Política

'Moradores pedem socorro e Braskem faz o que quer'

Vereador Francisco Sales faz duras críticas à mineradora e à atuação de órgãos fiscalizadores

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 31/07/2019 08h42
'Moradores pedem socorro e Braskem faz o que quer'
Reprodução - Foto: Assessoria
O vereador Francisco Sales, relator da Comissão Especial de Investigação (CEI) da Câmara Municipal de Maceió (CMM), protocolou uma segunda denúncia contra a Braskem ao Instituto do Meio Ambiente (IMA). Segundo o vereador, serviços às margens da Lagoa Mundaú para realização dos sonares estariam provocando danos ao meio ambiente. Para Sales, a mineradora “faz o que quer” e Agência Nacional de Mineração (ANM) e IMA também devem ser responsabilizados pelo afundamento que afeta os bairros do Pinheiro, Bebedouro e Mutange. Tribuna Independente – Esta semana o senhor protocolou uma denúncia, baseada em relatos de moradores, de que serviços executados pela Braskem estariam causando danos ao meio ambiente. Como isto se deu? Francisco Sales – A Braskem está nesses estudos de sonares que o Ministério Público Federal (MPF) exigiu que fizessem. Eles ficaram de entregar os estudos desses sonares até o fim do ano, são 35 cavernas, eles já entregaram 10 e tem mais 25 cavernas que eles precisam fazer esses estudos. Até hoje eles não entregaram. Eles estão com muitas dificuldades de fazer esses estudos e estão fazendo um aterro na lagoa, nos manguezais. Uma terraplanagem completamente fora do normal, fora de tudo que é aceitável. Para se ter ideia, são caçambas e caçambas de aterro que eles estão colocando para poder fazer esses sonares. É o cúmulo do absurdo os sonares serem feitos sem a presença de órgão de fiscalização. Eles estão fazendo esses levantamentos sem Agência de Mineração por perto, sem o IMA acompanhando. Como é que essa empresa vem fazendo tudo isso sozinha, diante de tudo que já vem acontecendo? Tribuna Independente – Pretende acionar alguma instância já que afirma que a Braskem deveria realizar esses estudos com fiscalização? Francisco Sales – Na verdade já provocamos. Tanto a Agência Nacional de Mineração, quanto o IMA. Eles [ANM e IMA] deixaram todo esse tempo a Braskem trabalhar sozinha e deu no que deu. Agora eles precisam saber que precisam acompanhar essa empresa porque ninguém aguenta mais. Eu venho de uma vistoria em Bebedouro e lá tem aparecido rachaduras. Até agora o poder público não retirou ninguém do Mutange. Também não retirou um morador de Bebedouro. Enquanto os moradores pedem socorro a Braskem faz o que quer. E realmente ninguém para ela. Isso é um absurdo. Tribuna Independente – Esta não é a primeira vez que há denúncia sua sobre a atuação da Braskem às margens da lagoa. Qual o objetivo? Francisco Sales - É a segunda denúncia. A primeira eles foram multados em R$ 30 mil e realmente a denúncia é para que eles parem de fazer isso. Tribuna Independente – O senhor acompanhou a Defesa Civil Municipal esta semana durante inspeção em casas no bairro de Bebedouro por conta do aparecimento de rachaduras. Como está a situação dos moradores? Francisco Sales – O sentimento hoje dos moradores é de muita indignação. Eles [Defesa Civil] colocaram Bebedouro, Mutange e o Bom Parto na área de risco, que hoje o risco é maior nesses bairros, e até hoje não agiram. As pessoas não querem só saber que o bairro deles está em área de risco, as pessoas querem saber quais medidas vão ser tomadas e o plano de ação. Todas as ações que o Poder Público faz é para jogar mais pânico nas pessoas. Primeiro vieram com o mapa, depois disseram que iriam trazer o plano de ação, e cadê o plano de ação que não existem. Quando vão tirar essas pessoas? Para onde vão levar essas pessoas? Tribuna Independente – Neste sábado (20) a Prefeitura de Maceió espera concluir o cadastro dos moradores do Mutange e Jardim Alagoas. Inicialmente, houve resistência por parte dos moradores em aderir, qual a sua avaliação? Francisco Sales - Pagaram o valor do aluguel social no valor de R$ 1000 no Pinheiro. Disseram que iam pagar R$ 250, depois  que seria R$ 500 e agora querem ver a renda de cada pessoa. Ou seja, o poder público precisa se entender, porque isso joga pânico nas pessoas. O poder público precisa facilitar a vida das pessoas, dizer o que realmente vão fazer com a vida das pessoas. É uma comunicação que não acontece. Estamos provocando desde o início, para que seja feito um canal de comunicação,  mas não foi feito. Eles não falam a mesma língua das pessoas. É muito difícil, muito delicado. (...)Os moradores estão muito inseguros, de saírem e amanhã não serem indenizados. É normal que eles fiquem inseguros, mas se tem trabalhado a conscientização, para que realmente sejam protegidas as vidas. Não podemos ficar em quebra de braço. Tribuna Independente – Qual o andamento da Comissão Especial de Investigação da Câmara sobre o afundamento nos três bairros? Francisco Sales – O nosso relatório está praticamente pronto. Não é nada fora do normal. A grande causadora de tudo isso é a Braskem, mas nós entendemos também que tanto a Agência Nacional de Mineração quanto IMA há coparticipação. Eles assumiram o risco disso acontecer ao não fazer os trabalhos deles. Se eles tivessem fiscalizando corretamente a Braskem nada disso estaria acontecendo. Pedindo que sejam feitas todas as medidas cabíveis.