Política

Gilberto Gonçalves foi vítima de trama, afirma vereador

Vereador Ismael Ferreira apresenta áudio em que seu suplente, e um dos principais militantes contra prefeito, admite esquema

Por Editoria de Política com Tribuna Independente 24/07/2019 20h39
Gilberto Gonçalves foi vítima de trama, afirma vereador
Reprodução - Foto: Assessoria
Cassado pela Câmara Municipal de Rio Largo no último dia 17 por 10 votos a um, o Gilberto Gonçalves (PP) foi vítima de uma trama para tirá-lo da Prefeitura. Quem revela o esquema é o vereador Ismael Ferreira (PRTB), após ter gravado conversa com Hélder Moura, seu suplente no parlamento. No diálogo, feito no dia 3 de julho, Hélder Moura confessa a Ismael Ferreira ser um “pau mandado” e que só lê textos que são mandados a ele para atacar Gilberto Gonçalves. “Eu não posso falar muito. Gostaria de falar com você. Lá na frente você entender. Eu sou vou pedir para você dar uma mergulhada. [...] Tem muita gente por trás disso [cassação Gilberto Gonçalves]. O vídeo que eu gravei porque tem gente por trás, pontuando o que tenho que falar. Dá uma mergulhada, deixa as coisas andar, velho. Lá na frente você vai entender”, diz Hélder Moura a Ismael Ferreira, que o questiona sobre ataques deferidos a ele pelo suplente. “Fica tranquilo. Se eu tiver uma oportunidade, depois que essa maré passar, você vai entender. Não só comigo, mas com os demais vereadores, com quem está por trás disso, você vai enxergar tudo. Lá na frente você vai ver os meios que foi [sic] usado para chegar ao fim. Eu não sei de nada, apenas chega com o texto, gravo o vídeo e solto. Quem está por trás disso está vendo o Ismael como um obstáculo. Procure seu pessoal, os vereadores”, diz mais adiante Hélder Moura. Ismael Ferreira pede para o suplente deixá-lo em paz, com sua família e fazendo seu papel de vereador. Daí Hélder Moura fala em pressão e ameaça de morte. “Estou passando minha pressão, com ameaça de morte. Tem essa situação desse grupo, que vão [sic] buscar o prefeito de qualquer jeito. Estão passando por cima de qualquer um. Eu não tenho mais vida pessoal. E acho que vem mais coisa ali na frente”, diz o suplente da Câmara Municipal de Rio Largo. “Hoje eu sou [um pau mandado]. E tudo isso em nome do Gilberto Gonçalves. Não tenho mais vida, a realidade é essa. Eles mandam o texto e leio. Pareço um ator”, reclama Hélder Moura. Contudo, em nenhum momento da conversa, o suplente do vereador Ismael Ferreira dá nome aos bois, mesmo aparentando arrependimento em seu tom de voz. A Tribuna Independente tentou contatar Hélder Moura, mas até o fechamento desta edição não houve sucesso. Já o vereador Ismael Ferreira confirma que seu suplente falou em trama para derrubar Gilberto Gonçalves da Prefeitura de Rio Largo. ACUSAÇÕES As acusações contra o prefeito Gilberto Gonçalves foram de nomear uma filha como secretária com idade inferior ao mínimo exigido em lei; nomear como secretários filhos que seriam sócios-administradores de empresas; e uso de caminhão da Prefeitura para fins particulares. Exclusivo: vereador confirma relato de conluio contra prefeito de Rio Largo À Tribuna, Ismael Ferreira comenta os motivos da conversa gravada com Hélder Moura e garante trazer tudo à tona sem ter sido pressionado por isso. https://youtu.be/mq4n2N2DFD0 “Estou aqui por livre e espontânea vontade. Estou preocupado, acima de tudo, com minha cidade”, garante. “Eu recebi um bombardeamento nas redes sociais. Meu suplente falando que eu tinha desviado diversos materiais da Prefeitura. Foi algo que recebi com muito nojo. Isso foi no dia 2 de julho. No dia seguinte, ele ligou para mim e eu o senti um pouco arrependido daquilo que outrora ele tinha cometido contra minha pessoa. Ele ligou para mim se justificando e mostrando que ele era um pau mandado e que tinha um grupo por trás arquitetando a queda do então prefeito Gilberto Gonçalves”, relata Ismael Ferreira. “Depois da cassação do prefeito Gilberto Gonçalves, a cidade está sangrando, na verdade. Eu tenho andado muito nas ruas e comentário é um só: ruim com ele, pior sem ele”, completa