Política

Lula, Bolsonaro e as chuvas em Alagoas: tratamento diferente

Em 2010, houve mais celeridade no envio de ajuda para sanar danos das enchentes que agora em 2022

Por Editoria de Política com Tribuna Independente 16/07/2022 09h11
Lula, Bolsonaro e as chuvas em Alagoas: tratamento diferente
Municípios alagoanos voltaram a sofrer com as fortes chuvas e enchentes; resposta dos governos Lula e Bolsonaro foram completamente diferentes - Foto: Edilson Omena

As fortes chuvas que caíram em Alagoas neste ano resultaram em inúmeros estragos em dezenas de cidades, assim como ocorreu em 2010. Logo, e até por conta do ano eleitoral, surgiram comparações entre a postura do Governo Federal quando Lula (PT) era o presidente da República e agora, com Jair Bolsonaro (PL). Ambos lideram as pesquisas de intenção de voto para a eleição de 2 de outubro.

Em 2010, o então presidente Lula liberou, para Alagoas e Pernambuco – estado também afetado pelas chuvas daquele ano – R$ 275 milhões sem burocracia e este valor poderia ser aumentado conforme a necessidade. Ao todo, Alagoas recebeu R$ 301 milhões em repasses diretos.

Além disso, outras ações emergenciais foram instituídas como a liberação do FGTS para saque pela população das cidades atingidas; a criação de uma linha de crédito de R$ 1 bilhão para comerciantes e produtores agrícolas; e o repasse de R$ 51 milhões do Ministério da Educação para a realização de reparos nas escolas que foram danificadas.

À época, durante entrevista coletiva, Lula afirmou ter “compromisso moral, enquanto ser humano, enquanto presidente, enquanto homem, enquanto brasileiro, de ajudar essa gente a reconstruir a sua vida. É por isso que nós já tomamos a atitude de colocar à disposição dos governadores R$ 275 milhões como antecipação”.

Já o governo Bolsonaro liberou para Alagoas, durante todo o ano de 2022 em ações de resposta a desastres naturais, somente R$ 20,4 milhões. Ou seja, Lula liberou somente cinco dias, após os desastres de 2010, quase 15 vezes mais que o enviado por Bolsonaro neste ano.

Outra ação realizada pelo Governo Federal em 2010 foi liberação de uma linha de crédito de R$ 1 bilhão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O governo Bolsonaro até chegou a anunciar recursos para auxiliar os estados de Alagoas e Pernambuco na ordem de R$ 1 bilhão, mas esse dinheiro não chegou e, segundo próprio informe do Ministério do Desenvolvimento Regional, é preciso passar por etapas burocráticas para o recebimento desse dinheiro.

O presidente Jair Bolsonaro, em entrevista ao programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes, no dia 30 de maio, fez uma declaração num tom bem mais indiferente em relação a Lula em 2010. “Em Alagoas, nós procuramos o Arthur Lira, presidente da Câmara, que é de lá. Foi bem menos grave, algumas poucas mortes, mas menos grave do que Pernambuco, mas estamos à disposição para colaborar com qualquer estado que, porventura, nos solicite ajuda”, disse.

Bolsonaro não visitou as áreas de Alagoas afetadas pelas enchentes deste ano. A diferença no tratamento diante de situações parecidas foi destacada pelo ex-governador Teotonio Vilela Filho, que estava à frente do Poder Executivo alagoano em 2010. Em uma postagem em suas redes sociais, em 6 de julho, ele ressaltou o papel do então presidente Lula 12 anos atrás. Detalhe que Teotonio Vilela é do PSDB, partido que polarizava a disputa política nacional com PT àquela época.

“Em 2010, quando eu estava concluindo o meu primeiro mandato de governador, Alagoas vivenciou uma das piores cheias de sua história até então, com 19 municípios tragicamente afetados, mais de 70 mil desabrigados e 30 óbitos. Era ano eleitoral e o PSDB e o PT duelavam pela Presidência da República, José Serra de um lado, e Dilma Rousseff de outro, numa disputa acirradíssima. Por conta da calamidade em Alagoas, o então presidente Lula imediatamente veio ao nosso estado, ao nosso socorro, e sobrevoou junto comigo os municípios atingidos”, lembra.

Teotonio Vilela Filho ressaltou a rapidez da ajuda do governo Lula em 2010. “As providências necessárias para reparar os danos à população foram tomadas em decreto presidencial no dia seguinte, a serem implementadas em parceria com o governo estadual. O governo federal enviou para Alagoas, além dos R$ 275 milhões para a reconstrução de moradias e infraestrutura nos municípios, R$ 26 milhões para a saúde pública dessas cidades e abriu uma linha de crédito de R$ 1 bilhão para os empresários que sofreram prejuízos. PT e PSDB, adversários ferrenhos, se irmanaram em solidariedade ao povo sofrido”, completa o ex-governador.

Na postagem, a imagem dele e Lula num helicóptero em sobrevoo a áreas alagadas de Alagoas. O presidente da Associação dos Municípios Alagoanos (AMA) em 2010 era o atual prefeito de Arapiraca, Luciano Barbosa (MDB). A Tribuna Independente o contatou, diretamente e através de sua assessoria, para saber sua avaliação sobre as formas como o Governo Federal se postou diante dos danos causados pelas chuvas, agora em 2022 e em 2010, mas não houve retorno até o fechamento desta reportagem.

ESTRAGOS

Em 2010, 268 mil alagoanos sofreram com os estragos causados pelas chuvas em 19 municípios. Houve 26 mortes, além de um prejuízo de R$ 953 milhões. Em valores corrigidos pela inflação destes 12 anos, o prejuízo no estado foi de R$ 1,95 bilhão.Em 2022, mais de 68 mil pessoas foram afetadas pelas chuvas, mas os estragos, segundo dados da Defesa Civil. Não há um valor fechado sobre os prejuízos causados pelas chuvas deste ano.
De acordo com a assessoria de comunicação da AMA, isso só deve ser divulgado no próximo mês. “Ainda não há uma estimativa, porque a AMA ainda não avaliou caso a caso. Acredito que devemos divulgar isso no final de agosto, no fim da quadra chuvosa”, diz.