Política

'Bancada alagoana tem postura café com leite'

Senador Rodrigo Cunha avalia que parlamentares federais do estado não definem em relação a governo Jair Bolsonaro

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 03/08/2019 08h08
'Bancada alagoana tem postura café com leite'
Reprodução - Foto: Assessoria
Na quarta-feira (31), o senador Rodrigo Cunha (PSDB) convidou a imprensa alagoana para um café da manhã a fim de relatar seus primeiros meses de mandato. Na ocasião, o parlamentar explicou os motivos de algumas escolhas políticas que fez – material publicado na edição da Tribuna da última quinta (1º) – e avaliou o cenário político e a relação da bancada alagoana com o Palácio do Planalto, assim como a do Governo do Estado com o presidente Jair Bolsonaro (PSL). Segundo ele, as dificuldades dos deputados em emplacar seus nomes nos espaços federais em Alagoas ou mesmo terem suas demandas atendidas se devem a uma postura vacilante em relação a dar apoio ao presidente da República, uma postura “café com leite”. A seguir, a Tribuna publica mais trechos da entrevista do senador tucano, o mais votado em outubro de 2018. Indicações da bancada alagoana para cargos federais Eu sinto que, no início do governo, ele fez muitas movimentações e não apenas em Alagoas, mas também no cenário nacional. Inclusive nos ministérios demorou em sair nomeações. Aqui, a maioria das nomeações – quase que a totalidade – permanece as pessoas do governo anterior. Isso não só em Alagoas, mas em muitos outros estados e não apenas no Nordeste. Inclusive nos ministérios, as pessoas que saíram ainda não foram alocadas novas e está na hora de fazer isso. Eu acompanhei, e achei muito interessante, o “Banco de Talentos”, uma forma de mais transparente de mostrar às pessoas quem faz parte ou não do governo. Por exemplo, a ideia é que se torne público a indicação do Incra em Alagoas. É fulano de tal, indicado por fulano de tal. Para que as pessoas acessem ali e saibam [quem indicou] e, inclusive, se aquela pessoa fizer alguma coisa errada, se vai poder cobrar daquele [quem indicou]. Isso acaba com especulações e blinda o próprio presidente. Agora, se esperou muito para isso e dizem que avançou depois da reforma da Previdência, que já teve a primeira votação lá na Câmara. Mas não precisaria ser assim. Particularmente, eu não fui em busca – e até me preservei – de fazer parte da base do governo para aceitar cargos. Foi um momento de reflexão, sinceramente, eu conversei muito sobre isso. Eu tenho certeza absoluta que se a gente coloca as pessoas certas nos lugares certos, consegue resultado. Mas não poderia, jamais, colocar em risco minha autonomia, minha liberdade, no início de um governo que, como falei, estou avaliando e que tem muitas coisas que não diz o que é o Rodrigo, que não significa o que eu penso de mundo. Qual foi minha reflexão? Poxa, a gente pode interferir positivamente com pessoas decentes, capacitadas, com serviço prestado e que a gente sabe que vai dar resultado. Mas qual o preço disso? Perder minha autonomia para me posicionar sobre qualquer assunto? Por isso preferi seguir essa linha de total independência. Governo federal e bancada Posso falar pelos parlamentares. O que nós temos ali é um momento em que a bancada [alagoana] precisa ainda demonstrar junto ao Governo Federal a sua ligação com ele. Muitos até ficam naquele “café com leite”. Eu, sinceramente, sinto que esse governo não aceita essa postura “café com leite”. Ou está ou não está [na base]. Muitos ficam fazendo jogo e não assume compromisso e faz com que o presidente, até onde acompanho, não chancele os nomes indicados lá. Tem muitos nomes daqui que foram indicados e não foram chancelados. Muitos nomes. Por quê? Por que as pessoas não abrem o peito para dizer ‘eu faço parte da base do governo’. Estão assim, talvez, pensando nas consequências de se declarar base do governo. E aí, acredito que seja um mérito [do governo] saber se está ou não está [na base]. Um dos critérios, desde o início, que foi demonstrado para a bancada é mostrar se está ou não na base. Se está vai ter de votar sim, sim, sim. Incondicionalmente. Governo Federal e Governo de Alagoas Também há, sem dúvidas, as próprias declarações do presidente. Quando se coloca dessa forma e aqui foi a região que ele [Jair Bolsonaro] perdeu. Ele não teve boas votações aqui. Cria o sentimento, que é reforçado pelo discurso também, de que quem é ‘vermelho’ não será prestigiado. Cria essa sensação relacionada aos governos. [Em relação a recursos para Alagoas] eu acho que há outras formas de abrir essa torneira e, não necessariamente, tem de ser através do governador [Renan Filho]. Se tem as políticas públicas se completando através da interferência dos parlamentares. Não vejo muita exposição pública do governador direcionada à relação com presidente, nesse sentido, e nem do presidente ao governador. O que vejo é de forma indireta, quando se coloca ‘governadores do Nordeste’, ‘governadores petistas’, ‘que querem Lula livre’, isso passa a sensação de que irá se desprestigiar. Por outro lado, tem a linha dos parlamentares, que é um caminho que sempre se buscou. A princípio, se tentou fazer uma administração por bancadas. Foi uma estratégia diferente. Vamos passar agora por outro momento. Um momento pós-previdência e que houve, inclusive, um afrouxamento dessas torneiras com emendas já esperadas e isso vai fazer com que chegue recurso para as políticas públicas dos estados e dos municípios. Essa é uma forma de se chegar, que não é necessariamente pelo governador. Relação interna da bancada Tivemos duas reuniões, participei das duas. Os outros senadores [Renan Calheiros; Fernando Collor] não foram. Uma delas foi para fazer eleição do coordenador, em que o Marx Beltrão [PSD] se colocou à disposição e não teve disputa. Tivemos um momento agora para apresentar as emendas ao orçamento. O que percebo é que há, de certa forma, um diálogo entre os deputados e precisa, sim, dos senadores e do governo [do Estado]. Acho que tem de ser de maneira colaborativa. Da minha opinião, e vou sugerir isso, é que cada um busque alguns projetos para colocar em votação ali [reuniões da bancada alagoana] para tentar encontrar um macro para o estado de Alagoas. O que pode ser tratado de maneira emergencial. Não é normal a gente morar num estado em que 17% das pessoas são analfabetas, enquanto no Rio de Janeiro 2% das pessoas são analfabetas. Essa diferença no mesmo país não é normal. Na próxima reunião eu vou propor isso, que a gente pegue três, quatro, cinco assuntos e coloque como prioridade da bancada. [Entre os senadores] Vocês acompanham, eu nunca fui para uma linha de ataque. Nunca quis crescer de uma maneira negativa. Minha forma de buscar recursos vai ser de maneira positiva. Mas eu sigo minha caminhada. Nunca tive compromisso político com eles [Renan e Collor] até agora. Eu não tenho relação próxima com os demais senadores [de Alagoas], mas torço que, através da bancada, a gente possa unificar aquilo que pode ser feito pelo estado.