o vereador, que ressalta o fato de que Hélder Moura não citou quem está por trás da trama contra o prefeito recém-afastado. “Em nenhum momento ele fala qual grupo está por trás, só fala que é um pau mandado deste grupo, que este grupo diz o que é para ele fazer, que mostra o texto e ele vai e fala. Ele relata estar sofrendo ameaça de morte. Ele fala que está para atropelar qualquer um, para passar por cima de qualquer um”, diz o parlamentar, único voto contrário à cassação de Gilberto Gonçalves. Segundo ele, seu voto é fruto de consciência e que o prefeito não estava sendo cassado pelas denúncias, mas por seu temperamento. Ainda em sua avaliação, Rio Largo “sangra” após o episódio. “Depois da cassação do prefeito Gilberto Gonçalves, a cidade está sangrando. Tenho andado muito nas ruas e comentário é um só: ruim com ele, pior sem ele”, afirma Ismael Ferreira. “Não fui hostilizado pelo voto, exceto de alguns que fazem parte da oposição, que estão preparando para denegrir minha imagem”, completa. Para defesa, parlamentares podem ter cometido crime em cassação A defesa de Gilberto Gonçalves já iniciou uma série de ações para lhe devolver o mandato de prefeito de Rio Largo. Para seu advogado, Fábio Gomes, caso a trama seja confirmada, os vereadores cometeram crime. https://youtu.be/B0TWN_e0-qQ “A denúncia trás a notícia de um fato gravíssimo. Houve um conluio, um grande acordo envolvendo não só os vereadores, como outras pessoas. O problema, além de ser administrativo na Câmara, que levou à cassação do prefeito Gilberto Gonçalves, se tornou um problema jurídico e também policial”, afirma. “Por que se os vereadores não se comportaram naquele momento como juízes, que são em processos de cassação de mandato, então, os vereadores praticaram alguns crimes”, explica o advogado. Fábio Gomes ainda reafirma que o prefeito Gilberto Gonçalves não cometeu nenhuma irregularidade. “Um ponto importante do processo é que os fatos imputados ao prefeito Gilberto Gonçalves sequer configuram improbidade. Primeiro porque ele não tinha conhecimento – nem autorizou – que um veículo do Município fosse utilizado de forma contrária ao interesse público. E ainda que tivesse autorizado, esse fato por si só, não é suficiente para a cassação do mandato do prefeito”, argumenta o advogado. Ainda de acordo com ele, o fato em si não é suficiente para tirar um prefeito eleito de seu posto. “A cassação da Câmara fere o princípio da proporcionalidade e da razoabilidade. Esse decreto que regulamenta a cassação de prefeito é de 1967 e ele tem de ser interpretado pela Constituição de 1988, que garante a qualquer cidadão a aplicação de sanção proporcional ao ato, em tese, que o individuo tenha praticado”, completa Fábio Gomes. PASSOS A defesa de Gilberto Gonçalves vai acionar o Ministério Público para saber se a denúncia de trama se trata de uma organização criminosa. “Primeiro passo nosso será uma representação criminal ao Ministério Público para que apure quem, de fato, é esse grupo organizado porque se esses delitos foram praticados nós estamos diante de uma organização criminosa”, relata. “Vamos também entrar com ações competentes para anular esse processo por ele ter uma fraude em seu nascedouro, que é uma grande armação política que teria ocorrido no município de Rio Largo entre vereadores e outros interessados”, completa Fábio Gomes. TRIBUTOS Na avaliação do advogado, é possível que a trama para derrubar Gilberto Gonçalves seja resultado da cobrança de impostos atrasados na cidade de Rio Largo. Até sua chegada à Prefeitura, muitos empresários deviam aos cofres públicos sem serem cobrados por isso. “O prefeito, em seu mandato, fez funcionar o setor de tributação do Município e aplicou diversas multas a empresários locais. Estamos nesse campo de investigação e passaremos tudo para o Ministério Público”, resume Fábio Gomes. “E uma das principais testemunhas não tinha sido arrolada aos autos e que, segundo as primeiras notícias, tinha sofrido uma dessas notificações tributárias do Município por ausência de pagamento de impostos”, completa.