Política

“Ufal não deve servir ao Estado”, diz candidato a reitor

Alexandre Toledo disputa o posto de reitor da Universidade Federal de Alagoas, numa candidatura contra a esquerda

Por Texto: Carlos Amaral com Tribuna Independente 27/07/2019 11h02
“Ufal não deve servir ao Estado”, diz candidato a reitor
Reprodução - Foto: Assessoria
A Ufal passa por processo de consulta à comunidade acadêmica sobre quem será o próximo titular de sua Reitoria. A Tribuna Independente publica a seguir entrevista com Alexandre Toledo, candidato à titularidade do posto máximo da instituição. Segundo ele, sua candidatura é um instrumento contra uma “hegemonia de esquerda” nas universidades.   Tribuna Independente – Nos últimos quatro anos, o país teve três governos – Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e agora Jair Bolsonaro (PSL) –, o que afeta diretamente as ações nas universidades federais, dificultando a execução de suas atividades. Diante desse quadro, por que o senhor quer ser reitor? Alexandre Toledo – Na verdade não sou eu que quero ser reitor, eu sou um instrumento de vozes que nos pedem para ser reitor. Somos a voz daquele movimento de rua, que foi pedir mudanças de governo. Somos a voz de um grupo de professores nas universidades federais que se chama ‘Docentes pela Liberdade’. Esse grupo, hoje, já tem quase dois mil inscritos. Ele começou amadoristicamente e agora procura construir sua associação. Então, nós somos essa voz. Nossa plataforma não é nossa, mas de uma voz que foi calada por conta da hegemonia de um pensamento à esquerda, que vem desde o primeiro governo Lula [PT]. Antes, até. Nos governos FHC [Fernando Henrique Cardoso, PSDB], quando a esquerda – de início progressista –, depois uma já com matrizes revolucionárias, dominou todo o conhecimento da universidade, tornando a universidade um ambiente pouco plural, e hegemonicamente de pensamento único de esquerda. Então, a nossa chapa, primeiro aspecto é a pluralidade, que a Universidade volte a ouvir todas as vozes, como numa grande orquestra, num grande coro. É com essa ideia que nossa chapa se coloca, para dar voz aos que se calaram por tanto tempo, que não tiveram espaço no ambiente universitário para se manifestar. E quando o faziam, eram rechaçados. Diria até vilipendiados, execrados. Eu sou um exemplo disso, pois precisei me exilar de minha unidade acadêmica porque não tinha direito a voz aqui dentro [Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, FAU]. Eu passei um ano trabalhando em outra unidade, em Rio Largo [Centro de Ciências Agrárias, CECA], até que as coisas melhorassem. Eu só retornei quando houve uma mudança de diretor na minha unidade acadêmica e, agora sim, tem uma pessoa mais centrada, maleável e flexível e que permite pensamentos divergentes. Tribuna Independente – O Ministério da Educação (MEC) tem passado por certa confusão com troca de ministros e adotado posturas que vão à contramão da construção das últimas décadas do que vem a ser o papel das universidades. Caso eleito, como o senhor prevê a relação com esse MEC do governo Bolsonaro? Alexandre Toledo – Os nossos adversários nos rotulam de ‘candidato do Bolsonaro’, ‘o candidato de direita’. Eu não tenho essa vinculação tão direta com Brasília, muito menos com o candidato Jair Bolsonaro. Tanto que nem fui um eleitor de primeira geração dele. O fui pela minha terceira escolha por contingências de outra natureza, que eu resolvi apoiar e fiz movimento de rua a favor do candidato Jair Bolsonaro. Meu primeiro candidato foi o Álvaro Dias. Minha posição aqui na Universidade sempre foi conhecida. Eu nunca pude fazer parte de partidos à esquerda porque sabem que sou liberal. Então, eu sempre tive esse perfil e sempre me associaram – pelo meu sobrenome – ao grupo de usinas do Grupo Toledo, quando eu não tenho relação direta como acionário, tenho como familiares. Sempre pautei minha vida profissional como arquiteto e depois como docente. Voltando, depois de ter trabalhado na campanha e acreditando que João Amoedo seria uma boa opção para o Brasil, a campanha dele não decolou também. O único candidato que reunia um eleitorado fixo – que as pessoas em geral chamam de ‘bolsominions’ – era o Jair Bolsonaro. E as adesões que ele foi tendo depois que as outras candidaturas mais fora desse espectro político da esquerda não prosperaram, ele passou a ser o candidato que poderia fazer a mudança, de tirar, quebrar, romper, com essa hegemonia dos partidos de esquerda à frente do Governo Federal. Foi nesse momento, quando o príncipe Luís Felipe de Orleans e Bragança, que eu conheço e tenho relação mais próxima por conta do movimento monárquico e que ele defende ideias liberais e muito menos monárquicas. Ele não defende diretamente a volta do regime monárquico, o que ele defende é o Estado mínimo, eficiente, com ideias liberais e com abertura para o mercado. Tribuna Independente – Muita gente não compreende o papel que as universidades têm nos locais onde estão inseridas, mesmo muitos estudantes não têm a real dimensão disso. Qual a importância da Ufal para Alagoas? Alexandre Toledo – A Universidade Federal, na verdade, tem de ter duas dimensões: uma local e uma nacional. Por quê? Por que tanto o corpo docente das universidades federais é muito heterogêneo, metade é de professores que vieram de fora e a outra é daqui. Como também, desde o acesso pelo Enem, a gente tem recebido estudantes de diversos estados do Brasil. Tem que enfrentar as duas dimensões ao mesmo tempo. Não com uma visão xenofóbica, de que a gente só pode receber estudantes de Alagoas e formar profissionais capacitados para atuar imediatamente nesse mercado, como também não perder essa dimensão do todo. Então, são duas ações que, eu diria, paralelas e concomitantes que a gente precisa encarar. Mas, uma Universidade Federal de Alagoas que não esteja antenada com o desenvolvimento do estado. Eu acho que ela não serve ao estado. Ela poderia estar numa ilha fictícia construída numa bolha pelas pessoas que só defendem o pensamento hegemônico de esquerda. Ela precisa estar atrelada, e algumas iniciativas de cursos nossos já visualizaram isso. Precisamos construir parcerias expressivas, seja com o público ou com o privado para alavancar o desenvolvimento de Alagoas, que não será, possivelmente, só no setor industrial, mas também no setor de serviços, de turismo. Cada região tem sua vocação própria, mas ficar sem dialogar com a realidade, viver na bolha, a gente não vai superar essas dificuldades. Que apoio nós temos dos 103 ou 104 [sic] municípios alagoanos? Que parcerias temos com eles? O que a Universidade fez até agora para melhorar a condição de vida nesses municípios? Ampliar sempre Maceió e virar essa grande capital que já está com mais de um milhão de habitantes e não reverter nada para as pequenas cidades do interior para que elas possam ter um desenvolvimento pleno e onde nossos egressos possam ter condição de trabalho de vida tão digna como se estivesse aqui em Maceió? Temos de repensar muito.