentativa de golpe para se manter no poder.

Além da gravação, apreendida no computador de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, a PF colheu outros elementos que colocam o ex-presidente no centro da trama golpista.

A PF descobriu, por exemplo, a gravação de uma reunião, em julho de 2022, em que Bolsonaro convoca seus ministros para discutir estratégias que evitassem derrota nas eleições. Àquela altura, Bolsonaro prevê que poderia perder a disputa e pede para os ministros acionarem “o plano B”.

A PF ainda encontrou, no gabinete de Bolsonaro na sede do PL, um documento com conteúdo golpista que anunciaria a decretação de um estado de sítio e a imposição da garantia da lei e da ordem no país.

Por meio de seus advogados, Bolsonaro disse que nunca compactuou com ideias golpistas.

INELEGÍVEL

Bolsonaro retorna à capital alagoana buscando fortalecer o seu capital político, embora esteja inelegível até 2030, por abuso de poder político, uso indevido dos meios de comunicação e conduta vedada a autoridades nas eleições.

Para a maioria dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ficou comprovado que a chapa fez uso eleitoral dos eventos comemorativos, por meio de uma deliberada confusão do ato oficial com o comício de campanha. Essa prática teve a gravidade o suficiente par desequilibrar o pleito de 2022, conforme a corrente que venceu o julgamento.

PANDEMIA

No argumento do deputado Cabo Bebeto para homenagear Jair Bolsonaro está o “trabalho de Bolsonaro na pandemia da Covid-19”.

Na prática, a população do país presenciou um ex-presidente propagando um discurso negacionista e usou palavras como “fantasia” e “histeria” para classificar a reação da população e da imprensa à pandemia.

O ex-presidente também chegou a imitar pessoas com falta de ar, promover aglomerações e motociatas, além de ter se engajado pouco na compra de vacinas para o enfrentamento à doença.