Política

Para Banco Mundial, agenda reformista deve continuar com ou sem Temer

Diretor-executivo do banco, Otaviano Canuto, diz que as reuniões feitas pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, primeiro na linha de sucessão presidencial, com agentes do mercado financeiro não são motivos para alarde

Por Brasil 247 18/07/2017 09h16
Para Banco Mundial, agenda reformista deve continuar com ou sem Temer
Reprodução - Foto: Assessoria

O diretor-executivo do Banco Mundial, Otaviano Canuto, disse não acreditar que a agenda reformista no Brasil venha a ser descartada, caso Michel Temer seja afastado em decorrência da denúncia de corrupção passiva no Supremo Tribunal Federal (STF).

"A minha avaliação, a do Banco Mundial e dos mercados é que hoje a agenda de reformas parece segura. Posso dizer que me parece haver uma coalizão de suporte em relação às reformas para protegê-las da volatilidade política", afirmou Canuto ao jornal Valor Econômico. Apesar disso, ele destacou que caso a reforma da Previdência venha a sofrer alterações, contemplando apenas a idade mínima, será necessário fazer um projeto em cerca de três anos.

Para Canuto, as reuniões feitas pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), primeiro na linha de sucessão presidencial, com agentes do mercado financeiro não são motivos para alarde. "Não há motivo para alarde. Não vejo jogo duplo do mercado. É natural que, a partir de informações veiculadas pela imprensa, o mercado se aproxime de Maia para entender o que ele faria caso assumisse a Presidência. Isso não quer dizer que o mercado financeiro deixou de confiar no compromisso de Temer com a agenda de reformas ou que deixou de apoiar o programa de governo dele", ressaltou Canuto.

O executivo também observou que a recuperação da economia só deve acontecer a partir de 2018. "No curto prazo, a conjuntura macroeconômica está dada. A crise parou de se aprofundar. Você tem uma recuperação tímida, mas não quer dizer que a economia vai recuperar, não quer dizer que vá entrar em um novo ciclo de crescimento. Para isso, será necessário ter as reformas para compensar o péssimo ambiente de negócios. Será necessário retomar a confiança de investidores. Isso só será possível com um governo estável, que possa assegurar as regras, o que talvez só aconteça após as eleições de 2018", disse.

"O resultado das eleições será fundamental, a emergência de novas lideranças que não sejam tentadas a construir esses esquemas, o fortalecimento e manutenção de instituições independentes que mantenham um prêmio ao bom comportamento e um castigo ao mau comportamento. Serão etapas. Saímos da crise, do ponto de vista de fundo do poço, com a retomada do emprego e de ajuste de carteiras de endividamento de famílias e de algumas empresas. Paramos de afundar. Agora, para voltar a crescer com fôlego é preciso a retomada de investimentos em infraestrutura, ambiente de negócios melhor e qualidade melhor do gastos de público. O ano de 2018 é um ano intermediário no processo de arrumar a casa, de rever orçamento, despesas obrigatórias. Felizmente, ainda não estamos com a corda no pescoço. Se não for feita a reforma da Previdência, a trajetória de endividamento vira explosiva. Não estamos lá ainda", avalia.

Canuto defendeu, ainda, uma espécie de revisão nas empresas estatais e os resultados da Operação Lava Jato. "O governo, seja esse ou o próximo, precisará rearrumar as estatais. Os benefícios do que já foi feito na Petrobras já apareceram. Há caroços nesse abacate que ainda vão demorar a ser superados. Também precisa haver uma rearrumação das empresas do setor privado envolvidas nesses escândalos. Para que isso aconteça, o Poder Judiciário precisa continua com sua autonomia, o conjunto de regras precisa continuar fortalecido", disse.

"A Lava-Jato só chegou onde chegou por causa dos acordos de colaboração premiada. Tudo teria parado se não fosse o incentivo a isso. A partir daí que o novelo foi desfiado, em camadas: pegaram funcionários da estatal, CEOs das empresas eram espremidos e chegaram aos políticos envolvidos. A Lava-Jato não vai retroceder. O que ainda precisamos ver é a natureza das consequências", completou.